"O que é o tempo, afinal ? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se me perguntam e eu quero explicar: já não sei."
Santo Agostinho
Em uma resposta simples e breve "o tempo é aquilo que nos faz perceber a diferença entre o antes, o agora e o depois". Todos os animais sentem algum efeito da passagem do tempo, mesmo que apenas a mudança do claro para o escuro, do dia e da noite. A experiência do tempo é vivida por todos os seres humanos e se configura em algo penetrante, íntimo e imediato.
A percepção do tempo é curiosa. Percebemos o mundo com nossos sentidos, mas não podemos ver, ouvir, tocar, cheirar ou mesmo experimentar o tempo. A sensação da sua passagem parece ser bem `elástica', dependendo das circunstâncias sob as quais cada indivíduo está submetido. Quando nos divertimos, percebemos o tempo de forma diferente de quando desempenhamos uma tarefa desagradável.
Filósofos e cientistas debatem há séculos sobre o que é o tempo, e alguns chegaram a afirmar que o tempo não existe de fato. Seria o tempo uma construção puramente humana? Talvez não, uma vez que ele se encontra fora de nós, seja nos registros dos fósseis, das rochas, dos planetas ou das estrelas.
*Em 1968, o artista plástico Roman Opalka (1931-2011) passou a se fotografar todos os dias, em formato passaporte, a fim de registrar os efeitos da passagem do tempo no seu próprio rosto. Vemos nas imagens laterais uma amostra da sequência dessas fotografias.
Seria o tempo algo tão regular quanto o tic-tac de um relógio?
O relógio concebido como um instrumento de medida, funcionando corretamente, não mede uma hora maior que outra. O tempo que medimos, no nosso dia a dia, é um tempo absoluto, porque existe independente da matéria ou do espaço. Ele flui de forma livre, sem relação com qualquer elemento externo e não passa ‘mais rápido’ ou ‘mais devagar’, é sempre regular e uniforme.
Segundo a Teoria da Relatividade de Einstein, tempo e espaço se combinam para formar o chamado espaço-tempo. Nessa concepção o espaço-tempo não é plano, mas curvo, ou ‘distorcido’ pela existência de matéria e energia. Isso significa que alguém que se move pelo espaço-tempo vai experimentá-lo diferentemente em pontos diversos. Por exemplo, o tempo passará de forma mais lenta na proximidade de corpos muito compactos, como uma estrela anã branca ou urna estrela de nêutrons. Nos limites da Terra essa diferença de massa ou velocidade é tão pequena que o tempo pode ser considerado como absoluto.
O tempo é uma dimensão?
O tempo pode ser tratado como unia quarta dimensão. O espaço que conhecemos é formado por três dimensões, mas para se descrever um acontecimento precisamos de uma quarta dimensão, que nos informa quando ocorreu tal evento.
Cronos, o deus do tempo na mitologia grega (Saturno para os romanos). Escultura de Franz Ignaz Gunther, século 18
O tempo é linear?
O tempo linear é uma sucessão contínua de eventos que não retornam. Sua trajetória é descrita por uma reta que vai sempre na mesma direção. Mas, observando os ciclos da natureza, os antigos gregos propuseram que o tempo seria um circulo e não uma linha. Considerando essa forma de se compreender o tempo, ele é uma constante repetição de eventos causada pelo seu movimento circular contínuo.
Ao longo de toda nossa existência, uma grande variedade de ‘relógios naturais’ foi explorada e descrita para entender os ritmos da vicia, a história cia Terra e do Universo. Na multiplicidade de fenômenos que podem evidenciar a passagem do tempo, há aqueles facilmente perceptíveis, como o nascer e o pôr do Sol, e que desde sempre puderam ser empregados como reguladores de tempo. Entretanto, as alterações sofridas pelas rochas terrestres ou pelas estrelas são processos muito lentos e por isso imperceptíveis ao longo de uma vida humana.
O mundo é repleto de ‘marcadores de tempo’ naturais, que regulam o comportamento de tudo, desde plantas e animais a planetas e estrelas. Há relógios no céu e na Terra, no gelo polar, nas montanhas e no nosso corpo; tudo o que temos que fazer é procurá-los.
Gravado no gelo
As camadas de gelo servem como uma linha do tempo na história climática da Tem registrando erupções vulcânicas antigas, assim como a radiação liberada pelas recentes explosões das bombas nucleares.
O detalhe abaixo de uma coluna na horizontal mostra camadas que indicam a alternância entre verão e inverno, por vários anos.