História Natural. A Tâmara ou Tamareira de Dioccia Hexandria é oriunda da África e da Ásia. Os frutos e as utilidades desta palmeira, diz Arruda, são bem conhecidos em Pernambuco, onde na sua época encontraram já quatorze pés transplantados por um curioso, os quais se desenvolveram muito bem. Igualmente, as tâmaras, diz o autor da Corographia Bahiense, são naturalizadas no Brasil onde prosperam dando fruto que é do tamanho do cajá, de cor escura, polpa doce e caroço pequeno. A Tamareira tem flores dióicas em uma espata monofilo muito ampla; flor masculina: cálice de seis divisões, três exteriores, seis estames; flor fêmea: cálice de seis divisões, um estigma, drupa oblonga, monosperma, sementes achatadas de um lado, lavradas longitudinalmente, umbilicadas e convexas do outro lado; folhas pimadas; folíolos ensiformes e franzidos por dentro. A árvore é copada e tem um porte majestoso, os ramos são flexíveis, o tronco direito, a folhagem frondosa; é palmeira que se desenvolve em terrenos arenosos e áridos, onde outros vegetais recusam prosperar. Por tal motivo, deveria propagar-se a sua cultura nos sertões e nos terrenos secos e arenosos que se encontram em certas províncias do norte, Ceará etc. A tâmara masculina fecunda a tâmara fêmea por meio do vento que transporta os pós fecundantes da primeira sobre a segunda; esta fecundação se provoca artificialmente. As folhas da Tamareira são de dez a doze pés de comprimento, compostas de duas fileiras de folíolos alternos. O fruto é uma drupa ovada, de cor amarelada, contendo sob uma película delgada e lisa uma polpa doce suculenta e uma semente quase lenhosa.
Análise Química. A água fria ou fervente dissolve a maior parte dos princípios que constituem a tâmara como são a goma, o extrativo, o açúcar. Resistem unicamente o parênquima e a película exterior. A tâmara contém açúcar, goma, extrato doce, parênquima, película. Fourcroy e Vauquelin fizerem a análise do pólen da Tamareira: encontra-se uma matéria particular que chamaram poleina. Observa-se uma matéria animal solúvel dentro da água e que se precipita pela infusão de galha, grande porção de ácido málico livre, fosfato de cal e fosfato de magnésia.
Propriedades. Os frutos da Tamareira são colhidos antes de amadurecer, amontoados e depois secados ao sol, são saborosos para comer; da polpa é que transuda o açúcar que se cristaliza, açúcar este idêntico ao que se extrai das uvas. A seiva da Tamareira depois de fermentada produz vinho, aguardente e vinagre; costuma-se comer as folhas não desenvolvidas como se come o palmito. Hipócrates recomendava o cozimento de tâmaras para curar a diarreia, o marasmo, as hemorragias, as inflamações dos rins e da bexiga. Os modernos gabam muito o xarope de tâmaras para a cura da tísica pulmonar e das afecções catarrais do peito. As tâmaras dão uma farinha que não se altera facilmente; a farinha é alimento suave e que sustenta nas viagens longas. Obtém-se álcool pela fermentação da mesma. Antes de estarem maduras, as tâmaras são adstringentes. Elas conservam mesmo depois uma certa adstrição. Nos países onde nasce a tamareira, costumam-se cortar os ramos novos, os quais dão um leite salubre e agradável. Comem-se as folhas jovens e frescas e as flores masculinas com sumo de limão, assim se faz uso da medula. Os caroços não se desprezam, pois uma vez que são quebrados, contusos e amolecidos em água são excelente comida para carneiros e camelos. As folhas desta palmeira recebem igual aceitação industrial para tecer esteiras, tapetes, cestos e chapéus e compõem com os filamentos secos e delgados dos pecíolos um pano bonito e de boa textura.