Arruda

Ruta sylvestris major Bauhin, Ruta graveolens Linneo, Família das rutáceas

Arruda

     História Natural. Planta oriunda do sul da Europa e cultivada em quase todos os jardins do Brasil, em razão de seus usos medicinais e da extração que os pretos costumam lhe dar. A planta ramifica de sua base em ramos e raminhos multiplicados, sendo os inferiores lenhosos e os superiores herbácios. As folhas são poucas, de um verde glauco, compostas de folíolos cuneiformes,  um tanto espessos. As flores são amarelas, dispostas sobre breves pedúnculos, em um corimbo pequeno e paniculado. A flor central tem de ordinário dez estames e cinco divisões no cálice e na corola. Todas as partes da Arruda deitam um cheiro ativo, sobretudo quando se esfregam com força. O sabor é acre e quente. Na espécie sylvestris, estas qualidades tornam-se muito mais salientes.

     Análise Química. A Arruda foi analisada em 1811 pelo Sr. Mähl que lhe encontrou óleo volátil, extrato amargo, clorofila, matéria vegeto-animal particular, a qual precipita pela tintura da noz de galha, ácido malico, goma, albumina, matéria fibrosa e amido. O óleo volátil extrai-se em maior porção das sementes do que das outras partes da planta.

     Propriedades. A planta é estimulante a ponto de causar um comichão vivo na palma das mãos quando se procura pisar as folhas. Aplicada sobre a cútis, irrita e provoca a rubefação. Introduzida no estômago, determina em doses elevadas uma espécie de envenenamento, causando grande agitação primeiro, secura da garganta, calor mordicante no interior da boca, e depois bocejos e torpor do sistema nervoso. Entre os antigos, a Arruda foi gabada pela sua ação direta sobre o útero; era igualmente recomendada contra a epilepsia, a histeria e outras enfermidades nervosas. As desordens da menstruação, segundo os antigos, remediavam-se pelo emprego da Arruda, qualquer que fosse a alteração do útero. É frequente no Brasil que certas meretrizes ou comadres abusam do emprego da Arruda para provocar aborto, e que as negras caem frequentemente nas criminosas tentativas do infanticídio, tomando porções de Arruda socada em pós ou em bebida etc. A dose elevada da Arruda é tóxica; o Dr. Helié, lente da Escola de Medicina de Nantes, publicou no Boletim Therapeutico de Paris, t.12, p. 77, uma memória na qual explica o modo de ação da Arruda sobre o canal digestivo e sobre o útero. A Arruda inflama o tubo digestivo, porém, nos casos de flegmasia gastrintestinal, perde em parte sua ação sobre o útero. Em numerosos casos, a Arruda influi diretamente nos órgãos genitais da mulher, provoca uma contração sanguínea ativa e um estímulo vivo das fibras musculares do útero, da qual provém a expulsão do feto. É preciso notar que esta ação é sempre secundária, que ela necessita tempo e pede muitas vezes repetidas doses para conseguir-se efeito abortivo. Muitas observações coligidas pelo Dr. Helié patenteiam as propriedades abortivas da Arruda. As desgraçadas mulheres que em nossas cidades e nos campos usam da Arruda sem regra confirmam as mesmas propriedades. A ação da Arruda sobre o útero opera em razão de serem absorvidos os princípios ativos que a planta contém, e não é proveniente da influência simpática da gastrinterite. Aplica-se a arruda como vesicante, ou como sinapismo nos pulsos em casos de febres intermitentes. Prepara-se com ela um gargarejo para se combater as úlceras fétidas da boca e das gengivas. Administra-se em clisteres nas afecções verminosas. Pretende-se que ela opera como resolutivo e tônica nas moléstias oculares, tomando os vapores quentes do cozimento da Arruda. Internamente, dá-se ou receita-se o pó da Arruda de um escrópulo até uma oitava, misturado com xarope, mel ou envolvido com electuário ou bem em pílulas. De ordinário, costuma-se receitar o chá da Arruda. O óleo volátil administra-se em seis, oito, doze gotas em uma porção antiespasmódica. Faz-se um extrato, um bálsamo, um vinagre de Arruda, porém semelhantes preparações hoje são desusadas. A infusão faz-se com uma oitava de folhas e duas libras de água. Externamente faz-se uso a cada dia do cozimento para banhos e clisteres, e das folhas socadas para fomentar o baixo ventre. O vinagre de Arruda alcanforado foi receita de muito crédito nas epidemias de peste que assolaram o Oriente. Por longo tempo, reputou-se preservativo de moléstias contagiosas, porém hoje o seu crédito está quase abalado.

 

 

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