Tatagiba

Tatay-y, Tagoa-uva, Tataíba, Tajuba, Tauba, Espinheiro fustete, Broussonetia tinctoria Kunth, Broussonetia xanthoxylon, Broussonetia brasiliensis, Maclura tinctoria Kunth, Maclura affinis Marcgrave, Morus tataiba Vellozo, Maclura xanthoxylon Endlincher, Maclura brasiliensis Martius, Família das urticineas

Tatagiba

       História Natural. Lê-se em vários autores que as Broussonetias diferem um tanto entre elas * segundo as latitudes e que a Broussonetia tinctoria das Antilhas igualmente apresenta diferenças notáveis das variedades Broussonetia e Maclura do Brasil. As espécies que fornecem a tatagiba ou que merecem este nome são quatro árvores descritas por Martius: Maclura tinctoria, Maclura affinis, Maclura xanthoxylon, Maclura brasiliensis. A primeira é indígena de Goiás, a segunda é própria do Cabo Frio e vê-se nas matas marítimas até a província de Pernambuco, a terceira encontra-se no Espírito Santo e na Bahia, e a quarta é peculiar do Brasil oriental e abunda nos arredores paludosos de Campos. Todas elas são árvores de trinta a quarenta pés de altura, de cimeira frondosa, de ramos inermes ou espinhosos; espinhos assovelados, solitários ou emparelhados e *; folhas ovais, oblongas, acuminadas, delgadas, glabras, fortemente denteadas de tamanho variável; espigas masculinas pendentes, densas, compridas de 2 a 3 polegadas; perianto de segmentos ovais, planos reflutos por cima, mais curtos que os estames, fruta doce de cor amarela verde.  Nas espécies brasileiras que crescem nas matas marítimas, Pison nota que a casca  das árvores é cinzenta, o lenho amarelo e muito duro. A fruta amadurece em março, é suculenta, saborosa e de bom paladar, misturando a polpa com vinho e açúcar. As outras espécies de Maclura são pertencentes a outras regiões. A Maclura brasiliensis Endlincher ou a Broussonetia brasiliensis Martius é arbusto ou árvore pequena de 8 a 12 pés de altura; ramos rijos, cilíndricos; epiderme ligeiramente rugosa; râmulos angulosos; folhas alternas; pecíolos delgados; estípulas ovadas, pequenas e pubescentes, vilosas no dorso; espinhos axilares, curvados ligeiramente e roliços. Pedúnculos masculinos leves, direitos ou ligeiramente curvados, brácteas emparelhadas ou solitárias. Amentilho globuloso do tamanho de uma ervilha, flores densíssimas, escamas cotanilhosas por cima. Perigônio tetrafilo. Alabastra obovoide quadrangular, truncada em cima, quatro estames, filamentos glabros; anteras emarginadas, rudimento do pistilo semi-elíptico (Mart. Urticinea, p.158).

    Análise Química. A madeira contém um princípio colorante amarelo, chamado Morus cristalizável, pouco solúvel dentro da água, mais solúvel em álcool e em éter, enfraquecendo pelos ácidos, tornando-se cor de laranja pelos alcalinos e de cor verde pelo sulfato de ferro. A medula fornece uma matéria resinosa que parece ser o melhor extrato do princípio colorante, tem sabor amargo e doce que não é desagradável.

     Propriedades. O comércio de exportação tem extraído imensa porção de madeira Tatagiba, desde o princípio do atual século. Em 1811 e 1812, já o negócio era grande, o desembarque se fazia nos Trapiches, e os moradores de Cabo Frio negociavam diretamente a tinta de Tatagiba. O inglês Keler exportou primeiro de Cabo Frio duas mil toras de madeira em 1820. Eis a informação que dá Antônio José Pereira nos seu Apontamentos Históricos: “Este Pau tatagiba se acha somente nas proximidades do mar e terrenos solitários, cresce até 40 palmos em terreno seco e arenoso, a sua grossura maior é de 3 a 3 ½ palmos de diâmetro, é muito pesado, tem a casca  esverdeada, com espinhos longos e grossos, desanimados em distâncias avulsas, tem por dentro pouco mais de um dedo de branco. Quebrando-se a casca, obtém-se um licor  ou leite muito amarelo. Aproveita-se esse licor para tirar os espinhos, estrepis e cura os póstemas quase que milagrosamente, fazendo sair o corpo estranho e o supurar. Os moradores usam-no até para tirar os dentes dos animais venenosos, que tenham mordido e deixado o dente na carne dos homens ou dos animais. A casca, quando fica velha, greta e dá cascões ou largas escórias, quebra facilmente, é gosmenta e não dá embira. A folha é miúda e comprida, com muita galhada e cresce pouco reta, motivo pelo qual era aproveitada para cavernas por sua solidez, único emprego que tinha antes de se descobrir a tinta. Esta madeira racha com facilidade e irregularmente. Por ser dura, é excelente para mobílias e lucrativa. Os seus filamentos são geralmente imbricados, com muitos nós. Solta a casca com muita facilidade, mas o branco é trabalhoso para tirar e quase sempre por falquejo, sem cuja operação não o compram os negociantes (Auxiliador da Indústria Nacional, t.12, p.144). A Tatagiba é árvore cuja madeira emprega-se na construção de casas, canoas e embarcações de altura. Para a tintura, serve a tinta amarela extraída por cozimento de seu lenho em água comum, juntando-se-lhe uma porção de pedra ume.

 

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