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Em 1985, quando Castro Faria aposentou-se no Museu Nacional, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), da qual ele fora o primeiro presidente, através da sua revista, o Anuário Antropológico (n. 83, 1985), prestou-lhe uma homenagem, reunindo depoimentos de alguns daqueles que com ele ali conviveram.

Roberto Cardoso de Oliveira (1985)

"Os depoimentos enfeixados nesta simples homenagem que lhe fazemos, por ocasião de sua aposentadoria no Museu Nacional, são bem uma mostra das diferentes dimensões da atuação de Castro Faria, quer como pesquisador e professor, quer como administrador e grande incentivador dos estudos arqueológicos, etnológicos e lingüísticos em nosso país."

"Nossa convivência no Museu Nacional durou quatorze anos, durante os quais o vi ascender ao posto de Diretor do Museu, realizar uma profícua administração e deixar o cargo com o alívio de quem melhor se sentia nas lides docentes do que nas administrativas. Nesse sentido, seja dito e proclamado que Castro Faria foi sempre um exemplo de desapego a cargos, jamais confundindo sua carreira de scholar com a fugacidade de postos de direção."

Maria da Conceição Beltrão (1985)

"Pertenceu ao grupo de cientistas, contratado no início da carreira, como Naturalista. Sua visão antropológica é, portanto, muito mais abrangente do que a dos especialistas de hoje. Os exemplos dessa a sua atuação englobam várias publicações versando sobre etnologia, antropologia biológica, antropologia social, arqueologia, etc."

"As escavações que realizou no Sambaqui da Cabeçuda, em Santa Catarina, confirmaram inteiramente as conclusões dos geólogos e geomorfólogos tais como Leonardo Bigarella e Teixeira Guerra, que negavam categoricamente a origem natural desses sítios arqueológicos."

"Com aguda percepção afirmou que "o grande número de fogueiras, perfeitamente caracterizadas, não admitia nenhuma dúvida quanto à utilização desses sítios como lugares de acampamento prolongado. Tudo leva a crer que as populações indígenas de economia sustentada pela coleta de moluscos, pela pesca e pela caça ocuparam esses locais durante séculos, de maneira periódica e regular, e que, com efeito, o testemunho residual de sua economia e de seus restos alimentares."

"Continua absolutamente atual sua análise, em 1952, do caráter de complementação de sítios pré-históricos, em diferentes zonas ecológicas, exploradas sazonalmente, por deslocamentos de grupos de pessoas."

"No balanço dos "Dez anos após a I Reunião de Antropologia", datado de 1963, já enfatizava "a necessidade de uma boa fundamentação ecológica para os estudos arqueológicos que estavam sendo desenvolvidos no Brasil e ainda a conveniência de identificar evidências tecnológicas de adaptação de certas culturas e formas particulares de ambiente e sistemas econômicos altamente especializados". Em suma, propunha-se a diagnosticar a estratégia ecológica utilizada pelos grupos pré-históricos."

"Outra linha de pesquisa de caráter morfológico-comparativo sugerida na ocasião pelo Prof. Castro Faria, consistia em estudar com minúcia e de maneira sistemática todo o equipamento para pesca, caça, agricultura, preparo e conservação de alimento das coleções etnográficas".

"Apesar de toda essa visão prospectiva de 1963 é nas atividades de orientação de alunos que considero o Prof. Castro insuperável. Na verdade, no meu entender, o melhor professor é aquele que leva o aluno a responder positivamente a seus desafios científicos. E a Antropologia Brasileira está repleta de contribuições importantes nascidas da instigação desafiadora do Mestre. E isto não consta do seu currículo ..."

Alicida Rita Ramos (1985)

"Nos fins da década de 50 eu era uma universitária à procura de uma vocação. Entrei na Faculdade Fluminense de Filosofia, na época uma escola particular, havendo optado por Geografia que, das disciplinas que conhecia era, a meus olhos, a mais atraente."

"Durante o primeiro semestre de 1957 fui exposta pela primeira vez à Antropologia, Era uma Antropologia precária e ingênua, conduzida pela inexperiência da assistente do catedrático, que então viajava pela Europa. O catedrático era o Professor Luiz de Castro Faria."

"Sua ausência despertou uma razoável dose de curiosidade e expectativa, que só foram aplacadas no segundo semestre daquele ano. A figura tão esperada finalmente materializou-se, com seu cachimbo aromático, sua elegância urbana e um semblante de quem, definitivamente, "não dava colher de chá para aluno". Firme sem ser intransigente, logo impôs à turma de alunos um novo padrão de trabalho, liberando-os de uma prática maçante de mera estocagem de informações aleatórias e induzindo-os, enfim, a pensar. A partir daí, estavam abertas para mim as portas da Antropologia."

"Em fins de 1959, iniciei um estágio no Museu Nacional, onde Castro Faria exercia as funções de 'Naturalista" e de Diretor da Divisão de Antropologia. Terminada a Faculdade, continuei a estudar no Museu até ir para os Estados Unidos como bolsista, ainda graças aos contatos do Prof. Castro. Mas enquanto nós, neófitos, desvendávamos novos mundo teóricos vindos do norte pelos caminhos do estruturalismo, também ouvíamos, através da erudição apaixonada de Castro Faria, a advertência de que a Antropologia no Brasil não nascera ontem e que, afinal, santo de casa também pode fazer milagres."

"Encontrada, afinal, a minha vocação, registro aqui o que nunca tive a oportunidade ou a desinibição para dizer a viva voz, que essa vocação me foi primeiro revelada pela via de encorajamento, da seriedade profissional e da integridade ética de Luiz de Castro Faria. Com eu, outros vislumbraram a Antropologia por sua influência. Aparentemente sem intencionalidade, ele transmite, como que por contágio, aquela centelha que todo antropólogo por vocação reconhece – a eterna ânsia de desvendar o Outro."

Yonne Leite (1985)

"Em 1963, na conferência pronunciada na VI Reunião Brasileira de Antropologia, ao avaliar o desenvolvimento das diversas áreas da Antropologia no Brasil diz Luiz de Castro Faria sobre a Lingüística: "Talvez em nenhum outro setor se possa identificar com tanta segurança os marcos que assinalam a progresso realizado nesse decênio".

De 1963 a 1983 muita coisa mudou na Universidade brasileira e conseqüentemente no Museu Nacional. ...

De qualquer modo, um diálogo mais profícuo entre lingüistas e antropólogos em nosso meio só poderá se estabelecer no momento em que um passe a conhecer melhor o outro, e procure saber a natureza de suas perguntas. E esse foi o empenho de Luiz de Castro Faria, ao dar uma forma ao Setor de Lingüística e ao convidar sistematicamente lingüistas para fazerem palestras em seus cursos."

Afrânio Garcia, Heloisa M. Bertol Domingues, Gustavo Sora, José Sergio Leite Lopes (2006, Homenagem prestada durante a 25ª Reunião Brasileira de Antropologia).

"Os viajantes na Grécia antiga temiam ser confrontados à figura da Esfinge que propunha enigmas a serem decifrados, acompanhados de uma sanção: -"Decifra-me ou te devoro". Os alunos de Castro Faria, e não poucos dos seus colegas, sempre se perguntaram como tamanha erudição, generosamente distribuída de maneira direta e simples, dava lugar a manifestações de ira sagrada cujas mesas do Museu guardam sonora lembrança.

Castro Faria era a unidade de contrários em forma de intelectual, pois algo compartilhava com os epistemólogos que adoram falar de dialética. Ao evocar tudo que ressoa em nossos mundos interiores gostaríamos de propor algumas questões que nos suscitam a dualidade do título de nossa comunicação ..., tópicos ligados à relevância de seu itinerário intelectual e à pertinência dos seus ensinamentos para abrir os horizontes da prática de pesquisa em antropologia e da reflexão teórica capaz de a fundamentar.

I - Antropologia e seleção das espécies: gênese de uma disciplina dentro de um Museu de História Natural

Luiz de Castro Faria diferiu dos seus colegas do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) e de seus alunos por ser antropólogo socializado e com largo trato de pesquisa empírica nos campos da arqueologia, da antropologia física, da antropologia cultural e portador ainda de conhecimentos em lingüística. A professora Marilia Alvim relembrava com freqüência, nos anos 70, que Castro Faria "era nosso único Franz Boas". Mais do que ninguém, Luiz de Castro Faria vivenciou a passagem do termo antropologia, como campo de conhecimento científico constituído pelas 4 setores da divisão de antropologia, anteriormente citados, para a hegemonia da antropologia social, salientada no título oficial do PPGAS.

A fundação da Associação Brasileira de Antropologia, ABA, realizada nas instalações do Museu Nacional, em 1953, foi o melhor marco estratigráfico dos significados objetivos ou, para citar Durkheim e Mauss, das representações coletivas "associadas a esse domínio do saber". É constatável que desde a virada do século XIX para o XX tal domínio era terreno privilegiado de carreiras de antigos estudantes de medicina pois "antropologia" fazia parte do projeto de uma história natural ao lado da geologia, da zoologia e da botânica. É preciso revisitar toda a complexa história política e intelectual dos anos 1950 a 1970, no Brasil, para compreender a mutação de identidade do antropólogo, onde a criação do PPGAS foi um momento decisivo, domínio do saber que se aproximou das "ciências humanas" e das "ciências sociais", verificável na formação escolar dos novos praticantes, egressos sobretudo de cursos de sociologia, história, filosofia, economia e psicologia.

Luiz de Castro Faria não entrou em pânico com o fim da "era dos dinossauros": reconverteu-se para a pesquisa especializada em antropologia social problematizando as classificações de nossas instituições universitárias e científicas, questionando a pertinência de nossas categorias mentais de entendimento das práticas profissionais. O prazer patente dos cursos ministrados no PPGAS sobre "História do Pensamento Social Brasileiro" nada teve a ver com uma vaga nostalgia; foram cursos concebidos e praticados como maneiras de investigar e repensar a estranha evolução das disciplinas, dos perfis das instituições universitárias, das identidades intelectuais e dos esquemas cognitivos que dão inteligibilidade ao mundo que nos cerca. Nunca se colocou na posição de demiurgo que pretende impor um só caminho para traçar a rota do mundo social. Por experiência própria, sofrida, meditada, sabia que as mutações do mundo intelectual jamais foram frutos apenas de debates de idéias, menos ainda da livre elaboração de uma comunidade intelectual coesa, qualquer que seja ela. Nada em seu discurso remetia a um que pode parir um novo sistema de inteligibilidade do mundo. Novos sistemas simbólicos estão sempre ligados a transformações de processos sociais. A materialidade das formas de pensar está ancorada na materialidade das relações sociais que exigem o pensar. Em Castro Faria o debate teórico fluía simples como todo o bom discurso em mangas de camisa.

Não pensem os colegas que ao usar a palavra evolução deixamos transparecer que os antigos paradigmas simplificadores dos processos de seleção das espécies sobreviveriam em seus comportamentos. Castro Faria sempre se insurgiu contra a identificação entre evolução - seqüência orientada de mudanças de configurações - e evolucionismo, ideologia científica vinda do hábito de explicar o antecedente pelo conseqüente, ou vice-versa. A permanência de configurações simbólicas ou de sistemas sociais não pode ser aceita a priori, postulada, como numa versão algo difundida do pensamento estruturalista; mudança ou permanência tem que ser sempre objetos de indagação, de tentativa de explicação e a opção por uma ou outra tem que ser sempre justificada por uma demonstração.

Raros foram aqueles que tematizaram os usos do termo antropologia no Brasil e no mundo como Luiz de Castro Faria, observando atentamente os embates que aí se travavam, buscando compreender os marcos e os horizontes da própria disciplina, seu acervo de conhecimentos acumulados, seus instrumentos. Este convite para "escavar nossas próprias cabeças", por vezes desencadeava o transe da ira sagrada de Júpiter. Nem as araras podiam competir com os brados ritmados por murros na mesa.

Marcos de uma trajetória

Castro Faria teve por rito de iniciação uma das expedições mais célebres da antropologia do século XX: a expedição à Serra do Norte, chefiada por Claude Levi-Strauss e celebrizada em Tristes Trópicos, de 1955. Não deve ter sido sem um certo sabor amargo que vivenciou ser tratado apenas como um fiscal, quando fora nomeado por Heloisa Alberto Torres como representante do Museu Nacional, para que fosse formado na prática, aos ossos do ofício de etnólogo.

Só 60 anos mais tarde aceitaria abrir a caixinha com toda a documentação que produzira naquela ocasião, que, entre outras preciosidades, revelava o itinerário e o calendário precisos de todo o trabalho efetuado; só assim ficamos sabendo que o roteiro seguiu exatamente as mesmas pegadas de Roquette Pinto, em 1912, acompanhando uma das expedições de Rondon e seguindo o traçado idealizado por Euclides da Cunha. A expedição Levi-Strauss poderia ser tanto referida ao imaginário concebido por André Thevet e Jean de Lery, fundamental para a formação da identidade nacional da França como potência ultra-marina, quanto mergulhada no mito euclidiano do renascimento do Brasil através da valorização dos sertões.

Talvez o traumatismo do início do aprendizado do segredos do ofício tenha sido um dos fatores que contribuíram para que Luiz de Castro Faria nunca hesitasse em retomar os próprios pressupostos de sua carreira intelectual. É verdade que as incompreensões e os mal entendidos dessa primeira experiência não diminuíram em nada o enorme apetite pelo trabalho de campo, como se pode depreender das inúmeras excursões por diversos estados brasileiros nas duas décadas seguintes (anos 40 e 50).

Note-se que todo o trabalho de campo feito até hoje por docente pesquisador do PPGAS, como em todos os outros departamentos do Museu Nacional, adquire sua forma legal sob a forma de uma portaria de excursão. O "field work" tão prestigiado desde os anos 50, se inscrevia numa antiga tradição da prática da história natural. Por isso mesmo, Castro Faria demonstrou uma visão bastante crítica quando a moda do "field work" foi apontada como uma espécie de panacéia para resolver todos os problemas práticos e teóricos da antropologia. Em um de seus escritos de 1953-54 chegava a tratar o "field work", como uma falácia, pois se trabalho de campo podia ser percebido como o caminho que pode levar à solução de quase todos os problemas , à compreensão de quase todos os elementos das estruturas sociais, e da própria essência do fato cultural, por isso mesmo exige rigorosa preparação. Sendo um método que se pressupõe capaz de proporcionar soluções adequadas de problemas específicos, o seu emprego exige uma lúcida compreensão desses mesmos problemas.

Castro Faria sempre se opôs à demissão da reflexão teórica diante do trabalho empírico. Cabe constatar que infelizmente muitos de seus cadernos de campo não chegaram a se traduzir em monografias, ficando muitas de suas análises apenas no formato de relatórios. Talvez o rigor que cobrava de seus alunos fosse inferior às exigências que imputava a si mesmo, o que o levou a postergar tarefas de publicação.

O apreço pelo trabalho de campo bem feito só tinha equivalente no deleite com as leituras teóricas que permitiam a renovação das formas de pensar. O percurso intelectual e social de Luiz de Castro Faria seguramente informou suas leituras e afinidades científicas, mas o tornou suficientemente cético para descrer da eficácia de contemplar o próprio umbigo resenhando a teoria, se Moacir Palmeira não se aborrecer do plágio de sua imagem.

As ementas de seus cursos, particularmente os de História do Pensamento Social, constituem ainda hoje roteiros de estudo e de pesquisa a serem realizadas. Elas mostram o esforço para se buscar entender as continuidades e as descontinuidades, no tempo e no espaço, das formas de pensar. Os cursos visavam estabelecer retrospectivamente como e em que direção se alteraram as categorias de percepção do nosso mundo, como entender a participação de diferentes agentes neste processo (escritores, editores, críticos, livreiros, leitores, etc.) e os instrumentos forjados para obter um novo conhecimento. É interessante notar que os períodos analisados se concentraram entre os anos de 1870 a 1930, com algumas incursões nos anos 1940, correspondem assim aos escritores que pesaram na formação intelectual de Luiz de Castro Faria e revelam como os cursos tinham a função de repensar seus próprios pressupostos.

Nada é mais revelador da eterna disposição de Castro Faria de re-elaborar suas próprias concepções do que o seu último livro, sobre Oliveira Vianna, publicado em 2002. Seus arquivos mostram que em 1951, quando da morte de Oliveira Vianna, seu nome figurava entre os discípulos que poderiam dar continuidade ao pensamento do sociólogo fluminense. É observável em sua docência no PPGAS, que cada vez mais se distanciou da condição de discípulo e tornou-se crítico, tanto dos sacerdotes do "culto desta personalidade" quanto dos pares que fizeram, da condição de seus detratores, um fundo de comércio para a auto-consagração. Luiz de Castro Faria lembrava em seus seminários, que para a maior parte dos autores, seguramente para Oliveira Vianna, nem se tratava de releitura, nem de reavaliação: apenas fazer uso de um olhar atento para ler todas as marcas já presentes em cada publicação. Nada de se ler nas entrelinhas, mas de ler as linhas, e a partir das informações objetivas que essa prática permite, relacionar esses dados com o conjunto de outras informações que podem ser obtidas por todas as outras formas de registros objetivados, como arquivos ou estatísticas. Castro foi seguramente um grande leitor e obrigava os que conviveram com ele a terem sempre em mente que pro trás de qualquer escritor há muitos anos de prática de leitor.

O legado de um antropólogo militante

Castro estimulava que as pessoas fizessem um trabalho que tinha a ver com ele mas que tivessem pontos de partida muito diferentes dos dele. Cremos que os seus seminários propunham instrumentos para cada qual pensar com a própria cabeça, buscando na mensagem escrita e nos debates contrapontos e complementos à experiência pregressa de cada um. Sempre se manteve a anos luz de qualquer molde único ou figurino. Com argúcia e sabedoria distinguiu na dedicatória do seu último livro ex-aluno de discípulo, explicitando que -"cada qual sabiamente escolheu o seu próprio caminho. Orgulho-me disso."

O PROFESSOR EMÉRITO

Vou abrir essa toada
Cantando com alegria
A vida do professor
Luiz de Castro Faria
Um pensador incansável
De nossa antropologia

Mil novecentos e treze
Em São João da Barra nasceu
Foi aluno do São Bento
E um diploma mereceu
Depois na Praia Vermelha
Num concurso se inscreveu

Edgar Roquette-Pinto
Foi quem fez a arguição
Podia ter dado zero
Pela resposta à questão
Sobre o que não estava escrito
Na prova de seleção

Assim que Castro Faria
Muito bem se defendeu
Roquette-Pinto gostou
E um dez logo concedeu
Aprovando sua entrada
Para estágio no Museu

Museu Nacional que fora
Imperial moradia
Na Quinta da Boa Vista
Área de Antropologia
Heloisa Alberto Torres
Era quem lhe dirigia

Foi então que em 37
Partiu para a expedição
De Claude Lévi-Strauss
Por estradas do sertão
Chegando à Serra do Norte
No meio da imensidão

Cruzaram de todo jeito
Floresta, cerrado e rio
Seringal, garimpo, aldeia
Nessa viagem febril
Nambiquaras e tupis
Encontraram no Brasil

Faz Castro etnografia
Da habitação popular
Do embarque em pescaria
E da vida em alto mar
Dos mercados na Bahia
E cerâmica karajó

Fez Castro arqueologia
Explorando nas areias
Das praias catarinenses
Os vestígios das aldeias
Nas jazidas de Laguna
De sambaquis sempre cheias

Pensando Euclides da Cunha
Um sertanejo valente
Seu cérebro sobre a mesa
Do professor nunca mente
Que é conhecedor profundo
Do que pensava essa gente

De Oliveira Viana
Obra e metodologia
De Edgar Roquette-Pinto
A nacional pedagogia
E de Augusto dos Anjos
As moneras da poesia

Foi a Cambridge, Inglaterra
E Musée de l.Homme em Paris
Lá na França foi bolsista
Da Unesco mas não quis
Curvar-se ao colonialismo
Cultural desse país

Voltou e em 53
Participou da primeira
Reunião dos antropólogos
Da nação brasileira
Com Heloisa, Egon Schaden,
Bastide e Oracy Nogueira

Baldus, Thales de Azevedo,
Galvão e Darcy Ribeiro,
Bastos d.ávila, Altenfelder,
Renó e Édison Carneiro
Cardoso e Mattoso Câmara
Zés Bonifácio e Loureiro

Depois disso, eles fundaram
A Associação Brasileira
De Antropologia, a ABA,
Na qual ocupou primeira
Gestão o professor Castro
Orgulho em sua carreira

Foi diretor do Museu
Escute você agora
Castro foi quem fez o laudo
Que pedia sem demora
O enterro das cabeças
De Lampião e senhora

Professor da Fluminense
Ó mentor à revelia
Da Escola Galo-
Fluminense de Antropologia
Onde o índio Araribóia
Teve a sua sesmaria

Da etnologia até
O estudo regional
O Brasil da teoria
E pensamento social
O emérito professor
Sabe ensinar sem igual

Casado com a prima Elza
Também da terra campista
Ambos contrariam o adágio.
Nem a prazo nem a vista.
Tanto a vista quanto a prazo
Castro ó grande cientista

Luiz de Castro Faria
Não é homem que se esqueça
O seu pensamento vivo
Todo dia recomeda
Castro é oito e oitenta
E deu tigre na cabeça

Seu aluno,

Felipe Berocan Veiga,
05.jul.2001.