História Natural. A Corografia Bahiense descreve a Barriguda do seguinte modo, p. 77: “Barriguda ou árvore de lã, é mais grossa no meio do que junto ao chão, tem a casca coberta de espinhos redondos, as folhas têm 3 ou 4 polegadas de comprimento e em número de cinco, juntas na extremidade, de um pé comprimento. Sua flor começa com a figura de um figuinho redondo, liso, sem olho, com um pé curto e grosso. Este figo toma o comprimento e a forma de um pequeno limão, sempre de cor verde e sem olho. Depois abre na extremidade em três partes e brota como um capucho de algodão roliço e comprido, de três polegadas de comprimento e mais de uma de largura na cabeça, lisos pela face superior e vermelhos do meio para baixo, brancos matizados de uma outra cor, um na cabeça que é redonda * pela face exterior de um pelo comprido branco, quase enrolando-se, cobrindo o capucho. Tem cinco estames ou filamentos, em volta de um pistilo que é muito mais delicado, e termina em uma bolinha encarnada. Todas as seis pegadas a um receptáculo no fundo do cálice, onde se forma um fruto com alguma semelhança de pepino que abre, e está cheio de lã branca finíssima, que é preciso apanhar logo, se não o vento leva. Serve para encher colchões e travesseiros e talvez pela indústria ainda se possa fiar”. Mr. A. St' Hillaire tem observado a Barriguda no meio das caatingas perto do rio São Francisco, e Martius e Nees descreveram o que se encontra em outras partes de Minas Novas. O Príncipe Max. Neuwied, que o observou nas matas vizinhas do rio Belmonte, diz que é árvore de uma gigantesca dimensão. O seu tronco é delgado junto à terra e, ao cume, torna-se logo aumentado de grossura no meio. Existem muitas variedades de Barrigudas: uma tem a casca lisa, unicamente pouco enrugada; outra tem a haste guarnecida de espinhos curtos e fortes; as folhas são solitárias, no cume são pouco frondosas e acham-se em forma de palmas. Em algumas variedades, elas são com dois ou três lóbulos ou bem inteiras. As flores são grandes, belas, de cor branca, caem quando murchas e cobrem o solo (Viagem no Brasil, t.2, p.160). Segundo Descourtilz, os pós da raiz são favoráveis para curar o tétano. Aplicam-se as frutas verdes em cima das artérias temporais para livrar-se de cefaleias e vertigens. O que há de mais certo é que a casca da raiz do Bombax ceiba é vomitiva, e o suco misturado à polpa de tamarindo favorece a expulsão dos vermes e as dejeções alvinas. As flores possuem as virtudes das malváceas, e o cotão das sementes serve para fazer as mochas. O Bombax pyramidal goza de propriedades idênticas: faz-se um xarope com as flores e o suco que equivale ao de goma arábica. A casca em pó misturada com o sumo do limão é um linimento resolutivo, um tópico calmante em contusões e fraturas dos membros. Várias outras propriedades referem-se ao Bombax, todavia devemos nos acautelar, para não aceitar cegamente os elogios que se tributam, de ordinário, em prol de tantas curas.
Análise Química. As espécies de Barriguda encerram goma na raiz e uma porção de amido, o qual se dissolve em água e precipita com a galha, que dá uma cor azul ao sódio e torna-se açúcar quando se trata pelo ácido sulfúrico. Todas as partes fornecem uma grande porção de mucilagem.
Propriedades Medicinais. O tronco grosso da árvore é cheio de uma medula mole e suceosa, na qual encontram-se larvas de insetos que os botocudos procuram para comer. Corre um suco resinoso da árvore partida. O botoque, placa cilíndrica de pau que os índios trazem pendurada nas orelhas ou nos lábios inferiores, é feito do tronco das jovens árvores barrigudas, que eles chamam de emburé (A. St´ Hilaire, p.157, t.2). Tiram-se estopa e filamentos do mesmo tronco que servem para redes, cabos e outros objetos industriais. O tronco empregado para construir canoas tem pouca durabilidade pela sua falta de consistência. Aublet descreve duas espécies de barriguda, o Bombax globosa e o Bombax ceiba. O primeiro refere-se a uma das variedades também existentes no Brasil, como se pode facilmente coligir pela descrição (ver Plantes de la Guiane, p. 702. T.2). Esta espécie cresce de 30 pés para mais; o tronco tem um pé e meio de diâmetro; a casca é lisa acinzentada; a madeira é branca e mole, a parte do tronco, privada de raízes, tem 10 pés ou mais de comprimento. Os ramos do cume são extensos e frondosos, as folhas alternas palmadas e compostas de cinco folíolos. As frutas nascem em cachos nas extremidades dos ramos, é uma cápsula esférica, arruivada, marcada de cinco a seis linhas que se estendem da base ao ápice. O casulo abre-se em seis válvulas espessas, cheio de um algodão fino com sementes ovóidas. O Bombax ceiba, chamado pelo Pison Zaomouna o Bombax pyramidal, ambos são descritos pelo Descourtilz na sua Flora das Antilhas. O mesmo assinala três outras variedades, todas elas fornecem um coton fino, como o barriguda descrito pela Corografia Bahiense. Só a cor varia, tendo um deles uma cor vermelha natural (ver Ceiba).