Quina do Campo

Mandana, Strychnos pseudoquina, Família das apocineas

Quina do Campo

     História Natural.  A. St'Hilaire descreve a Quina do Campo do seguinte modo: árvore de quase 12 pés, tortuosa, enguiçado, sem espinhos; casca suberosa mole, amarela, cor de ocre exteriormente, mais compacta, mais dura e mais cinzenta por baixo; de ramos numerosos e figurando uma cabeça única como a macieira, de râmulos tetrágonos e cobertos de pelos arruivados. Folhas opostas, pecíolos curtos, sem estípulas, compridas de 3 a 4 polegadas, ovais, agudas enquanto novas, depois ficam um pouco embotadas, inteiras, duras, quebradiças, de cor verde amarelada, providas de uma borda calosa, coberta por baixo de um coton ruivo, glabras ou apenas pubescente por cima, com cinco nervuras, a intermediária direita, as outras opostas por par e convergentes; pecíolo espesso, de duas a três linhas de comprimento, articulado um pouco em cima da sua base, pubescente quase cilíndrico. Cachos axilares compostos, aproximando-se da panícula, ascendente, mais curta que as folhas, felpudas e contínuas com um curto pedúnculo carregado na sua base de duas brácteas ovadas, agudas, côncavas e peludas; ramos da panícula opostos, estendidos, diminuindo de comprimento, da base ao ápice, singelos, repartidos apresentando duas brácteas lineares, agudas e peludas, flores numerosas, de cheiro aromático suave como o do lilás, sustentadas por um pedicelo peludo. Cálice pequeno, quinquepartido, hirsuto, de pelos ruivos, com lacínias lineares e agudas. Corola hipógina, hipocrateriforme, pubescente, fendida em 5 lacínias, esbranquiçadas ou esverdeadas; 5 anteras sésseis; sem nectário; estilete por vezes peludo; estigma um pouco trilobado; ovário glabro ovoide, bilocular, polispermo. Baga globulosa, glabra, amarela, luzidia, contendo sob uma casca coriácea 1 a 4 sementes discoides, orbiculares, achatadas (Plantes Usuelles des Brésiliens).

     Análise Química. A análise feita em 1823 por Vauquelin fornece uma matéria amarga muito abundante, resina, goma colorida, ácido particular, não se encontra quinina nem cinchonina, e coisa extraordinária: sendo a planta do gênero Strychnos, não se verifica a presença de qualquer átomo de noz vômica. A análise feita ultimamente por Mercadieu não conseguiu descobrir álcali vegetal que representasse o princípio ativo da planta.

   Propriedades. Encontra-se a Quina do Campo nos taboleros cobertos, nos pastos da parte ocidental de Minas, sobretudo no sertão, em Minas Novas, nos distritos de Diamantina e no interior da província de Goiás. De todas as plantas brasileiras, poucas há cujo uso seja tão amplo como o da  Quina do Campo. A baga tem sabor adocicado e é comestível; todas as partes da planta possuem um sabor amargo e adstringente, sobretudo a casca que concentra tal virtude e intensidade de amargor que os facultativos e doentes confiam nos seus efeitos. Em Minas, administra-se a Quina do Campo em todos os casos para os quais médicos europeus receitam a Quina do Peru. Com esta poderosa casca, os facultativos do país debelam as febres intermitentes que acometem as povoações das margens do rio de São Francisco, do Haiti e de muitos outros lugares pantanosos. Emprega-se a casca do pseudoquina em cozimento, em pós, na dose de uma oitava ou meia oitava, em extrato; os médicos de Minas asseveram que os efeitos terapêuticos correspondem aos da casca peruana. Os professores de Paris, Segalas e Courtier, experimentaram o uso do pseudoquina e obtiveram casos de curas contra febres que haviam resistido ao emprego da verdadeira Quina peruana. Seria útil tentar novos ensaios: a consequência seria o abastecimento do mercado com uma casca muito menos cara do que as cascas de Quina verdadeira e a descoberta de que, além da quinina, existem outros ativos tirados dos vegetais que curam perfeitamente as febres perniciosas e intermitentes. A casca da Quina do campo ou de Mandana tem uma epiderme de cor amarela cinzenta e por vezes rosada; o seu tecido é granuloso, quebradiço, inodoro; o sabor é forte e picante.

 

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