Solanum tuberosum Linneo, Solanum tuberosum esculentum G. Bauhin, Petandria Monogyma Linneo, Família das solaneas
História natural. Reconhece-se Solanum tuberosum pelos seus tubérculos oblongos e arredondados, sem caule herbáceo, cilíndrico, estriado, ramoso, um pouco felpudo, alto, de quase 2 pés, carregado de folhas aladas, esverdeadas, compostas de 5 a 6 folíolos de tamanho desigual, ovóides, pontudas e inteiras. As flores nascem em cima dos ramos, dispostos em corimbo, são de cor branca, avermelhada, azulada ou arroxeada, formadas de um cálice de 5 divisões, de uma corola em roda, limbo aberto em 5 lóbulos, 5 estames e 1 estilete. O ovário é representado por uma baga globulosa mole de vários septos, contendo sementes pequenas e redondas. Este precioso vegetal reputa-se oriundo do Sul América. “Lê-se no Jornal do Instituto Real de Londres nº 8 que D. José Pavon, autor da Flora Peruviana, achava a batata cultivada em grande abundância pelos naturais do Chile que a denominam Papas, assim como no Peru dizem que provém dos bosques perto de Santa Fé de Bogotá. O fato é que ela foi levada do Peru para a Carolina do Norte, na América pelos espanhóis, no meio do século XVI e que, mais tarde, o almirante Walter Raleigh a trouxe do estado da Virgínia para a Inglaterra, no reinado de Elizabeth, de onde se espalhou para o resto do continente europeu. O Solanum tuberosum foi descrito pela primeira vez por Gaspar Bauhin. No fim do século passado, pelos cuidados de Parmentier, no reinado de Luis XVI a cultura da batata tornou-se geral em França. Antes, a planta era desprezada a ponto de ser comida vulgar do gado. Hoje, isso mudou e, como diz o Riedel no Manual do Agricultor Brasileiro, p. 56, é talvez o presente de maior monta que o novo continente tenha feito aos seus descobridores pois que, com o sucesso deste tubérculo, a Europa já está salva daquelas fomes horrendas que em tantas épocas a tem açoitado”. Distinguem-se variedades de batatas pela forma, pela cor, pelo tamanho e pelo gosto. Existem variedades de cores brancas, amarelas, encarnadas, roxas; formas redondas, compridas ou achatadas, as quais se reproduzem independentemente do solo, da cultura e da exposição. A mais vigorosa é a batata, cuja cor vermelha, penadiada torna-se, pois, cor de linhaça. É a variedade mais fecunda, que prospera em todos os terrenos e, sobretudo, nas terras arenosas. A branca é também muito produtiva e de excelente sabor, uma espécie querida dos irlandeses e que recebemos em grandes porções da Corte e de outros portos. A cultivada no Brasil se chama Batata inglesa, todas as variedades do Solanum tuberosum, porque agora as cidades marítimas são supridas deste gênero especialmente pela Inglaterra. A espécie achatada e arredondada, amarela, cujas folhas são crespas e as flores em forma de penacho, provém de Nova Iorque. Muitos dão-lhe a preferência por ser suculenta e de delicado sabor. A espécie vermelha redonda provém da América do Norte, onde é muito cultivada. Sua polpa é firme, fina e fornece farinha em abundância. A variedade vermelha oblonga algumas vezes apresenta-se um pouco acre. A variedade vermelha pequena é de boa qualidade. A batata roxa foi levada da América para a Holanda. A corola e o cálice têm cor arroxeada, a superfície dos tubérculos é * coalhada de pontos roxos e amarelados. A batata pequena ou chinesa tem talos delgados, folhas de cor verde claro, flores *, tubérculos pequenos irregulares arredondados, de sabor açucarado e agradável. A espécie vermelha de corola branca produz mais que todas as outras espécies conhecidas. Seus tubérculos são de sabor delicado, e ela merece a maior preferência por parte do lavrador e * que cultivam mantimentos. “A batata dá colheitas abundantíssimas em terrenos onde o trigo não produz. Já os habitantes de grandes províncias a têm, por esta razão, substituído o pão, e nas outras tem grande função no sustento diário dos homens e do gado. A batata se dá muito bem à beira-mar do Brasil, porém nas regiões de Serra acima e províncias meridionais não cede a palmas, pela abundância da quantidade da colheita às de importação. O território da colônia Suíça de Morro Queimado (Nova Friburgo) tem particularmente terreno favorável para plantar o Solanum tuberoso com os mesmos preparos que necessita a mandioca, porém, no cabo de 3 a 4 meses, recompensa grandiosamente o trabalho que ocasionou” (Riedel, Manual do Agricultor do Brasil, p.56). Todas as variedades ou espécies de Solanum tuberosum encerram princípios nutrientes que diferem unicamente pelas proporções. As brancas são geralmente mais produtivas, as vermelhas são mais sápidas e conservam-se por mais tempo. As amarelas são de gosto mais delicado. A qualidade do solo influi diretamente sobre a quantidade dos tubérculos, mas se o terreno for arenoso ou lígneo mais sápida e suculenta será a batata. Multiplicam-se as batatas por estaca, por mergulho e por semeada. Este último processo, apesar de levar mais tempo, é o que se deve preferir. Colhem-se as sementes das melhores qualidades para serem semeadas.
Análise Química. Segundo a análise de Vauquelin, o Solanum tuberosum contém asparaginas, albumina vegetal, *, ácido tartárico, uma matéria fibrosa e alguns sais. O suco da batata contém albumina colorida, extrato de cal, asparagina, uma resina amarga aromática e *, fosfato de potassa, de cal, ácido cítrico, citrato de potassa, enfim uma matéria animal particular. Os únicos * da batata de sabor marcado são a resina e a matéria animal; também são os únicos corados. O aroma e o sabor da batata assada debaixo de cinzas quentes no seu próprio suco referem-se a estes dois princípios. Mr. Peschier retirou goma e açúcar da fécula da batata inglesa. A batata contém por libra 11 onças e ½ de água de vegetação, 2 e ½ de fécula, 1 onça e duas oitavas de extrato salino, seis oitavas de fibra. A batata secada no forno não tem mais o mesmo peso, perde uma quinta parte. Partida em talhadas e secando-as, estas ficam transparentes oferecendo consistência e aparência córnea. O parênquima da batata, segundo Marcet (Annaes de chimica p. 32 T. 36), é composto de carbono, oxigênio e hidrogênio. Boussingault tem feito a análise da folhagem da planta, a qual encerra além dos 3 princípios encontrados no parênquima, maior porção de azoto de sais e terras. As cinzas da batata são compostas de silicium, cal e magnésia e barro, segundo Buckert (Annales de Chimie T. 22 p.94); contém ácido sulfúrico e fosfórico com maior porção de soda do que potassa, segundo Vogel (Annuaire de 1849). Os talos da batata são compostos de sais alcalinos e de matérias insolúveis. Os sais encontrados na batata são de carbonato de potassa, sulfato de potassa e muriato de potassa, fosfato de cal, silício e areia, carbonato de cal e magnésia e carvão (Ann. de phy. et Chi. T.32).
Propriedades. A batata proporciona uma alimentação suave, substancial e de fácil digestão. As experiências de Pfaff, lente de química de Kiel e de Vibourg de Compenhague, as de Parmentier e de Enihoff confirmam que as partes constituintes que dominam na batata são a fécula e o glúten, de onde resulta a sua propriedade de nutriente. É segundo a porção de fécula que ela contém que se declara a sua madureza. As batatas cuja fécula predomina sobre o glúten tomam, sendo cozidas, um aspecto farinhento. As que são cozidas permanecem duras, encerram muita albumina e maior porção de glúten que de fécula. Prevalece o uso da batata como alimento, e até mesmo é recomendada uma alternativa como valioso antiescorbútico. A sua cultura propaga-se dia a dia no Brasil, do mesmo modo que se mantém no maior auge em todas as outras regiões do Norte América e da Europa para o sustento alimentar de todas as classes. Se ela nutre menos que o pão de trigo, é questão supérflua, uma vez que se sabe quanto é mais barata. “As batatas consideradas como alimento costumam coser-se antes de serem empregadas na maior parte dos seus usos. Esta operação pratica-se entre nós introduzindo-as em um vaso com água que se faz ferver o tempo necessário para sua cozedura” (Auxiliador, t. 21, nova série, 1846). Cozem-se a vapor em panela, vaso de ferro ou folha de flandres e depois fabricam-se pães e outras massas alimentares. Os alemães costumam fabricar queijo com a adição de massa de batata cozida a vapor. A farinha seca de batata com toda a sua substância nutriente encontra na arte culinária uma multidão de aplicações. Preparam-se bebidas saborosas, delicados pratos de meio e temperam-se com a mesma molhos que tornam-se mais nutritivos. * tornada no * adquire o agradável sabor de batatas assadas; diluída em caldo ou em leite fervido, fornece alimento e bebida saborosa. Cadet de Vaux a misturava com a preparação do chocolate, o que o tornava mais leve. Nas artes, faz-se uso hoje das batatas em grande escala: prepara-se com as batatas uma cola que gruda à perfeição, faz-se com elas uma tinta boa para pintar; as flores misturadas com óleo e alvaide dão uma boa cor amarela que se aplica para tingir. Cadet de Vaux assevera que a batata pode substituir o sabão para a lavagem de roupa (Journal de Pharmacie t.6), Enfim, nas artes a fécula substitui em uma multidão de casos a goma e serve para colar os panos de linho para fazer papel, para infinitos objetos da indústria. A batata é planta sem igual para a economia rural e doméstica, não só os tubérculos nutrem os homens, mas ainda servem para o sustento do gado. O leite das vacas torna-se mais abundante, em nata, se ingerido diariamente com batatas cruas ou cozidas. São o melhor alimento para porcos, carneiros, aves domésticas e mesmo para os cavalos. Na arte culinária, cada dia se revela uma nova descoberta para utilizar a batata inglesa. Quer cozida, quer assada, ela transforma-se em centenas de saborosas iguarias, como foi visto no célebre banquete de 1844 dado em Munique para festejar o aniversário de sua introdução na Europa pelo almirante Raleigh. O emprego medicinal da batata não é menos proveitoso do que seu emprego alimentar. Raspa-se o tubérculo cru que serve assim de cataplasma refrigerante sobre as queimaduras. Cozida e reduzida a uma massa mole a batata constitui excelente cataplasma maturativa. O Dr. Nauche assevera que o cozimento de batata branca é bom laxativo, que a batata vermelha é adstringente e que a última convém nos casos de afecções catarraes crônicas da bexiga e dos intestinos. Recomendam-se o xarope e a tintura alcoólica de batata em lesões de fígado como desobstruintes. O Dr. Nauche obtinha maior proveito em pedilúvios quando usava água fervente da batata raspada crua, em vez dos pós de mostarda. A opinião de G. Bauchin acerca de sua virtude afrodisíaca não tem fundamento. A opinião relativa a sua virtude antiescorbútica provém unicamente de dar a batata como comida *** e não por conter em si princípios ou agentes que curam o escorbuto. Há pouco tempo que se noticiou na Rússia que o seu uso era capaz de fazer expelir o tumor, porém o fato coligido (Boletim da Academia de Medicina de Paris, maio, 1841), é um pouco duvidoso. Parmentier acreditava que o uso das batatas * o como das urinas e que assim se tornava proveitoso. As folhas do Solanum tuberosum são aconselhadas em cozimentos e injeções como calmantes, em casos de inflamações dos órgãos urinários. Fazem-se delas cataplasmas para resolver ou madurecer tumores glandulosos, ou acalmar hemorróidas. Os botânicos e lavradores lisonjeavam-se de se achar a batata livre de enfermidades, porém Martius noticiou no dia 16 de agosto de 1842, à Academia de Ciências de Paris que um fungo microscópico, o Fusisporium solani, tomava conta dos tubérculos e os tornava duros como pedras. A moléstia propagou-se no inverno de 1845 por toda a Europa, havendo sido o frio dos maiores. Já antes Boussingault e A. d’Orbigny haviam assinalado uma enfermidade que desde tempos remotos acometia a batata nos Andes e na Bolívia quando as chuvas eram recorrente. Ao farmacêutico Joseph Bonjean de Chambery cabe a glória de haver melhor patenteado a natureza da enfermidade na sua monografia da Batata publicada em 1846, analisando as várias opiniões dos mais ilustrados sábios do dia, os quais referem à presença de fungos; outros, à gangrena seca; alguns à existência de vermes e à fermentação pútrida, as alterações orgânicas da batata. Essas moléstias das batatas fizeram com que se indagasse melhor o álcali que elas contêm e a solamina, veneno ativo descoberto em 1821 pelo Desfess* e que resultou das novas pesquisas feitas sobre as batatas uma análise completa que transcrevemos da obra do Sr J. Bonjean p.97: 1° Fécula 0,16; 2° Matéria animal particular 009; 3° Resina amarga aromática009; 4° Parênquima ou matéria fibrosa 009; 5° Solamina 009; 6°Asparagina 009; 7° Albumina corada 009; 8° Princípio açucarado 009; 9° Princípio gomoso 009; 10° Extrato de cal 009; 11° Extrato de potassa 009; 12° Fosfato de cal 009; 13° Fosfato de potassa 009; 14° Ácido cítrico livre 009; *, *, *, 17° magnésia 009; 18° manganesa 009; 19° óxido de ferro 009; *, *, 22° * de vegetação 0,75 = 1