Aesculum hippocastanum Linneo, Heptandria Monogynia, Hippocastanum vulgare Tournefort, Família das acerineas
Caracteres Botânicos. Cálice de uma folha com cinco dentinhos, bojudo. Corola de cinco petalos, colorida desigualmente, e inserida no cálice. Cápsula de três lugares com sete folhas.
História Natural. O Castanheiro da Índia é vulgar nos arredores das grandes cidades do Império, nos passeios públicos e particulares de algumas chácaras, é árvore que se acomoda a todos os climas, desde a Suécia até o sul das Américas. O tronco é muito alto e na parte superior abastecido de ramos, copado, coberto de uma casca espessa e parda. As folhas são digitais, compostas comumente de sete lobos espaçosos, compridos, ovais, as vessas, serrada, acosteladas, de uma cor verde desmaiada. Pecíolo comprido, situado no centro. Flores terminais em espigas, grandes, cônicas, de uma linda aparência. Cálice tubuloso, dividido no lábio em cinco segmentos curtos e embotados. Corola de cinco pétalos, arredondados, estendidos, ondeados em circunferência, inseridos no cálice por unhas estreitas e de cor branca, delicada, ou subida, betados irregularmente de vermelho e amarelo, com sete filamentos; estigma e anteras apontados; ovário redondo, estilete curto, cápsula redonda, áspera, carnosa, ouriçada com três portadas; duas sementes compridas.( Frei Velloso, Flora Allográphica, p.219 ).
Análise Química. A análise química das diversas partes do Castanheiro da Índia foi obra do Vauquelin. Eis o seu trabalho copiado do Annais de Chimica (t.72 e 73, p.209 ). “A casca escamosa dos gomos contém um óleo de cheiro rançoso, clorofilo, resina de cor escura, tanino, um princípio denegrido amargoso, pouco açúcar, mucilagem e fibra lenhosa. Os gomos encerram uma resina mole, tanino, parte livre, parte combinada com ácido gálico, matéria vegetoanimal, fibra lenhosa, acetato de potassa, fosfato de cal. As folhas recente deram cera, clorofila, tanino, princípio amargo, matéria vegetoanimal, fibra lenhosa. Os estames deram resina mole, vermelha, amarga, matéria de sabor açucarado, mucilagem, fibra lenhosa. As raízes recentes são compostas de uma resina de sabor acre, tanino, mucilagem, fibra lenhosa, amoníaco, ferro, ácido hidroclórico e nada de amido. O interior do fruto encerra um princípio amargo, tanino, fibra lenhosa, ácido livre e alguns sais de cal. O exterior contém tanino, clorofilo, princípio amargoso e sais. Zanichelli pensou encontrar analogia de composição entre a casca do Nogueira da Índia e a da Quina, porém o Sr. Henry tem mostrado que não havia nenhuma semelhança. Mr. Planche tem feito igualmente a análise da Nogueira da Índia (Bulletim de Pharmacie, t.1). Ultimamente, Mr. Pelletier e Caventou acharam na casca do Castanheiro da Índia uma matéria avermelhada adstringente, um óleo esverdeado, uma matéria colorante amarela, um ácido, goma, lenho e nada de álcali nem amido. O exame do suco de uma Castanheiro velha acha-se nos escritos de John (t.VI, p.18). O suco tendo ficado seco sobre a casca tem semelhança com o giz. Analisado, deu sal de magnésio, tanino, goma, vestígios de matéria extrativa, carbonato e acetato de potassa, fosfato e hidroclorato de potassa, carbonato de cal, fosfato de cal, vestígios de dióxido de ferro, carbonato de magnésia, silício e água. A incineração das diversas partes do Castanheiro da Índia fornece grande porção de carbonato e do fosfato de potassa, carbonato e fosfato de cal, silícia e óxido de ferro (Vauquelin). As cinzas abundam em sais de potassa a tal ponto que, por ocasião da primeira Revolução Francesa, valeram-se do seu álcali em lugar do salitre que então faltava. O Frei Velloso recorda que, segundo o que diz a Biblioteca Physica e Econômica, t.1 “ Tomam-se e deixam-se secar os frutos do Castanheiro da Índia, e depois de se lhes tirar a casca vermelha, se fazem pós. Desfaz-se este pó em água, e fica tão própria às ensaboaduras como o próprio sabão. Esta simples operação limpa o linho tão bem como o sabão. Tem as propriedades de alvejar o linho, desengordurar os panos, de lixiviar o cânhamo, e fazer excelentes cinzas para a lixivia. Faz-se uma excelente massa com os frutos para limpar as mãos e os pés. Para isto se pelam, secam e pisam em um gral, e se coam em peneira fina. Lançando-se água, num instante fica esta saponácea doce e branca como o leite. O uso deste pó é saudável e dá lustre à pele.”
Propriedades. Em 1720, o presidente Bon leu na Academia Real das Ciências de Paris uma nota acerca da propriedade antiga da casca do Castanheiro da Índia. Em Veneza, no ano de 1733, Zanichelli, farmacêutico, asseverou as virtudes antifebris da mesma. Vários médicos, Sabarot Cusson etc, em 1777, confirmam as vantagens obtidas pelo emprego da casca da Nogueira da Índia, contra as pirexias intermitentes. Todavia, logo saíram em campo contra semelhante asserção médicos afamados e, deste número, o Desbois e Hufeland. No ano de 18** a carestia da quina que se fazia sentir na Europa, seu exagerado preço fez com que o Ministro do império em França convidasse a Escola de Medicina de Paris e a corporação médica em geral para o exame da casca da Nogueira da Índia, com o fim de obter dela um remédio que sucedesse a quina. Ranque d´Orleans, Lacroix, médicos de la *, enumeraram casos de cura com a casca em pós, dando três a quatro oitavas por dia. Porém, os médicos militares, o Dr. Gasc em Berlim, o professor Bourdier na Clínica dos hospitais de Paris combateram as virtudes antifebris da dita casca. Esta, reduzida em pó, dá-se na dose de três oitavas, de meia onça e mesmo de uma onça por dia. Mr. Bourges fez tomar até a dose de trinta onças sem inconveniente ao mesmo enfermo, o qual não foi curado. Os pós causam uma sensação de peso dentro do estômago, a resfriação do ventre, ou bem a diarreia, assim como o determina a quina, todavia a ação hipostenizante vascular dos amargos, classe a que pertence a Nogueira ou sua casca para melhor dizer, é muito lenta mas duradoura. Por tal motivo, acreditamos que a casca não pode substituir inteiramente a quina e muito menos o sulfato de quinina, mas pode, em certos casos, firmar o curativo, obrando como substância amarga. Administra-se a casca em cozimento, dá-se em extrato e pílulas. Alphonse Leroy fez do extrato a base da sua quina artificial. Pode-se assegurar que só os pós frescos da casca são capazes de atalhar o movimento febril enquanto não for intenso, e que os mesmos podem servir para substituir a quina em pós nos casos de feridas podres ou gangrenas. As sementes do Castanheiro da Índia são de sabor desagradável e encerram uma boa porção de fécula, combinada com um princípio amargoso, solúvel igualmente dentro da água e do álcool. Mr Guilbert, tem conseguido tirar todo o amargor da fécula, fazendo macerar os pós da semente em uma água ligeiramente alcalina. A parte amilácea que abunda nos frutos não tem tido até agora nenhuma aplicação senão para alimentar os animais domesticados, porém ainda não se pode alistá-la na classe das féculas alimentares, ao lado da tapioca, da araruta e sagu. O Sr. Callias acaba de publicar suas experiências acerca das propriedades nutrientes do Castanheiro da Índia. As despesas para fabricar a fécula equivalem as que reclamam de ordinário as fábricas de féculas de arroz, de batata etc. Porém, os produtos excedem e são superiores. O Castanheiro da Índia fornece um amido belo, claro, mais branco que o do trigo. Pode-se misturar, hoje, sem receio a fécula bem lavada da dita castanheira com a de trigo e fazer pão, o que melhor convém para substituir a tapioca. Baumé já havia reconhecido que suas propriedades nutrientes superavam as das batatas em vista do consumo que as branquearias, as manufaturas de papel, de chitas, as fábricas de destilação fazem das fécula de trigo e de batatas. É mister esperar que, para suprir a alimentação pública, a fécula da Castanheiro da Índia esteja aceita em geral, pois ela merece e tem valido a seu inventor o prêmio de dez mil francos estabelecido por um decreto do Rei da Bélgica. ( Revue des deux mondes)