Pilriteiro, Berberis vulgaris Linneo, Berberis canadensis Mill, Hexandria Monogynia, Família das berberideas
História Natural. Vellozo encontrou na província do Rio de Janeiro, nas matas da fazenda Parição, planta que C. Linneo chamou de Beberis vulgaris, a qual pertence à família das berberideas. Esta faz parte das Dicotyledoneas polypetalas, cujos estames são permanentes sobre o ovário ou hypogynos. O Berberis vulgaris é arbusto espinhoso que lança vários troncos retos, tem folhas alternas, ciliadas, flores amarelas dispostas em racimo, corola com 6 pétalas. Quando se toca um só estame da planta com a ponta de uma agulha, todos se agitam rapidamente inclinado-se para o pistilo, ao qual aderem por muito tempo. A cor das flores é amarela viva. Os sépalos são muitas vezes manchados de vermelho por baixo, tem os três exteriores mínimos, desiguais, de cor amarela esverdeada, ovais e triangulares, pontudos, os três outros elípticos. Pétalas mais curtas que os sépalos interiores, glandulosas, pequenas de cor laranja. Bagas de ordinário vermelhas, compridas de três a quatro linhas, da grossura de uma semente de trigo, em geral monospermas de sabor ácido. Sementes obovais ou subfusiformes, obtusas nas extremidades, achatadas de um lado, convexas do outro, de cor castanha ou amarelada. Embrião amarelado do comprimento do perispérmio, cotyledons elípticos quase tão longos como a radícula. As bagas da Berberis vulgaris variam de cor segundo a cultura e podem ser vermelhas, amareladas, denegridas, brancas, * e de um sabor adocicado.
Análise química. A berberina, matéria amargosa que Buchner e Herberger isolaram da raiz da Berberis vulgaris, debaixo de um pó amarelo, muito leve, de sabor amargo, pouco solúvel em álcool e em água fria, mas muito solúvel ao calor. Os álcalis dão à berberina uma cor escura, os ácidos a precipitam da sua solução aquosa em pequenos cristais, o ácido sulfúrico a muda em ácido úlmico, e o ácido azótico em ácido oxálico. As raízes cortadas em bocados dão uma tinta amarela. O suco da planta contém ácido málico e mesmo ácido cítrico. A análise de Brandes varia pouco da mais recente de Buchner e Herberger, como se vê no Tratado de Química de Berzelius:
Brandes – análise da raiz Matéria colorante amarela 2,550
Matéria colorante escura 6,620
Goma com sal de cal 0,350
Amido misturado com cal 0,200
Sais de cal 0,200
Óleo gordurento 0,400
Clorofila 0,025
Resina mole 0,550
Fibra lenhosa 55,400
Água 3,500
Resíduo 1,300
71,095
Buchner e Herberger Cera 0,4 0,4
Goma 0,6 1,0
Clorofila 0,6 1,0
Resina 20,4 7,0
Berberina 17,6
Matéria Colorante Escura 17,6 13.8
Goma 7,4 5,0
Malatos e Fosfatos 3,4 1,2
Fibra lenhosa 31,2 41,4
Cinzas 2,5 2,2
Óleo e Umidade 22,0 2,5
99,6 79,1
Propriedades: Em medicina, reputam-se o suco das bagas como excelente antiescorbútico e as folhas como purgativas. Nas artes, tira-se grande partido da tinta amarela das raízes. De ordinário, são as raízes e a casca que servem para tingir de amarelo os couros, a lã, o marfim e as madeiras. O suco das bagas dá uma bela cor rosa que tinge lã, seda, linho e algodão; as bagas secas tingem de cor canela a seda e dão-lhe um brilhante lastro. Emprega-se a raiz para obras de embutidos. O princípio alcalóide que se extrai da raiz de Berberis, a berberina, tem a mesma aplicação nas artes. Quanto às artes econômicas, costumam-se empregar as bagas do Berberis vulgaris para compor xaropes, geleias, confeitos, vinhos, licores em várias partes do Norte da Europa e da América. Os ramos e as folhas rivalizam com as do buxo para cercas de jardins e dos pomares e podem prestar no Brasil a mesma utilidade, quando se propagar a cultura da planta.