Caesalpinia echinata, Araboutan, Ibira-pitanga Pison, Caesalpinia vesicaria Vellozo, Santalum rubrum, Família das leguminosas
História Natural. Há três qualidades, a saber: Brasil-mirim (Caesalpinia echinata) que é o melhor; Brasil-assu ou rosado (Caesalpinia crista) e o Brasieto (Caesalpinia brasiliensis). A primeira espécie, o Ibirapitanga vesicario de Pison e Marcgrave ou Ligruim rubrum, é, segundo estes grandes naturalistas, uma árvore de sessenta e mais palmos, de três a dez de grossura, cujas raízes são grossas, laterais e perpendiculares, tronco cinzento, cápsula parda, armada com curtos espinhos, bem como nos ramos, alternadamente opostos, com folhinhas ovais, pinuladas, abertas na ponta como pegadas à nervura longitudinal, sendo, aliás, soltas cada uma * alternadamente opostas, verdes luzentes e pelas costas mais claras; o Sr. Conselheiro Balthazar da Silva Lisboa, na sua obra Annaes de Rio de Janeiro, t.I, p.214, acrescenta que o Brasil-mirim, no mês de dezembro, costuma cobrir-se de flores em ramalhetes compostos de cinco pétalos, o maior chanfrado e os outros côncavos, nas extremidades louros, pegados por sua unha no cálice; os estames louros tirando a pardos coberto de anteras pardas; o pistilo é uma síliqua oblonga da grandeza de um dedo, plana, compressa, externamente *, com cor pardo-claro, que contém favas pardas, pequenas, duríssimas e luzentes. O Brasil-assu ou Rozado, é assim chamado por ser o seu tronco o mais alto, mais direito e menos grosso e a tinta que dele se extrai de menor consistência e mais rosada, de onde lhe provém o segundo nome (p.91, Corographia da Bahia). A terceira espécie, o Brasileto, que difere pouco do assu ou rosado na grandeza e forma do tronco e copa, dá pouca tinta e essa desvanecida. O Brasil mirim tem o tronco mais grosso, é mais delgado, os espinhos mais miúdos e mais bastos; tem a folha mais miúda e o cerne ou âmago mais arroxeado. Em todas as três espécies, a folha é pinulada, a casca lisa, e os espinhos começam no princípio dos galhos e vão até a ponta dos ramos. A flor do mirim é branca e muito miúda, e o cerne, levado à lingua logo depois de cortado tem um amargo sensível que perde depois de seco, tornando-se um adocicado agradável. Estas árvores que se reproduzem tanto em morros como em vargens, tornam a brotar da parte do tronco que ficou pegado na terra. Nota-se que nos matos, onde há abundância de Pau Brasil, não se encontram Tapinhoão nem Peroba. O Pau Brasil é bastante prezado para construção de edifícios. Metido em água, dura eternamente; no fogo, estala muito e não faz fumaça.
Análise Química. O Pau Brasil serve para as artes de tingir, e a sua decocção é empregada em química prática para dar a cor aos papéis que, segundo Bergman, tomam a cor azul quando se misturam os álcalis, qualidade que o Guyton-Morveau nega. A decocção leva pedra ume para o seu uso. A mistura da cal com a mesma, constitui a laca chamada roseta; com a caparrosa, a decocção do Pau Brasil dá uma tinta preta. A mesma torna-se de cor amarela pela adição do ácido sulfúrico ou hidroclórico e vermelha pelo excesso daqueles reativos. Para se empregar a decocção, deve ela ser preparada de antemão e conservar-se muito tempo guardada em tinas durante meses e anos (Dumas, t.8). Mr. Chevreul obteve pela decomposição do Pau Brasil a matéria colorante que se chama Bresilina. A Bresilina dissolve-se dentro do álcool, do éter, da água, cristaliza-se em agulhas curtas. Os álcalis formam com a Bresilina combinação de cor de púrpura roxa; submetida à destilação, ela dá uma água ácida, produto alcalino, matéria purpúra que contém talvez a bresilina cristalizada. A decocção do Pau Brasil como a solução da bresilina conservam-se ao ar livre por muito tempo, tornando-se assim mais próprias para a tintura. Unida aos álcalis solúveis, a bresilina se altera e entra em decomposição pela influência da água, absorvendo o oxigênio do ar. A bresilina é solúvel dentro da água, conserva-se a sua solução por muito tempo, colora-se em amarelo e nas margens toma a cor vermelha viva. Pela ebulição, a solução vem a ser de uma bela cor carmesim e, se ela é submetida à evaporação, nota-se então um depósito de muitas agulhas de uma cor vermelha brilhante. A bresilina incolor obtida por Mr. Preisser tem um sabor doce e um tanto amargo, ela se dissolve no álcool no éter. Ao contato com o ar, ela toma a cor vermelha pelo ácido hidroclórico. O ácido sulfúrico a converte em amarelo e depois vem a ser preta. O ácido azótico lhe dá uma bela cor rubra; aquecida, ela desenvolve vapores e produz o ácido oxálico. A ação do ácido crômico e dos chroma alcalinos explica vários processos postos em prática na fabricação das chitas.
Propriedades. Os farmacologistas classificaram o Pau Brasil entre os adstringentes e declaram a sua infusão antifebril e estomacais. Colocado pelo Dale ao lado do Pau sândalo, foi reputado excelente remédio para curar a diarreia, porém o seu uso tem sido abandonado pelos clínicos e acha-se mencionado, todavia, nas farmacopeias e notavelmente na Pharmacopeia universal de Jourdan. Os pós de Pau Brasil servem para fortificar as gengivas. Ele é ótimo para a construção; metido em água, dura eternamante; no fogo, estala muito e não faz fumaça. Certo observador (ver Corographia da Bahia, p.92) notou que o tempo do corte desta madeira mais próprio para o rendimento da tinta é o período da lua nova, no inverno e o de quarto crescente no verão, porque, fora destas ocasiões, sempre é sensível uma porção de linfa que se extravasa dos poros pelas incisões dos golpes de machado. Esta porção de linfa outra tanta quantidade de tinta que se perde, o que não sucede cortando-se a madeira nas conjunções referidas, quando as árvores não lançam de si líquido algum, retendo toda a sua tinta. O comércio do Pau Brasil é fiscalizado pelo governo. O extrato do Pau foi substituído ao pó mesmo pelo contrabando.