Lúpulo, Humulus lupulus Linneo, Lupulus Scandens Lamarck, Lupulus communis Gaertner, Família das cannabineas
História Natural. O Lúpulo é uma planta perene e trepadeira, que renova todos os anos os seus sarmentos. A grossura dos mesmos depende do corte, e a sua altura chega algumas vezes a 50 até 60 pés. A raiz é forte, lenhosa, medulosa, mais tenra do que dura, e entra na terra até quatro pés. Os sarmentos são herbáceos, ocos por dentro, contendo copiosa seiva; por fora são escabrosos, quase espinhosos. Os cachos de fruta representam uma espiga oval, formada de folhas escamosas, compridas, amarelo-verde, imbricadas uma por cima das outras, peludas, quase transparentes e nervosas, cobertas com um pólen fino e amarelo, tendo um cheiro muito aromático e entorpecente, um gosto amargo, um pouco ardente. No fundo das flores, acha-se um ovário munido de dois pistilos em forma de canudos e abertos. A fruta do Lúpulo consiste de uma pequena noz redonda, um pouco chata, de cor escura e dentro de um cálice delgado, mas firme e escamoso, o qual contém uma substância amarela e granular aparecendo à vista como uma poeira fina tendo grãos redondos, amarelos e transparentes. É o que se chama farinha de Lúpulo ou lupulina. Distinguem-se quatro qualidades de Lúpulo nomeadas Lúpulo precoce, com sarmentos semi-encarnados, Lúpulo tardio, com sarmentos verdes, o Lúpulo com sarmentos azuis, o Lúpulo com sarmentos vermelhos.
Análise Química. Segundo a análise de Payen e Chevallier, o Lúpulo contém água, óleo essencial, suracetato de amoníaco, ácido carbônico, matéria branca solúvel, malato de cal, albumina, goma, ácido málico, resina, matéria verde, princípio amargo, matéria gordurenta, clorofila, acetato de cal e de amoníaco, nitrato, muriato e sulfato de potassa, surcarbonato de potassa, carbonato e fosfato de cal, vestígios de fosfato de magnésia, enxofre, óxido de ferro e silício (Jl. de Phamacie, t.8, p.226). A lupulina contém um princípio cheiroso, cera, resina, tanino com ácido gálico, princípio amargo, matéria extrativa, fibra lenhosa (Ibdem). Os gomos recentes encerram acido tânico e málico e *. As cinzas do Lúpulo são compostas de potassa, soda, cal, magnésia, alumínio, sesquióxido de ferro, de carvão, de ácido fosfórico, sulfúrico, silícico, carbônico e de cloro (Annuário de Milton et Reissez, 1849).
Propriedades. A Revista Polytechnica, periódico redigido pelo Dr. F. Schmidt, dedicado à agricultura tropical, faz menção ao Lúpulo como planta essencialmente útil, para ser cultivado nas províncias do sul, sobretudo nos campos do Rio Grande de São Pedro do Sul. O Lúpulo prospera em terreno descoberto de todos os lados, gozando da luz do sol durante o dia todo; requer um terreno ao pé dos morros, em lugares que declinam para vales e planícies e não sejam pantanosos. A terra deve ser profunda e fértil porque as raízes costumam penetrar profundamente; a terra argilosa ou arenosa serve igualmente uma vez que se acha coberta de suficiente porção de húmus. Já se tem aconselhado aos colonos alemães cultivar o Lúpulo e têm vindo muitas plantas da Baviera e do ducado de Baden, porém receamos que uma tal cultura, que seria muito proveitosa ao Rio Grande do Sul, não seja senão uma mera tentativa de curiosidade. O Lúpulo é o primeiro elemento do fabrico da cerveja e, onde não se faz cerveja, o trabalhador perde a metade dos recreios da vida, porque nenhuma outra bebida pode supri-la. (Dr. Schmidt, p.15, fevereiro, 1853). M. J. Personne, farmacêutico, acaba de publicar um novo trabalho acerca da lupulina (Histoire Chimique et naturelle du Lupulin, Paris, 1854). Já em 1827, a célebre Raspail havia examinado a mesma substância e Mr. Planche, em 1821, escrevia que ela provinha do Lúpulo como o quinino da Quina, a Strychnina da Noz vômica. A lupulina foi aceita no norte da América como um narcótico que pode substituir o ópio em certos casos, assevera o Dr. Ives; é substância aromática, tóxica e narcótica ao mesmo tempo. Mr. Personne não abona a tal propriedade narcótica, considera o Lúpulo como um poderoso antiespasmódico que pode se igualar à Valeriana sendo, aliás, tônico. O cozimento do Lúpulo é única bebida conhecida na matéria médica; costuma-se fazer uma infusão de quinze gramas do Lúpulo dentro de um quilograma de água fervente, da qual se prescrevem três doses por dia. Cumpre filtrar a infusão que é clara, aromática, e amarga, contendo o princípio amargo da lupulina e os princípios oleosos aromáticos que se acham dissolvidos mediante boa porção de resina. As preparações farmacêuticas da Lupulina que hoje são adotadas são a tintura alcoólica, o extrato alcoólico e o xarope de lupulina, a geleia e a pomada da mesma, preparações que podem rivalizar com as da valeriana.