Pimenteira da Índia

Pipereira negra, Piper nigrum Linneo, Pimenteira do reino, Piper aromaticum, Família das piperaceas

Pimenteira da Índia

      História Natural. Arbusto importado do arquipélago indiático e assaz cultivado (Martius, Matéria Médica). Eis a descrição que dá Frei Vellozo na sua Memória sobre a pimenta da Índia, publicada em 1798: “a pipereira é uma trepadeira ou enlaçadeira, cujo pé é de casca parda, chegará à grossura quase de um palmo de diâmetro quando contar muitos anos; mas, ordinariamente, é de duas polegadas, pouco mais ou menos; espalha também a sua ramagem por varinhas pardas, mais verdes e delgadas na sua extremidade. Sobe por árvores altas, como são as arequiceas palmeiras, mangueiras, jaqueiras e outras silvestres, cobrindo-as da verdura da sua folhagem, e são copadas até vinte ou trinta côvados de altura, e elas as fazem quase estéreis. As varas, que se enterram por sementeira ao pé daquelas árvores, ou de qualquer parcela, brotam olhos novos, que depois vêm a se prolongar também em varas e se lhes deve procurar no princípio que tenham algum gênero de arrimo para as raízes, com que se pegam ou atando-as com qualquer cordel delgado ou aplicando-se-lhes alguma bosta de vaca ou terra lodosa, para que as mesmas raízes mais seguramente possam prender-se; posto que sem esta prevenção, por si mesma sobe esta trepadeira e busca a sua direção. Mas sucede que a sua ramagem se estende algumas vezes pelo chão e as suas varas ficam mais grossas que as que trepam, e não produzem o grão da pimenta em abundância, ou quase que produzem muito pouco; o que não sucede quando se firmam nas árvores, talvez pelo suco nutritivo que delas extraem mais abundante, mais homogêneo, e mais próprio que o da terra; as folhas da pipereira são do tamanho quase da palma da mão, maiores e menores, de figura redonda na base, oblongas, pontiagudas na extremidade, em forma de coração ou de ponta de ferro de lança, são de um verde escuro por cima, mais lívidas e claras por baixo, duras, lisas, um pouco lustrosas, e com cinco radios fibrosos que, saindo do centro de seu pé, terminam para a ponta, pendidas para baixo, aromáticas e cheirosas” (Memória e extratos). Depois de três ou quatro anos de seu plantio, dá o fruto da pimenta sem flor, em uma delgadíssima haste; são granitos miudíssimos, verdes no princípio, depois amarelos e vermelhos, pretos quando secos e de pele enrugada.

    Análise Química. Segundo o trabalho de Pelletier, a Pipereira negra contém uma substância particular, não alcalina, que o Oersted apontou em 1820, a piperina, um óleo concreto, muito acre, um óleo balsâmico, uma matéria gomosa e cheirosa que tem cor, um extrato, ácidos gálicos e tártricos, amido, bassorina, lenhoso e pequena porção de sais alcalinos e tartáricos.

   Propriedades. As folhas aromáticas são medicinais; a pimenta, que tem um gosto aromático ardente, é resolutiva; as folhas cozidas são usadas gargarejos e curam as inflamações de garganta e de gengivas inchadas. As bagas globulosas são objeto de grande consumo nos mercados do globo para servir de tempero. Tirada a polpa, a semente que fica vem a ser a pimenta branca dos boticários. A pimenta de sabor e cheiro picantes, misturadas aos alimentos com certa moderação, opera como digestivo e favorece a ação do estômago. Recomenda-se seu uso nos países úmidos aos temperamentos linfáticos ou a pessoas dotadas de uma gordura balofa. Tanto internamente como externamente, a Pimenta excita; o licor e a tintura alcoólica se empregam com esse dobrado fim. A cultura da pimenteira é fácil; ela tem se desenvolvido na Índia a ponto de fornecer hoje cinquenta milhões de libras por ano. No Brasil, foi tentada a cultura nas províncias do Maranhão e do Pará, sem que se lhe desse grande importância. Os pés dão duas colheitas por ano, e cada um pode dar quinze libras anualmente; a fruta aparece no terceiro ano e continua a prosperar durante dez anos. Ela amadurece no espaço de quatro ou cinco meses; colhida, faz-se secar ao sol sobre esteiras e depois é enviada aos mercados como objeto comercial.

 

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