Bananeira da terra

Pacobeira, Pacoeira, Pacobuçu, Banana do paraíso, Musa paridisiaca Linneo, Família das musaceas

Bananeira da terra

    História Natural. Segundo Fr. Vellozo, a Musa do paraíso tem o tronco erváceo, erguido mole de 15 a 20 pés de altura e ainda muito mais. Tem, na base, a grossura de uma coxa de pessoa, mas pouco a pouco se adelgaça até o picaroto ou topo. Ramos nenhuns. Folhas no topo de seis pés e mais de comprimento e dois de largura, a costela do meio é assaz carnuda e dá origem a um grande número de nervos transversais, que se alargam até as bordas. Essas folhas são delicadas e tenras, de sorte que, expostas ao ar, o vento ordinário as despedaça. Saem do tronco principal, que elas vestem com suas bagas. Aparecem enroladas quando saem do tronco e, à proporção que crescem, se abrem e se vergam para trás. Lançando-se uma linha horizontal na sua extremidade, se verá que, dentro de uma hora, mais crescem à vista dos olhos, uma polegada. Tendo chegado a sua altura, lança do centro de suas folhas uma espiga de flores de quatro pés de comprimento e inclinadas para um dos lados, as flores saem em turnos ou pencas. As da base do engaço são maiores, as outras diminuem proporcionalmente de grandeza até a extremidade. Cada penca é coberta de uma bainha (spatha) de uma cor púrpura por dentro, que caem, quando as flores se abrem. As flores masculinas se acham no alto da espiga. O fruto desta planta tem oito para nove polegadas de comprimento e uma de dimensão, é um pouco curva e com três quinas, no princípio de uma cor verde e madura, de um amarelo pálido. A pele é rude e cobre uma polpa branda, doce e agradável.

     Análise Química. (frutas maduras) Açúcar, goma, ácido málico, gálico e pédico. Matéria végeto-animal, coagulável pelo calor, fibra lenhosa. A seiva, segundo Boussingault, contém tamino, ácido gálico e acético, sal marinho, sais de cal, de potassa e de albumina (Boussingault, Journal de Pharmacie, t.22, p.689). A seiva torna-se leitosa, açucarada, gomosa e resinosa, segundo a natureza dos sucos que com ela se misturam. Os troncos das Bananeiras, diz Fr. Velloso, se formam de cascas circulares ou concêntricas, separadas naturalmente umas das outras, mas com tanta firmeza que fingem uma continuidade à exceção das medulas. Ora quer esta, ora quer aquelas são uns corpos celulares ou reticulares cheios de água adstringente a qual evaporada, quando se queimam os troncos, dão copiosa porção de potassa. Quando o professor Manso Pereira fez sua viagem mineralógica a São Paulo, obteve por incineração do engaço uma quantidade de potassa extraordinária.

    Propriedades. A Bananeira dá frutos comestíveis e serve para usos medicinais e industriais. “Poucos são os vegetais, dizia o Dr. Joaquim Emílio da Silva Maia, que podem  se vangloriar de uma origem tão antiga e tão nobre. Sua imensa utilidade concorre muito mais para isso: o fruto é alimento gostoso e saudável, a árvore é um chapéu de sol que abriga contra os calores dos trópicos, as suas folhas dão um alimento saboroso ao gado e de seu tronco saem filamentos dos quais fazem-se esteiras, redes etc. Mas é sobretudo pelo seu fruto que esta bela planta torna-se interessante. Ele vem a ser uma baga alongada, suculenta, contendo dentro de uma casca espessa uma polpa açucarada, e às vezes aromatizada, sem pevide, nem caroço. Constitui um dos primeiros alimentos dos países intertropicais. Esses frutos que existem em todo o ano, diversificam muito em comprimento e sabor, conforme as variedades botânicas e as localidades. Eles são certamente muito saborosos e agradáveis, mas de difícil digestão e, por isso, às vezes flatulentos, pelo que aconselhamos as pessoas fracas de estômago ou que têm este órgão doente a absterem-se de os comer mormente crus. Desta nossa observação fácil, se deve concluir o quanto é nocivo dar-se às crianças recém-nascidas ou de tenra idade papas de banana assadas, uso entre nós muito admitido. A nossa experiência tem nos igualmente feito ver, que este hábito, além de outros males que pode produzir, é uma das principais causas da abundância de vermes intestinais a que os nossos meninos são tão sujeitos” (Revista Médica Fluminense, 1840, p.491). Na medicina, o fruto e a seiva se utilizam igualmente. As bananas assadas ou cozidas misturadas com azeite servem de cataplasmas emulsivos e maturativos. A seiva, verdadeira solução de ácido gálico, na água como diz o farmacêutico L´Herminier, é de uso vulgar no Brasil como remédio adstringente. Aplica-se em banhos locais ou em clisteres em casos de hemorragia ou prolapso do ânus. Avivam-se as úlceras atônicas pelo simples contato da seiva de um tronco recém–cortado, e a mesma serve para curar as aftas das crianças, misturada à porção de água simples. Os doutores Emílio Maia e Jacinto Rodrigues Pereira Reis hão observado casos de prolapso do ânus curados por repetitivas aplicações da seiva. Alguns facultativos a recomendam contra a leucorréia, segundo o uso que dela faz a gente do campo. A raiz da Bananeira da terra é um excelente antídoto contra a mordedura de cobras venenosas (Moraes e Castro). Com a medula, prepara-se um mingau que se recomenda aos que padecem de diarreia crônica e frouxos de sangue. O vinho e o álcool, e também a farinha da Bananeira são excelentes remédios contra o escorbuto. Hoje, vende-se em Paris, contra as enfermidades do peito, um xarope feito do fruto da Bananeira da terra. Os doces de bananas que costumam vir dos conventos da  * são primorosa comida. O valor nutriente da banana, diz Mr. Boussingault ( E. minérale t. 1er ), equivale ao da Batata inglesa. O mesmo químico conseguiu sustentar trabalhadores robustos com uma ração de bananas e de carne seca. Não há outro sustento para os marinheiros que navegam os grandes rios do interior do Brasil. Para a indústria, diremos que os potasseiros do Norte se aproveitam das águas que recobrem dos lenhos, quando os queimam, fazendo-as evaporar para obterem a potassa. Poder-se-ia fazer o mesmo ao caldo que sai dos troncos das bananeiras, quando as cortam para se colherem seus frutos (Fr. Velloso, Flora Allographica, p.229). A lixívia das cinzas da Bananeira serve para branquear a seda e o algodão. Para as fábricas de tecidos, os melhores filamentos são provenientes do Abaca ou Musa textilis e das várias espécies de bananeiras do mato (ver Abaca, Bananeira do mato, etc.).

 

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