Bicuíba

Myristica officinalis Martius, Myristica bicuiba Schott, Vicuiba, Bicuiba redonda, Noz moscada do Brasil, Bocurva, Família das myristiceas

Bicuíba

    História Natural. Martius encontrou esta árvore preciosa nas matas originais de São João, na Serra do Mar e nos Morros altos de Ouro Preto, Mariana e mais tarde na Comarca de Ilhéus, província da Bahia. É árvore mediana que dá fruto em cachos, imita bem a noz moscada e então * de Linneo Filho. Já antes de Martius, o Conselheiro Baltazar da Silva Lisboa havia notado entre as árvores da Bahia duas espécies de Bicuíba: a branca que é árvore de alta grandeza, cujo âmago é mole e macio; a Bicuíba vermelha, que se difere daquela na cor, mas não na grandeza, a que é * pelo fruto do qual se faz manteiga em usos medicinais para as moléstias de pele. Correspondem essas duas espécies às que o Dr. Freire apontou na lista ou resenha das árvores mais importantes da província do Rio de Janeiro, a Bicuíba redonda e a da folha larga ou Myristica grandi. Não se deve confundir esses vegetais com o Myristica officinalis de Linneo Filho ou Myristica aromatica de Lamarck, árvore das Mollucas transplantada pelo ex-Chefe de Divisão Abreu, para o Jardim Botânico do Rio De Janeiro e cultivada nas hortas da Bahia e de Belém, com o nome de * da Índia. Dá-se no Brasil também o nome de noz * ou Cryptocarya moschata da família das laurineas, que se encontram nas províncias de Minas, Bahia e Espírito Santo. A cultura parece que modificou muito as duas espécies de Bicuíba do Brasil, e fazer comércio delas iguala-se quase à Moscadeira da Índia; todavia, estas últimas, pelos meios de cultura feitos no Pará e em Cayena, dão sementes menores e menos densas do que as das Mollucas. A Bicuíba redonda de Martius tem o arilo cor escarlate, é laciniada, cobrindo uma espécie de noz moscada cujo aroma é pouco acentuado; a noz é do tamanho de uma cereja, tem um sabor amargo e é aromática. As folhas são alternas, lanceoladas, de cor verde claro; flores pequenas, axilares, amareladas. O cálice é companulado e as anteras lineares.

    Análise Química. A noz fornece um óleo volátil que se obtém através da destilação com água, e um óleo fixo que se extrai das sementes pela espreção quente; o óleo fixo chama-se manteiga de moscada. Segundo Mr. *, a mesma manteiga contém a myristicina, ácido myristicico, e dois óleos, um avermelhado, outro amarelado.

     Propriedades. Na Bahia, emprega-se a manteiga ou o óleo gordurento que fornece a Bicuíba redonda para curar topicamente as erisipelas, as chagas bombatinas e as impigens bravas; faz-se uso na província do Rio de Janeiro do óleo de Bicuíba em fricções para curar as chagas da Elefantíase dos árabes, e administra-se o mesmo internamente pois ele obra como purgante drástrico. Martius diz que costuma-se receitar o óleo, em pequenas doses, nos casos de cólicas, fraquezas de estômago, dispepsia. Com o óleo, geralmente praticam-se fomentações sobre as partes acometidas de reumatismos ou gota; ou pode-se empregar também para mitigar as dores dos tumores hemorroidais. Em Minas, dá-se o óleo como laxativo e recomenda-se a mastigação das * nos casos de paralisia dos músculos, pois serve para a deglutição. Nas artes econômicas de cozinha e confeitaria, podem-se compor tinturas, xaropes, licores e utilizar a Noz moscada do Brasil do mesmo modo que se combina a da Índia, pois excede que cromatiza e dá tom à pintura. Segundo o Conselheiro Balthazar da Silva Lisboa, a bicuíba branca é muito maior no serrar e lavrar, os poros são abertos e  a madeira serve para caixarias. O autor das Memórias sobre as madeiras de Santa Catarina, M. J. de Almeida Couto, diz a respeito da bicuíba "É árvore que cresce e engrossa muito, e há na província com abundância; a madeira é boa de cortar, verde ou seca, e de cor arroxeada; o melhor da árvore é o seu fruto pelo muito óleo que contém, e conviria não derrubá-la pois o óleo é excelente para luzes. Da Bicuíba se fazem grandes canoas para o Norte, mas não duram nem prestam, porque a madeira abaixa muito. O taboado e outras peças dessa madeira podem servir no interior das casas, mas é tão sujeito aos bichos que pode-se dizer não prestar para nada" (Auxiliador da Indústria Nacional, agosto, 1891, p.39).

 

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