Seringueira

Seringueira de borracha, Siringueira, Pau seringa, Hevea guianensis Aublet, Siphonia elastica Pers, Siphonia cahuchu Wildenow, Siphonia brasiliensis Kunth, Jatropha elastica Linneo, Siphonia rhytido carpa Martius, Família das euphorbiaceas

Seringueira

      História Natural. As Seringueiras são árvores das várzeas das quais se tira a borracha ou goma elástica pelo estilo aprendido dos cambebas, que foram os primeiros a quem viram fabricar esta resina; pertencem  ao gênero Siphonia, estabelecido por Richard com as seguintes características: Flores monóicas, cálice fendido em 5 lacínias; pré-florescência valvulada, destacando-se depois da florescência com uma fenda circular perto da base; sem corola; flores masculinas com filetes pegados a uma coluna livre por cima, espécie de rudimento do pistilo tendo um ou dois verticilos de cinco anteras inatas. Flores fêmeas com três estigmas rentes, ligeiramente bilobados, ovário marcado por seis gomos e formado de três células; fruta capsular grande, coberta de uma casca fibrosa, separando-se em três cascas de duas válvulas. As duas espécies, a Siphonia cahuchu Wildenow, que logo  Aublet nomeou Hevea guianensis e a Siphonia brasiliensis Kunth se encontram nas províncias do Pará e do Rio Negro. A primeira é árvore de cinquenta a sessenta pés de altura sobre dois ou três de largura; o tronco ramifica-se até o topo; casca cinzenta, um pouco espessa; folíolos cuneiformes e obovais, redondos, algumas vezes mucronados, glabros, verdes por baixo, glaucos por cima, de três polegadas de comprimento, dois de largura; pecíolo comum, panículas maiores do que as folhas; flores pequenas; cápsula trígona, esverdeada e oblonga. A Siphonia brasiliensis de Kunth é árvore alta de sessenta pés, de folíolos oblongos, acuminados, estreitos na base, e marcada de pontos por baixo; o terminal é longo, de dez polegadas sobre três de largura; as laterais são mais curtas; cápsula globulosa. Destas árvores destila um suco lácteo, que condensado, constitui a goma elástica paraense conhecida com o nome de cacoutchouc (cautecuc). A resina elástica fóssil chama-se tapicho. O uso dos metrenchylos, já desde muito conhecido pelos índios, originou o nome da árvore entre os brasileiros

       Análise Química. Segundo Faraday, o suco lácteo contém cacoutchouc, cera albumina vegetal, matéria azotada que se dissolve dentro da água e do álcool, muito amarga, matéria que se dissolve só com água, ácido livre. Três onças de cacoutchouc deram pela destilação gás hidrogênio carbonado, gás ácido carbônico 13,75. Óleo betuminoso 73; água ligeiramente acidulada 1,50; carvão 6,29; cinzas 5,5 (ver Klaporth, Systema de Chimica de Thompson). A goma elástica acha-se misturada com várias matérias dentro do suco lácteo das Siphonias. A água predomina; o leite é composto de serum, líquido aquoso no qual existem glóbulos que dão a cor. Mr. Schultz, que fez grandes averiguações dos sucos leitosos das plantas ou látex vegetal, diz que o cacoutchouc se encontra dentro do serum e se  coagula do mesmo modo que o sangue. Todavia, as pesquisas de Mr. Mohl resolveram a questão mostrando que o cacoutchouc existe nos glóbulos e não dentro do serum. A goma elástica tem uma cor denegrida, sem cheiro nem sabor; sua densidade varia de 0,92 a 0,94; torna-se inalterável ao ar livre, mole, flexível, impermeável e, sobretudo, elástico. Compõe-se de dois princípios: carbono e hidrogênio, que Mr. Payen conseguiu separar em 1852; um dilatável, rijo, quase insolúvel, elástico; outro solúvel e essencialmente plástico. Submetido à ação de um calor moderado, o cacoutchouc se torna mole o ponto de pegar consigo e ficar aderente; entra em fusão com a temperatura mais elevada e conserva este estado muitos anos depois de haver arrefecido. Um calor ainda mais intenso produz sua decomposição e então ele dá, pela destilação, óleo volátil cheiroso ou cacoutchouc, que goza da propriedade de o dissolver inteiramente. Posto em contato com a luz de uma vela acesa, pega fogo e queima-se rapidamente. O cacoutchouc não se dissolve dentro da água ou do álcool; porém, opera-se a sua dissolução dentro do éter ou de óleos essenciais, como a benzina; essência de terebintina, sulfureto de carbono. Este último agente, misturado de seis a oito partes de álcool, constitui o melhor dissolvente do cacoutchouc. Os ácidos e a temperatura baixa pouco valem para alterá-lo ou dissolvê-lo.  

      Propriedades. Extrai-se a goma elástica de muitos vegetais das famílias das artocarpeas, asclepiades e apocyneas, porém as siphonias fornecem em maior porção o cacoutchouc e de melhor qualidade. Quando se procura extrair o suco leitoso do tronco das árvores, diz Aublet, principia-se a praticar no pé da árvore um largo entalhe. Por intervalos, fazem-se, no mesmo tronco, largas incisões que correspondem à primeira. Assim, corre o suco leitoso de uma vez pelo entalhe maior, recebido dentro de uma gamela ou vasilha pegada ao tronco da árvore. Exposto assim ao ar, o suco logo se coagula e toma as formas dos moldes sobre os quais se aplica. Os índios gostam de fabricar vários modelos de garrafões, de pássaros. Porém, desde que o comércio da goma elástica tornou-se objeto de rápido e visível aumento, as massas sólidas de forma quadrada, verdadeiras chapas estampadas com máquinas, facilitaram assim o transporte e embarque. A operação de extrair o suco como geralmente se pratica tem muitos inconvenientes que se remediam com os instrumentos inventados em Havana, cujo auxílio faz com que o homem possa em um só dia colher a goma de trezentas árvores (ver Memória sobre a goma elástica remetida à Sociedade Auxiliadora pelo Sr. Luiz Henrique Ferreira de Aguiar. Auxiliador, 6 de junho de 1844, p.105). A exportação da borracha constitui hoje um ramo importante dos negócios nas províncias do Pará e Rio Negro. O preço da borracha tem triplicado desde alguns anos. Em 1733, os primeiros navios que levaram para Lisboa amostras, bonecos, garrafões e figuras grotescas de borracha foram vendidos por ridículo preço. Agora o artigo dá avultadas quantias. Segundo os mapas de exportação, o comércio da borracha paraense regula: [Em branco].

São numerosos os usos da borracha para as artes e a indústria; ela serve para o desenho, para fabricar bolas elásticas, tubos destinados aos aparelhos químicos, instrumentos de cirurgia, sondas, cânulas, bicos de peito, tubos acústicos, calçados e chitas impermeáveis. A indústria obtém dela fios delgados com que se fabricam suspensórios, ligas, espartilhos etc. A borracha dissolvida e misturada com óleo de linhaça e resina faz um verniz para as obras de cobre. Emprega-se muito nas artes a goma elástica vulcanizada, misturada com sulfureto de carbono ou com cloreto de enxofre. As torneiras e rolhas de cacoutchouc são de grande estimação; a borracha serve hoje para calafetar os navios. Em Londres, conseguiu-se construir barcas e canoas de borracha e, em Paris, há pouco tempo foi feito o ensaio feliz de uma ponte para o trânsito  das tropas, toda ela fabricada de goma elástica. Seria uma fonte de riquezas para as províncias do Pará e Alto Amazonas se o governo coadjuvasse a cultura das seringueiras. Reputa-se o melhor modo de cultura a seringueira por estacas. As operações práticas acham-se exatamente reproduzidas a tal respeito no Auxiliador da Indústria Nacional ( junho, 1844).

 

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