Pinhão de purga

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Pinhão de purga

    História Natural. Arbusto copado, cheio de um suco leitoso, acre, adstringente, que deita um cheiro narcótico. Madeira mole, quebradiça, cheia de medula, tronco cilíndrico, cinzento, unido, dividido em ramos compridos, folhados no topo, quase nus no resto de sua extensão e carregado de nós ou cicatrizes das folhas caídas. Folhas pecioladas, codiformes, pontudas, angulosas, com nervuras e veias, glabras, verdes, lustrosas. Flores pequenas, numerosas, pediceladas, nascendo em raminhos pedunculados, axilares ou laterais, quase corimbíferos, mais curtos que o pecíolo. O cálice é de uma lacínia, a corola monopétala segundo Jacquin, e campanulada. Cinco glândulas amarelas, orbiculares, obtusas, acham-se colocadas dentro da corola perto da base dos filamentos. Dez estames; fruta oval, no princípio, depois torna-se amarela e, finalmente, denegrida; forma e grossura de uma noz. Encerra sob uma casca espessa, rugosa, coriácea, glabra, três células bivalvas, esbranquiçadadas, monospermas. Sementes oblongas, convexas por fora, angulosas internamente, quase cilíndricas e rodeadas de duas túnicas próprias. A exterior é crustácea, frágil, denegrida. A simples compressão das amêndoas entre os dedos faz sair ou exsudar uma matéria oleosa. O arbusto nasce nos lugares úmidos e quentes, nas margens dos rios e nas vargens.

    Análise Química. Pelletier e Caventou dizem que o Pinhão contém óleo gordurento misturado com o ácido jatrophico, goma, fibra lenhosa, albumina solúvel e outra insolúvel. O óleo de Pinhão assemelha-se muito ao óleo de croton pelas suas virtudes. Soubeiran achou nas amêndoas óleo, glutina, goma, açúcar, ácido málico, alguns sais, matéria fixa (Jl. de Pharm., t.XV). Cadet encontrou nas amêndoas albumina, goma, fibra lenhosa, princípio resinoso (Curcasina), óleo fixo, ácido (Jl. de Pharm., t.X). O ácido jatrophico tem um cheiro penetrante, um sabor muito acre. O jatrophato de amoníaco associado aos sais de protóxido de ferro dá um precipitado de cor isabella e fornece um precipitado branco como os sais de chumbo, de prata ou de cobre (Hoëffer).

   Propriedades. “Purgante conhecido do povo e enunciado por Pison; de três até nove sementes é a dose de que usam vulgarmente assadas, o que produz dejeções e vômitos. Conhecemos um pároco que conservava sempre grandes porções de sementes misturadas com açúcar, e aplicava-as a seus fregueses indistintamente com o nome de maná, atestando seus efeitos e conservando a preparação em segredo. Temos usado do óleo em dose de um escrópulo a uma oitava” (Manso, Das euphorbiaceas, p.323). “Dois, três até quatro pinhões são suficientes para fazer obrar bastante. Em maior quantidade, tem causado a morte. Pela expressão, ou como se obtém mais vulgarmente, pela cocção das sementes pisadas, extrai-se o óleo muito claro que se tem empregado internamente nos casos de hidropisias, cólicas, afecções verminosas; externamente nas contrações dos membros, nas dores de ouvido, na surdez, em várias moléstias cutâneas. Administra-se o cozimento das folhas em clisteres” (Vicente Gomes da Silva, Ensaio de matéria médica, manuscrito). “Arbusto que se encontra a cada passo na vizinhança das casas e nos quintais, já conhecido pelos selvagens da tribo tupi e cujas sementes, chamadas pelos brasileiros Pinhões de purga, são usadas na prática europeia com os nomes de sementes de Rícino maior ou Figo do inferno, ou Nozes catárticas, ou de Barbadas. São estas sementes drásticas e eméticas, na dose de meia oitava. Por causa de seu demasiado efeito, hoje estão quase abandonadas. O óleo delas expresso, óleo de rícino maior ou óleo infernal, é comparável ao de croton (Martius, Matéria Médica, p.160, tradução Dr. Henrique Vellozo). O texto dos três escritores patenteia a maior propriedade dos pinhões ou Pinhão de purga. Pison os recomendava muito nos casos de obstruções das vísceras abdominais; aconselhava administrar com grande cautela três a quatro sementes, tirando-lhes a película exterior e interna, assadas e depois maceradas em vinho, com adição de alguma substância aromática. Commerson diz que, na ilha de Bourbon, combate-se o efeito nocivo dos pinhões com o uso de água fria em banhos e bebidas. Como a árvore multiplica-se com facilidade em estacas, bom será utilizá-las como meio de cercar pastos e campos abertos. O suco leitoso mancha a roupa. O modo mais seguro de tomar o pinhão para purgar-se consiste em socar duas a três sementes e depois fervê-las com seis onças de leite puro e tomar a dose com açúcar, de manhã, em jejum. O efeito é suave. O óleo é muito acre e drástico, difere do óleo de rícino por não ser solúvel dentro do álcool. Purga na dose de 8 a 12 gotas. As sementes fornecem, segundo a asserção de Guibourt, boa porção de estearina.

 

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