História Natural. Árvore de 15 a 20 pés de altura, tronco tortuoso, ramos delgados, folheados e espinhosos, folhas um pouco coriáceas, glabras, lanceoladas, elípticas, oblongas ou obtusas e pontudas, ligeiramente onduladas, brevemente pecioladas; flores solitárias ou agregadas de cor escarlate brilhante, ou que se torna branca ou amarela pelos efeitos da cultura. Cálice de lobos largos triangulares, um pouco pontudos, calosos por cima. Pétalos séssseis, ovados, orbiculares; estames da mesma cor que os pétalos, fruta de casca avermelhada e amarelada, do tamanho de uma laranja, chama-se Romã, tem coroa na parte oposta dos pés; a flor das 2 espécies, doce e azeda, apresenta uma cor púrpura com figura de coroa. Cultivam-se 3 espécies vulgarmente: a doce, a azeda e a doce azeda; a espécie Balaustria ou Romeira officinal abunda no sul do Brasil. Alguns curiosos cultivam a Punica nana ou Romeira anã, que dá folhas lineares, flores escarlates e frutas pequenas. As espécies da China que deitam flores amarelas e brancas são igualmente conhecidas pelos nossos horticultores. A Romeira é árvore que dura séculos; a sua cultura requer terra substancial e bem regada e necessita frequentes cortes para serem as árvores desbastadas dos ramos que tiverem de mais.
Análise Química. A casca da raiz contém óleo sebáceo, rançoso, ácido tânico, amido, fibra vegetal e albumina (Berzelius). A casca contém cera, clorofila, resina abundante, ácido gálico, tanino, matéria cristalina, chamada grenadina, matéria gordurenta (Journal de Pharmacie, t.27). A Grenadina é composta de cera, resina, suco de mauna, goma, insulina, mucilagem vegetal, ácido tânico, ácido gálico, extrato, ácido málico, pectina, oxalato de cal, fibra vegetal (ver Tratado de Chimica de Berzelius).
Propriedades. A casca da raiz de Romeira foi pela primeira vez receitada em cozimento para a tênia ou solitária, pelo Dr. Bernardino Antônio Gomes. As sementes do tamanho de um grão de cevada envolvidas por uma substância gelatinosa avermelhada dão um suco saboroso, acidulado, ligeiramente açucarado, são comestíveis e frescas. Utilizam-se em medicina 1º) A raiz, 2º) as flores, 3º) a casca da fruta, 4º) o suco das sementes. Depois dos antigos Dioscoride, Plínio e Celso, depois dos ensaios de Buchanan em Calcutá e de Fleming na ilha de Java, Bernardino Antônio Gomes publicou uma memória sobre as virtudes tenífugas da Romeira e relatou 14 casos de cura, obtidos pela aplicação do cozimento da casca da raiz (Memória etc Lisboa, 1822). O tratamento é fácil. Consiste em uma decocção de 2 onças de casca da raiz fresca da Romeira em 1 libra e meia de água, reduzida a 1 libra. Administra-se em 3 doses com intervalo de 1 hora para cada dose, aos enfermos que já coseguiram expelir as tênias. A casca seca é menos ativa e falha. Os pós e o extrato tomados em pílulas são remédios infiéis. As flores chamadas Citrus pelos farmacêuticos Dioscoride e Balaustre não são vermífugas, mas sim adstringentes. O cozimento delas convém muito nos casos de gonorreias mucosas, diarreias crônicas e hemorragia passivas. A casca da fruta é espessa de 1 a 2 linhas, chamada Malicorium ou Malicório, de cor amarela avermelhada, inodora, amarga, contém muito tanino e óleo volátil. Serve para remédio adstringente e nas artes. Desde os tempos antigos, o seu emprego é conhecido para curtir couros e tingir com uma bela tinta encarnada os marroquins e chitas ordinárias. A fruta, Malum punicum dos antigos, apresenta a forma de uma bela maçã. O suco das sementes é fresco e temperante, administra-se aos febricitantes nos países quentes e, misturado com açúcar e água, faz-se uma deliciosa limonada que convém muito nos casos de cardialgia e de inflamações dos órgão urinários. Combinam-se doces, confeitos, sorvetes com a fruta da Romeira, preparações que agradam ao paladar. O vinho que os antigos preparavam, vinho de palladius, teve boa fama e, mesmo hoje, o seu emprego não é de se desprezar.