Tamarindeira

Tamarino, Tamarindo, Tamarindus indica Linneo, Jubay Pison, Siliqua arabica quӕ Tamarindus Marcgrave, Família das leguminosas

Tamarindeira

    História Natural. Árvore alta de folhas parapinuladas, de flores em cachos, cálice turbinado na sua base, dividido superiormente em quatro lobos desiguais e caducos. Corola de três pétalos ondulosos; três estames monadelfos pela sua base; o fruto é uma síliqua como de uma massa ácida, a qual contém muitas sementes. Árvore de quarenta palmos de altura, dois e mais de grossura, copa redonda, folhas muito miúdas; seu fruto é do comprimento de vagem, largura de um dedo. Dentro, há uma polpa ou massa roxa escura envolta em grandes caroços, de muito ácido. Oriundo da Arábia, o Tamarindeiro foi cedo levado para as Américas, onde sua cultura prospera nos jardins; o tronco é coberto de uma casca escura, dá ramos numerosos na sua parte superior. As suas folhas são alternas, elegantes, pinadas, compostas de dez a quinze pares de folíolos opostos, quase sésseis, pequenos, elípticos, obtusos inteiros, glabros, inequilaterais na sua base. Da extremidade dos ramos nascem cachos de dezoito a dez flores, assaz grandes, de cor amarela misturada de verde e riscada de vermelho. Elas se repetem duas vezes no decurso do ano. O cálice é turbinado na base, a corola tem três pétalos ondeados, três estames monodelfos. Apresenta ovário prolongado, estreito, falciforme, felpudo, acabando com estilete curvo. O fruto é uma vagem espessa de quatro a cinco polegadas, de cor encarnada escura, oferecendo intervalos de pressões, cheio por dentro de uma polpa avermelhada, acidulada e de sementes cubóides, irregulares, de cor escura.

     Análise Química. O Vauquelin tirou de uma libra, sete oitavas e trinta e dois grãos de polpa açucarada, ou da conserva de tamarindos em açúcar o que segue: Tartrato ácido de potassa 4 oitavas, dezoito grãos; goma seis oitavas; açúcar duas onças; gelatina uma onça, ácido cítrico uma onça e quatro oitavas; ácido tártrico livre duas oitavas; ácido málico quarenta grãos; matéria feculenta cinco onças, água cinco onças e seis oitavas, dois grãos (Annales de Chimie, t.v). Tournefort assevera que nos esteios quentes a Tamarindeira fornece, pelas rachas que se operam no seu tronco, um suco viscoso o qual logo se converte em um  pó branco que se parece com o cremor de tartro (Acad. des Sciences, 1699). Talvez este suco seja o maná que o botânico Ollivier diz haver tirado dos tamarindeiros.

    Propriedades. A copiosa porção de ácidos de partes amiláceas, gomosas e açucaradas da polpa lhe merecem o primeiro lugar na lista dos medicamentos temperantes e antiflogísticos. Uma onça de polpa fervida durante cinco minutos em uma libra de água e adoçada suficientemente constitui uma bebida fresca que se receita para o tratamento das febres biliosas, das irritações gástricas pouco intensas, pois ela tempera o calor febril. Torna-se a bebida laxativa ajuntando dobrada dose e fazendo ferver meia hora em um vaso de terra envernizado. Emprega-se a polpa como purgativa nas febres biliosas; administra-se na febre amarela, no tifo, nos embaraços gástricos e nas hérnias sufocadas, na disenteria, nas peritonites, nas nefrites agudas, na blenorragia. Porém, usa-se da mesma com muita cautela nas moléstias do peito, pois o ácido da polpa provoca a tosse. Deve-se evitar  ajuntar com a polpa de tamarindos os sais de potassa, uma vez que se sabe que ela os neutraliza e aniquila a sua ação, como o tem reconhecido o Vauquelin. A tisana de tamarindos modifica a ação nociva dos purgantes acres e muito violentos. Convém que o ácido cítrico domine pouco e que não seja levado ao estado de saponáceo pela mistura do açúcar. Pode-se ajuntar vinho no caso de o estômago a aceitar unicamente com a sua adição. A tisana de tamarindos é excelente como meio profilático da febre amarela; aconselha-se aos recém-chegados e acrescenta-se ao uso da tisana o emprego diário dos banhos gerais e de clisteres (Descourlitz, t.2, p.240). Administra-se uma ou duas onças de polpa de tamarindos com mel ou açúcar em forma de electuário. Dilui-se a mesma dose com água fervente ou com soro de leite. Certos facultativos desconfiam que a polpa de tamarindeiros contém cobre e ferro, porém a existência  das partículas destes dois metais tem lugar quando se prepara a conserva de tamarindos em vasos de ferro ou de cobre. O Vauquelin tem avisado a tal respeito e recomendado o emprego dos vasos de terra envernizados. O Baldinger recomenda muito não se receitar o tartro emético com os tamarindos que neutralizam a sua ação e que diminuem igualmente a ação purgativa do senné. Há abundância dos ácidos no fruto tornam o tamarindo adstringentes  e é por tal motivo que os índios os davam nos casos de hemorragias (Anislie, Mat. Med., t.4). No Senegal, os negros usam os tamarindos com mel e arroz, o que dá um alimento muito nutriente. No Brasil, o uso medicinal dos tamarindos é vulgar. As limonadas e as conservas de polpa são conhecidas como refrigerantes, antipútridos e antiescorbúticos. Os marinheiros costumam comprar boas porções de polpa cada vez que fazem os preparativos de viagem. Em várias províncias, vendem-se as frutas nos mercados, as quais se comem nas mesas e são bastante saborosas ao paladar. As negras costumam limpar os dentes com as cinzas e os pós do tronco de árvore, e temos provado a cerveja composta com a polpa das vagens segundo o método conhecido dos Holandeses. “Eu tenho usado uma colher do doce de tamarindos com meio pugilo de nitrato de potassa, com igual quantidade de canela; nas gonorreias, tira a irritação, produz a diurese. Pessoa alguma pode duvidar de sua virtude antifebril, nas febres biliosas. Dela, sempre faço uso na composição de água laxativa vienense” (Relação de alguns produtos medicinais da Paraíba do Norte).

 

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