Acacia angico Martius, Mimosa gumifera, Pithecollobium gumiferum Martius, Brincos de sahoy, Família das leguminosas
História Natural. Dá-se o nome de angico a duas espécies de acácias do Brasil, a Acácia angico de Martius, que se encontra no sul do Brasil, e ao Pithecollobium gumiferum que se encontra na Bahia, em Minas, Pernambuco e Ceará. A Acacia angico é uma árvore de altura mediana que dá goma alambreada: a madeira é dura e compacta, formada de um alburno amarelo e de um âmago vermelho, ambos riscados de veias obscuras; difere pela espessura da casca do Pithecollobium avaremotemo ou Barbatimão. A madeira do Pithecollobium gumiferum é mais ondeada, de cor mais obscura e aproxima-se mais da madeira do Acaju. A árvore angico dá três produtos: goma, olhos e cinzas da casca ou do pau. A goma aproxima-se muito da goma do Senegal.
Análise Química. O Sr. da Silva Beirão publicou no Jornal das Sciencias Médicas de Lisboa um parecer acerca da resina de Angico, do qual resulta que a chamada resina de angico é um produto vegetal muito semelhante à denominada goma do país (Lisboa, 17 abril, 1852). Impropriamente lhe chamaram resina, pois se trata de uma verdadeira goma. É translúcida, insípida, inodora, de cor alaranjada em bocados do tamanho de avelãs, solúvel dentro da boca, algum tanto pegajosa. Observada ao microscópio, parece formada de aglomeração de pequenas lágrimas, que foram gotejadas da superfície do tronco vegetal que a fornece e,pela ação do ar, foram solidificando; descobriu-se ainda, em alguns pedaços da goma do Angico, fragmentos da cortiça da árvore que a fornece. Sua fratura é plana e vítrea, o pó tem uma cor amarelada desvanecida. Dissolve-se completamente na água destilada e na água comum, tomando a dissolução uma cor alaranjada pouco intensa. É muito pouco solúvel em álcool e insolúvel em éter. A sua completa solubilidade na água não se tumefazendo, dá a entender que a goma do Angico é formada só e exclusivamente de arabina, e que não tem caforina alguma, o que a coloca a par da melhor goma arábica. A dissolução aquosa da goma do angico apresenta uma ligeira reação ácida. A goma, quando se expõe à chama de uma vela, intumesce antes de se carbonizar, o que acontece também com a verdadeira goma arábica.
Propriedades. A madeira da árvore denominada Angico é muito estimada na marcenaria, atende ao belo polimento de que é suscetível. A goma tem um gosto mucilaginoso e aromático. Sua cor alambreada a distingue das outras gomas brasileiras. Os olhos são adstringentes assim como as cinzas. Dizem que dos olhos se faz lambedor para curar os defluxos e que se usa dos seus sumos internamente para consolidar as contusões e fraturas, o que parece ser unicamente recomendado pelos curandeiros. Das cinzas, se formam emplastos com sebo de carneiro para dissolver tumores endurecidos. O Patriota de 1814 diz que a Mimosa angico destila uma goma semelhante, pelas suas propriedades, à goma arábica, o que parece confirmado pelo doutor Sarmento, médico de Pernambuco, que costuma receitá-la. No sertão de Pernambuco, chama-se milagrosa a folha do Angico; lê-se nas Memórias Históricas do Sr. José Bernardo Fernandez Gama, t.1, p.67: “a folha d’angico nas feridas d’armas de fogo é remédio infalível, se a bala não fere alguns dos órgãos essenciais à vida e cuja lesão mate imediatamente; só é preciso, para curar a mais complicada e perigosa ferida, pisar a folha do Angico, beber três vezes por dia o sumo extraído, e aplicar sobre a ferida o bagaço ou resíduo deste suco.”