História Natural. Quarenta e cinco espécies de Vitis são hoje conhecidas. A mais importante, sem dúvida, é a Vitis vinifera, ou a Uveira. O gênero acha-se composto de arbustos sarmentosos, cujas folhas são alternas, inteiras, cordiformes, ou lobadas mais ou menos profundamente, algumas vezes partidas ou recortadas. As flores são hermafroditas nas espécies do Velho Continente; dióicas, polígamas nas do Novo Mundo. Formam panículas opostas às folhas, das quais muitas ficam de ordinário quase inteiramente estéreis e degeneram então em gavinhas ou elos. Elas apresentam os caracteres seguintes: cálice livre, muito curto; há cinco ângulos e cinco dentes rudimentares; corola de cinco pétalos pegados ao exterior de um disco hipógino, côncavos e aderentes entre si pelo cume inflexo, de modo que forma uma peça única que se separa inteira, na ocasião da abertura, em uma espécie de estrela de cinco raios troncados; cinco estames aderentes do mesmo modo que as pétalas, às quais são elas opostas com anteras biloculares, abrindo-se longitudinalmente; ovário livre, rodeado pela base de um disco com cinco lóbulos formados de duas células que contêm cada uma dois óvulos colaterais, ascendentes, pegados à base do septo; o ovário carrega um estigma rente, deprimido e quase peltado. Sucede às flores uma baga globulosa, bilocular, de células dispermas ou monospermas pelo aborto. A pevide ou testa das sementes é dura e óssea; o embrião é muito pequeno, colocado no axo de um albúmen, carnudo e de tecido denso (D'Orbigny, t.13, p.222). A Uveira é oriunda da Ásia, da Arábia, feliz de onde foi levada para a Grécia, Itália, o Mediterrâneo, a Península Ibérica e as Gallias. Hoje a cultura invade uma considerável parte do globo, porém ela é peculiar dos climas temperados. Do lado do norte, não se estende além dos 19 graus centígrados de temperatura. Da parte do sul, não alcança os países tropicais. Neles, a Uveira não fornece mais colheita de vinho, limita-se unicamente a dar frutas urais ou menos saborosas e comestíveis.
Análise Química. O princípio açucarado da uva se desenvolve à medida que a fruta se torna mais madura. As Uveiras dos países meridionais dão frutas e mostos mais ricos de açúcar e de álcool. Mr. Payen coloca em primeira linha os vinhos do Porto e de Madeira que dão 20 partes de álcool puro sobre 100, enquanto os do Reno e de Tokay dão 9 ou 10. Os vinhos encerram em grãos diversos um óleo essencial mais ou menos suave, de onde provém seu aroma ou perfume. Segundo Liebig, a presença do éter ananthico causa o cheiro dos vinhos, cujo princípio se forma durante a fermentação dos mesmos. A cor dos vinhos vermelhos provém das películas das uvas pretas que ficam junto com o mosto durante a fermentação; as mesmas comunicam o tanino ao álcool.
Propriedades. O uso do vinho como bebida data da maior antiguidade. É inútil examinar os benefícios e os males que causa semelhante líquido fermentado. Em medicina, tem grande crédito como tônico, reputa-se o leite da gente velha e entra na composição de uma série de vinhos medicamentosos, mistura constante de qualquer agente com o ácool. Comer uvas frescas serve para curar moléstias crônicas de peito e do ventre. Um célebre médico de Montpellier curou, a poucos anos, um jovem fazendeiro da província do Rio de Janeiro de uma ascite com a simples e única ingestão de uvas durante dois meses seguidos. As uvas secas tornam-se um alimento agradável e constituem hoje um importante ramo de comércio. A indústria dos vinhos, aguardentes e vinagres ocupa a primeira categoria na lista dos consumos de todos os países civilizados. As borras de uvas, depois de haver produzido álcool, servem de esterco e alimento ao gado. Estendidas sobre lâminas de cobre, produzem o verdete empregado nas artes e, sobretudo, nas pinturas. As borras do vinho, as incrustações e depósitos que o líquido deixa sobre as paredes das pipas e barris fornecem ainda o cremor de tártaro ou bitartarato de potassa que tem várias aplicações. As folhas de Uveiras, em razão de seu sabor adstringente, foram já aconselhadas em cozimento para curar a diarreia. O gado as come com prazer. As cepas de videira juntas em feixes são excelente combustível; a combustão fornece cinzas, ricas de sais de potassa. A madeira da videira ligeira, porosa e esponjosa não se pode utilizar nas artes. A cultura da Uveira, o fabrico das arguardentes e dos vinhos são de importância muito secundária para as províncias do Império. Todavia, cumpre relatar o que se tem já experimentado e declarar quais as vantagens. O país alcança repetidos e infrutíferos ensaios.