Pau-pereira

Pau forquilha, Pau de pente, Ubá-assú, Canudo amargoso, Pignaciba, Chapéu de sol, Camará do mato, Camará de bibro, Tabernaemontana laevis Vellozo, Vallesia Riedel, Geissospermum vellosii Freire Alemão, Família das apocineas

Pau-pereira

     História Natural. As dúvidas do Velloso, de Martius e de Riedel levaram o Dr. Freire Allemão a tentar novas pesquisas acerca do Pau-pereira, cujo resultado foi o de criar um novo gênero, Geissospermum, dedicado a Vellozo, baseando na disposição das sementes o caráter genérico. Eis a descrição do Pau-pereira: “Ramos tortuosos, copados, raminhos dicotômicos, raras vezes tricotômicos, com as divisões espalmadas horizontalmente, longos, flexíveis, cobertos de um tomento pardo, caduco. Folhas alternadas, patentes e distichadas nos ramos por causa da direção horizontal destes, que por isso tomam a aparência de palmas; pecíolo curto de duas a três linhas, subcanaliculado; limbo oval-lanceolado, de duas a três polegadas de comprimento sobre um a uma e meia de largura; agudo na base, na ponta longamente acuminado; margem inteira, ondeada; membranosas, subcoriáceas, lustrosas, glabras, conservando apenas restos de pelos, que as cobrem abundantemente nos renovos; penni nerveo, nervuras pouco proeminentes nas duas faces. Sem estípulas, flores pequenas de cor parda, sem cheiro; reunidas em racimos extra-axilares, muito menores que as folhas; pedúnculos angulosos, mais ou menos divididos, divisões curtas, cada uma munida de uma bráctea aguda, caduca, tudo coberto de pelos deitados acetinados de uma cor cinzenta escura, um tanto bronzeada. Cálice monosépalo, persistente, sem glândulas; tubo curtíssimo. Limbo quinquepartido; lacínias agudas, eretas, muito mais curtas que o tubo da corola, um pouco sobrepostas lateralmente no botão, tudo coberto por fora dos mesmos pelos do pedúnculo. Corola hipocrateriforme, herbáceo coriácea, toda coberta por fora dos mesmos pelos do cálice; subquinque anguloso, um pouco túrgido no meio; limbo quinquelobado; lobos oblongos, obstusos, imbricados lateralmente no botão, dextrorsos e um pouco espiralados; face contraída. Cinco estames, alternos, inclusos; filetes muito curtos, munidos na porção livre de alguns pelos raros, dirigidos para cima, e na porção aderente, a corola tem pelos mais numerosos, brancos e erigidos para baixo; anteras coniventes, abarcando os estigmas, e situadas no bojo da corola, subfixas, introrsas, emarginadas na base, acuminadas no ápice, com duas células que se abrem por fendas e contêm um pólen granuloso: são glabras e de cor amarela. Nectário nulo, ovários coadunados, pilosos, unicelulares, óvulos bissinados, estiletes conjuntos, apresentando por baixo dos estigmas um engrossamento funiforme e bissulado; estigmas terminais muito pequenas. De ordinário, só uma ou duas flores chegam a frutificar e, de cada uma, resultam dois frutos (raras vezes um por aborto), carnosos, ovais, acuminados, divergentes, afastando-se um do outro em sentido oposto até ficarem horizontais; têm na parte superior e central um sulco quase apagado, que indica a sutura do carpelo; enquanto verdes, estão cobertos de pelos cinzentos, luzidios, depois de maduros são glabros e amarelos. Pericarpo carnudo, indeiscente, muito lactescente; trofosperma sutural do qual provêm duas lacínias carnosas, fibrosas, que, descendo reunidas até a parte oposta ou dorsal da célula, formam um falso septo, que divide em dois compartimentos; sementes peltadas lenticulares, irregularmente oblongas, ou arredondadas; dispostas em duas filas de quatro a cinco, mais raras vezes, de cada lado dos falsos septos, sobre os quais estão aplicados e imbricados, de modo que a primeira e inferior cobre metade da segunda, esta metade da terceira, e assim por diante; a face e o dorso apresentam depressões que resultam do mútuo contato; envolvidas numa polpa branda, fibrosa, suculenta, não lactescente; episperma glabro, pálido formado de duas membranas: a exterior cartácea, a interior tênue; embrião coberto por um endosperma de consistência subcórnea; cotilédones planos, foliáceos, cordiformes; gêmula muito pequena; radícula reta, obtusa e dirigida para a ponta do fruto. Esta árvore cresce nas matas virgens; sempre se encontra a mais de mil pés de altura, nas montanhas da Tijuca, de Estrela e de Gerecinó, província do Rio de Janeiro e floresce em agosto e setembro, dando fruto de janeiro a fevereiro” (Texto do Dr. Freire Allemão).

     Análise Química. A casca de Pau-pereira é composta de amido, albumina, goma, resina, matéria corante, princípio extrativo amargo, princípio ativo ou pererina, princípio lenhoso ou fibroso vegetal. Os sais são sulfatos, hidrocloratos, fosfatos, carbonatos de potassa, cal, alumina, protóxido de manganês, magnésia, óxido de ferro, sílica e traços de cobre oxidado (Tese do Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos Filho, p.16). A descoberta da pererina deve-se ao farmacêutico brasileiro Ezequiel Corrêa dos Santos pai, e não a Goos como assevera o Hoëffer, no seu Diccionário de Chimica.

    Propriedades. Desde há muitos anos, o Dr. Ildefonso Gomes receitava o Pau-pereira contra as alporcas; foi em 1831 que o Dr. Silva prescreveu o cozimento da casca para uma doente de febre intermitente. Animado pelo resultado desta primeira tentativa, continuou o uso do remédio em casos idênticos com o mesmo sucesso. Assim, gradualmente na clínica civil e nos hospitais, foi-se propagado o emprego da casca de Pau-pereira até que a descoberta do alcaloide pererina viesse dar um poderoso auxílio para substituir o sulfato de quinina. A casca de Pau-pereira tem sido administrada com vantagens no endurecimento do tecido celular, nas diarreias crônicas, nas hemorragias passivas, na astenia e como meio profilático das erisipelas (Tese do Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos Filho, p.18). O emprego do Pau-pereira é geral hoje para curar as febres intermitentes de todos os tipos e carateres; os banhos do cozimento da casca e o cozimento da mesma são receitados diariamente pelos médicos brasileiros. A casca apresenta-se em pedaços grandes de quatro a seis pés de comprimento, quase chatos, leves e de estrutura fibrosa. O líber forma quase a sua totalidade. As lâminas são de cor amarelada, de sabor muito amargo e de uma adstringência persistente. Internamente, se administra a infusão ou decocção feita com duas oitavas a uma onça de casca para uma libra de água, em duas ou quatro doses no decurso do dia, na ocasião das remissões ou apirexias. Para os banhos, gasta-se de uma libra a duas de casca em cozimento. Administra-se a pererina em pílulas ou em solução alcoolica ou acidulada com ácido sulfúrico, na dose de dois a doze grãos (Tese do Dr. Ezequiel Corrêa dos Santos Filho).

 

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