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Laboratório desenvolve técnicas pioneiras de restauração de objetos históricos metálicos


Em 2010, o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) inaugurou o Laboratório de Conservação de Objetos Metálicos (LAMET), o primeiro da América Latina especializado em conservação de instrumentos científicos históricos. Além de responsável pela preservação do acervo do Museu, composto por mais de 2000 objetos relacionados à ciência e tecnologia, o LAMET realiza trabalhos pioneiros no Brasil de restauração, digitalização em três dimensões e de conservação de peças encontradas em escavações arqueológicas, como moedas, brincos e botões.

“Quando, por exemplo, um arqueólogo retira um objeto metálico há décadas enterrado no solo, de um local onde havia um equilíbrio com o ambiente que o mantinha em certa estabilidade, existe a possibilidade do processo de deterioração ser acelerado drasticamente. Com a mudança brusca, algumas horas podem ser o suficiente para a perda total de determinadas peças”, explica Marcus Granato, chefe da Coordenação de Museologia do MAST e responsável pelo LAMET. Em uma iniciativa inédita no País, o laboratório desenvolve pesquisas para determinar a implantação e a divulgação de procedimentos de conservação adequados para esse tipo de objetos. O projeto é realizado em parceria com o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), a Escola de Engenharia Metalúrgica (PUC-Rio), o Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) e o Laboratório de Instrumentação Nuclear da COPPE/UFRJ.

Outra iniciativa pioneira do LAMET é no campo da digitalização em três dimensões de objetos históricos. Em conjunto com o Laboratório de Computação Gráfica da COPPE/UFRJ e pesquisadores do Visual Computing Lab da Itália, o Museu desenvolve no Brasil tecnologias de modelagem e digitalização que são complementares à tarefa de restauro. A técnica é especialmente interessante para a o trabalho com instrumentos científicos, pois viabiliza não só a digitalização dos aspectos geométricos formais, mas também a reprodução do funcionamento das peças. Um bom exemplo foi o projeto de cooperação internacional liderado pelo Ministério da Cultura da Grécia, com apoio financeiro das maiores empresas de alta-tecnologia no mundo, de digitalização e compreensão do mecanismo de Antikythera, dispositivo de medição astronômica datado por volta do século 2 AC. Devido à fragilidade dos componentes, o desmonte não era uma opção. Em 2005, a tecnologia de digitalização permitiu a obtenção de imagens do interior do objeto e revelou, cerca de cem anos após a descoberta, ocorrida em 1901, o alto grau de complexidade da peça, que continha mais de trinta engrenagens diferentes. O primeiro modelo de instrumento científico digitalizado em 3D no Brasil será a Luneta Meridiana Bamberg, objeto do acervo do MAST que permite medir tanto a altura quanto a hora em que um astro culmina. Atualmente, a peça se encontra em processo de restauração no LAMET. “A primeira réplica já está pronta e documenta o objeto antes do restauro. Quando o instrumento estiver restaurado, será digitalizado novamente e as duas rápilicas serão disponibilizadas ao público”, revela Marcus.

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o acervo do MAST foi em grande parte utilizado no Brasil em importantes serviços e pesquisas, como a demarcação das fronteiras nacionais e a determinação da hora oficial. As peças mais antigas remontam ao século XVIII e muitas delas são de metal, como telescópios, teodolitos, círculos meridianos e relógios de precisão. Em uma rotina de preservação, a cada dois anos, o LAMET completa o ciclo de higienização da coleção. Durante esse processo, é feito o diagnóstico para avaliar a necessidade de restauração de algum objeto.

A criação do Laboratório é em grande medida resultado de um trabalho realizado em 1999, quando uma equipe liderada por Marcus Granato enfrentou o desafio de restaurar um dos principais objetos sob a guarda do Museu: a Luneta Equatorial de 32cm. Instalado em 1921, o instrumento e todo o complexo que o abrigava encontravam-se em um dramático estado de conservação. O sistema de lentes objetivas apresentava focos de fungos nas suas superfícies, os eixos de comando estavam com folga e a corrosão era intensa em praticamente todo o objeto. Esses são apenas alguns aspectos que levaram o Museu a decidir pela restauração. De agosto de 1999 a dezembro de 2000, todo o pavilhão da luneta passou por minuciosos reparos e, após um período de testes, foi reinaugurado em novembro de 2001. Outro destaque entre os objetos restaurados pelo MAST é o Círculo Meridiano de Gautier, um instrumento de grande porte da coleção do Museu. A situação era de alto risco de perda total, mas, após um extenso trabalho de pesquisa e levantamento das peças e suas funções, iniciado em 2003, foi reaberto ao público em 2009. O círculo meridiano é um tipo de telescópio projetado especialmente para determinar, com alta precisão, a posição de estrelas.

Rodrigo Monteiro (Serviço de Comunicação Social e Atendimento ao Público)

Email : rodrigomonteiro@mast.br · Telefone : (21) 3514-5208 (21) 98121-5196