Figueira mansa brava

Ficus carica, Ficus carica caprificus, Ficus doliaria, Ficus anthelmintica, Gamelleiras, Família das urticineas

Figueira mansa brava

        História Natural. A Figueira mansa, Figueira do Reino frutifica por todas as províncias do Império, e por toda a parte os pássaros e sevandijas fazem cruel guerra aos figos. A naturalidade da Figueira mansa e de suas infinitas variedades data dos primeiros tempos da descoberta. Gabriel Soares de Souza conta que “as Figueiras na Bahia se dão de maneira que no primeiro ano as plantas vêm com novidades e, daí por diante, dão figos em todo o ano. Delas não caem folhas, e as que dão logo novidade e figos em todo o ano são as figueiras pretas, que dão figos pretos muito grandes e saborosos. As árvores não são muito grandes, nem duram muito tempo porque, como são de cinco, seis anos, logo se enchem de carrapatos que as comem e lhes fazem cair as folhas. ensoar o fruto, os quais figos pretos não criam bichos como os de Portugal.” “Também há outras figueiras pretas que dão figos beberais muito saborosos, as quais são árvores maiores duram perfeitas mais anos que as outras, mas não dão a novidade tão depressa”. (Roteiro do Brasil, p.155). As Figueiras mansas figuram nos plantios dos arredores das cidades, nos quintais e rocinhas de todas as províncias do Império. As Figueiras bravas, brancas, silvestres são peculiares do Brasil e pertencem ao gênero Pharmacosycea da monographia de Martius São nove as espécies; as do gênero Urostigma chegam ao número de quarenta. As figueiras conseguem uma altura colossal, chegam a uma grossura de corpo por vezes extraordinária, dando ramos copados e cimeiras frondosas, que na zona tórrida abriga os viajantes contra o ardor do sol abrazador. São árvores majestosas em todo o Brasil, confessa o Príncipe Maximiliano Neuwied (t.2, p.189). Uma figueira é um compêndio de quase todos os ramos das ciências naturais. Humboldt, nas suas obras e viagens, não cessa de elogiar o belo porte, a gigantesca altura e o desenvolvimento das figueiras silvestres. O que de mais notável se observa nas figueiras, diz  Humboldt (Voyage aux regions equinioxiales, t.5, p.113), são as excrecências lenhosas que saem daquelas árvores como espécies de costelas ou arestas, as quais aumentam até vinte pés acima do solo e a espessura do tronco das figueiras. Achei árvores que bem perto das raízes chegam a 22 pés de diâmetro. Aquelas arestas lenhosas se separam algumas vezes do tronco, a oito pés de altura, transformando-se em raízes cilíndricas de dois pés de espessura. A árvore parece então sustentada como se tivesse esteios. A armação não penetra, todavia, muito profundamente na terra. As raízes laterais serpejam a superfície do solo e, quando separam com golpes de machado a vinte pés de distância do tronco, salta o suco leitoso da figueira, o qual se coagula logo e se altera imediatamente. Dentro de tais árvores gigantescas, a nutrição torna-se vigorosa a ponto de lhes propiciar uma altura de 180 pés e realiza-se por meio de fibras dotadas de todos os movimentos da vida orgânica, por baixo de uma casca dura e áspera. As figueiras silvestres se encontram tanto no beira-mar como nas Serras marítimas, no interior do sertão do centro e do norte como também nas terras e campos do sul do Império. Pará, Rio Negro, Piauí, Pernambuco, Ceará, Goiás possuem gigantescas figueiras. No sul, a Urostigma enorme desenvolve o seu completo corpo. A maior que se conhece no Brasil acha-se em São Paulo, na freguesia de Nossa Senhora de Aparecida (ver Gamelleira, Coaxiunva).

          Propriedades. As infinitas variedades de Figueira mansa ou Figueira do Reino dão excelentes frutas de saboroso paladar e bastante nutritivo em razão do açúcar, da goma, da fibrina e da gordura, além dos fosfatos e cloruretos de cal que elas encerram, segundo a análise de Berzelius. A cultura reclama terrenos que não sejam muito secos. Plantam-se de estacas em covas bem fundas ou enxertam-se de escudo no alto. O grande cuidado dos horticultores é de preservar as figueiras dos ataques das formigas. As Figueiras bravas fornecem várias espécies à matéria médica brasileira; as castas medicinais são as dos Ficus (doliaria e anthelminticos), as Gamelleira (branca, vermelha, de pregos). As madeiras servem para construir canoas, gamelas e tabuados. Algumas espécies de figueiras dão uma matéria resinosa ou espécie de laca que os índios empregam para algumas obras industriais. Da casca, se tem feito igualmente alguns usos industriais. Extrai-se borracha do Ficus elástica.

 

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