Abacateiro

Laurus persea Linneo, * persea gratissima Gaertner, Hexandria Monoginia Linneo, Família das laurineas

Abacateiro

   História Natural. Árvore oriunda do Pará, de onde foi levada para as Antilhas e para a Ilha da França em 1750 (Encyclopédie, partie botanique, t.1, p.450). O tronco é corpudo, alto bastante, de figura cônica, de folhagem espessa e sombria, de cume largo e frondoso. Conta hoje sete variedade de abacates. Segundo Jacquin, a árvore chega a ter a altura de trinta a quarenta pés a mais. A casca do tronco é acinzentada e gretada, a madeira é mole e esbranquecida. As folhas são alternas, pecioladas, ovadas, ligeiramente pontudas, verdes, glabras, lisas por cima e por baixo esbranquecidas e felpudas, com nervuras transversais. As flores são numerosas e pequenas de cor branca; o cálice está repartido em seis cortes profundos e oblongos; seis estames com os seus filamentos. Fruta notável pelo tamanho, a qual representa uma pêra da Europa, de cor verde e diâmetro de um coco verde da Índia, ou de um grande marmelo. Um abacate de grossura ordinária pesa doze a quatorze onças; encontram-se alguns que conseguem o peso de uma libra e meia. O abacateiro nasce em terrenos luculentos; a sua cultura tem se propagado do norte para o sul do Império e não excede os limites de São Paulo.

   Análise Química. A fruta tem um sabor agradável de manteiga fresca e de avelã; a pele tira-se com facilidade quando a fruta é bem madura; a polpa é amarela internamente; a primeira camada que se descobre de baixo da pele é esverdeada, tem cor de fistico ou pistache, a qual desvanece à medida que se examina o centro da fruta. A polpa tem a consistência da manteiga fresca, cuja semelhança fez lhe dar o nome de manteiga vegetal. O fruto é quase sem cheiro; todos os animais o procuram com avidez, sobretudo gatos e ratos. A semente, que se acha colocada no centro da fruta, é coberta pelo ariolo; a superfície dos cotilédonos é de ordinário rugosa, amarelada, algumas vezes manchada de rosa. A semente tem desagradável sabor, doce e styplico ao mesmo tempo; ela contém um suco de cor laranja escuro, e também dá um licor leitoso que se torna espesso ao contato do ar e toma uma cor amarela carregada. A semente não é venenosa como alguns pensam. O sumo das sementes extraído pela pressão fermenta logo. O Sr. Avequin, farmacêutico do “Port du prince” (Haiti), publicou, em 1831, no Journal de Chimie Médicale, p.467, um exame químico da fruta do abacate e de sua semente. Dos fatos contidos na Memória, resulta que doze libras de sementes de abacate fresco são compostas das seguintes substâncias: 1º: óleo volátil*; 2º: manita 4 onças; 3º: resina esverdeada amarga; 4º: ácido málico, 5 onças; 5º: açúcar incristalizável e matéria extrativa 5 oitavas; 6º: matéria colorante 5 oitavas; 7º: goma 3 oitavas; 8º: albumina com tamino 2 oitavas; 9º: fécula amilácea 12 onças e 4 oitavas; 10º: matéria saponácea 1 onça e 4 oitavas; 11º: hidroclorato de potassa critalizado; 12º: hidroclorato de cal; 13º: acetato de cal; 14º: fibra vegetal 48 onças e 2 oitavas; 15º: água 123 onças e 7 oitavas; total 12 libras.

   Propriedades. A fruta do abacateiro é de grande apreciação desde alguns anos, seu gosto tem prevalecido em abono de suas qualidades. O célebre botânico Jacquin o reputava o primeiro dos frutos americanos. “Excitat ad venerem tardas persea maritos”: este verso de La Roquette pode explicar a reputação que o abacate granjeou em várias partes da América. O padre Labat diz que na sua época vendiam-se as folhas do abacateiro para serem tomadas em chá nos casos de queda de cavalo, de contusão ou de violentas pancadas. Alguns médicos do Norte reputam os grelos por serem resolutivos e receitam o uso da fruta nos casos de disenteria crônica, e como alimento aos boubáticos. Os religiosos *, diz o Dr. Antônio Pires da Silva Pontes, que em 1780 os visitou em Belém, faziam uso diário de abacate por ser a massa que cobre o núcleo natosa, com sabor de gema de ovos e muito refrigerante. Alguns práticos asseveram que as folhas em infusão provocam a menstruação, porém tal virtude nos parece duvidosa. O suco tirado do caroço fornece uma excelente tinta para marcar a roupa. No Pará, fazem da massa do abacate uma bebida que chamam “caribé”. Poupeé Desportes, em São Domingos, costumava receitar as folhas do abacate com água ferruginosa e sal amoníaco para curar a falta de menstruação, porém estes dois últimos agentes bastam para explicar os proveitos de sua receita. A tisana anti-histérica que vem no seu formulário parece melhor preencher o fim desejado. Receita: “folhas verdes de abacate; uma oitava; açafrão oriental: um escrópulo; água fervente: uma libra; faça-se  (solução aquosa) uma infusão para tomar três xícaras por dia nos casos de amenorreia. O uso comestível das frutas do abacateiro generaliza-se hoje nas mesas brasileiras. Todavia, os estrangeiros fazem maior consumo deles. Os franceses costumam misturar açúcar e limão com a massa natosa e a comem na sobremesa. Alguns juntam-lhe canela em pó e vinho branco. Os ingleses partem as frutas em talhadas e com aromatas, sal e pimenta etc., as comem na mesa junto com carne. Assim fazem também os colonos alemães. Porém, de um modo, geral utilizam-se as frutas como sobremesa e no Norte, onde elas abundam, dão-se às galinhas e às vacas muitas vezes para sua alimentação.

 

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