História Natural. O perianto do cálice é duplicado, o exterior é maior, monofilo, dividido em três partes com estas laciniadas. O interior é monofilo, pequeno, do feitio de uma xícara. A corola tem cinco pétalas que pouco se abrem, os estames têm muitos filamentos curtos nascidos da corola, com anteras em forma de rins; pistilo ovado, acuminado. Pericarpo ovado, acuminado com três ou quatro regos que notam o número das válvulas ou loculamentos; o cálice interior rodeia a base do fruto. As sementes são envolvidas em lã. O Dr. Manuel Arruda da Câmara na sua Memória sobre a cultura dos algodoeiros, publicada no primeiro Patriota, p.22, descreve quatro espécies de Algodoeiro: 1º o herbácio, cujas folhas são de cinco lobos, o caule herbáceo; 2º o barbadenso com folhas de três lobos, na parte inferior com três glândulas; 3º o arbóreo que tem folhas palmadas com os lobos lanceolados, o caule fruticoso; 4º o hirsuto de folhas agudas, caule muito ramoso. Estas são, diz o Dr. Arruda, as quatro espécies distintas e conhecidas, mas há muitas variedades que provêm do clima, da diferença do terreno e da cultura. Linneo contava cinco espécies. Lamarck oito, Decandolle admite treze, e Mohr diz que existem vinte e nove. Notam-se nas variedades o Algodoeiro bravo com folhas trilobadas; o Algodoeiro bravo com folhas de cinco lobos; o Algodoeiro macaco que os franceses chamam verdadeiro algodoeiro de Siam = Xilon Sativum; o Algodoeiro bravo com fruto maior e lã cor de ganga; o Algodoeiro da Índia; o Algodoeiro do Maranhão. Existem outras variedades, porém as suas diferenças são tão tênues que quase não merecem distinção: a cor das flores brancas ou amarelas não deve caracterizar variedade. O Algodoeiro arbóreo, cuja família pertence ao Algodoeiro do Brasil, é somente cultivável nas regiões tropicais, dá algodão de qualidade superior, é conhecido no comércio com o nome de algodão de Pernambuco e de Maranhão, províncias que exportam grande quantidade para a Europa. A primeira exportação de Pernambuco para Portugal se realizou no ano de 1778. Antigamente, o Maranhão não exportava algodão algum para a Europa, só o cultivava para o gasto do país. Como o lugar era pobre,o fio que seus habitantes fiavam do algodão era moeda provincial. Hoje o algodão é uma fonte de riqueza para a mesma província. Os povos de Minas Novas, a exemplo das outras províncias, acham grande utilidade na lavoura do Algodoeiro. Encontram-se em abundância nas caatingas à margem do Rio das Contas duas qualidades de algodão silvestre, quase idênticos ao algodoeiro da Índia. Os lavradores cultivam com igual proveito o algodão do Maranhão, de caroço inteiro e comprido, o algodão de caroço pardo e inteiro, o algodão de caroço verde e inteiro, o algodão de lã parda cor de ganga, o algodão vulgar e o algodão da Índia, de caroço dividido e coberto de pelo branco. O Sr. José de Sá Bittencourt Accioli na sua Memória sobre a plantação do algodão descreve os bons terrenos da província da Bahia convenientes para essa agricultura. (ver Auxiliador da Indústria Nacional, p.25, nº.1, janeiro, 1844) Segundo Mr. Riedel, o Algodoeiro é um dos vegetais mais fáceis de se cultivar: todos os terrenos e todas as exposições lhe convêm, porém as terras de área unctuosa e mediocremente úmidas lhe são peculiarmente favoráveis. Os mais inteiros esclarecimentos acerca da cultura do algodão se encontram no Tratado do Algodoeiro publicado em Paris, em 1808, por Mr. de Lasteyrie. Também A. St’Hilaire descreve a indústria do Algodão no Brasil em várias partes de suas obras. (ver primeira parte da segunda Voyage dans le District des Diamants, t.2). A grande fama e a imensa exportação do algodão de Pernambuco e do Maranhão certifica os progressos da agricultura entre nós. Os mapas de exportação, os mais recentemente publicados, dão no ano financeiro de 1845 a 1846: de Pernambuco, 17,493 sacas; de Bahia, 14,880 sacas; do Maranhão Desde 1834 até 1844, pelo espaço de dez anos, foi negociada de Pernambuco para fora e dentro do Império a quantia de 2.356, 671 arrobas e 11 libras de algodão. Os mapas financeiros dos anos de 1849 a 1850 dão o seguinte [em branco]
Análise Química. As proporções de carbono, hidrogênio e oxigênio que entram nas partes constituintes do Algodoeiro não foram por muito tempo exatamente avaliadas pelos químicos. O algodão é completamente insolúvel dentro de água, álcool, éter, óleos e ácidos vegetais; dissolve-se em solução alcalina concentrada ou com ácidos de fontes minerais. Extrai-se das sementes um óleo que serve para temperar os alimentos e que em Cayenna serve para iluminação. Desde alguns anos, a química tem tirado do algodão novos produtos. A pólvora, a xiloidine e o collodium são os mais notáveis. A maneira mais econômica de se preparar o algodão pólvora consiste em empregar partes iguais de ácido azoteico a 45º e de ácido sulfúrico a 66º; a imersão do algodão deve ser muito rápida, e quando possível, efetuada em mesmo tempo em toda a porção do algodão; a lavagem deve cessar somente quando a água destilada da lavagem parar de fornecer uma ação ácida. A dessecação se faz uniformemente e se consegue por meio de uma circulação de vapor; o algodão envolvido em papel pardo e colocado sobre um alambique se desseca sem risco algum (ver Memória de Mr. Pelouze, apresentada na Academia de Ciências de Paris, 4 de janeiro de 1847). Segundo Mr. Pelouze, o produto da reação do ácido azotico sobre a matéria lenhosa dá nascimento a um composto particular celuloso azotado, cujos elementos constituintes se aproximam de tal modo da fibrina, da caseína e da albumina que não se deve pôr em duvida a sua propriedade alimentar. Foi nomeado esse composto “xiloidina”= * dos Srs. Bernard e Baneswil para alimentar com a xiloidina vários animais patenteia seu pouco proveito nutriente, pois ela não se altera pela sua * no estômago e nos intestinos, fica branca insolúvel na água, solúvel unicamente pelo ácido acético ou pelo álcool; na sua passagem pelos intestinos, fica coberta de uma camada de mucosidade. O collodium é uma solução de algodão pólvora quer no éter sulfúrico, quer no éter sulfúrico alcoolizado. É uma substância que possui verdadeiras propriedades adesivas e que se torna muito útil na terapêutica cirúrgica. Prepara-se da seguinte maneira: “tome-se algodão pólvora meia onça, éter sulfúrico puro, uma libra e meia. Introduzido o algodão pólvora em um balão, deita-se em cima metade do éter e fecha-se o balão hermeticamente. Depois de alguns minutos sendo o algodão bem molhado pelo éter, sacode-se para bem misturar a massa gelatinosa e depois se coloca ao sol durante quinze ou vinte minutos. Depois junta-se à outra metade do éter e agita-se para favorecer a dissolução da massa gelatinosa. Os processos dos Srs. Edwards e Miathe variam; todavia, é importante evitar uma imersão muito extensa e não empregar-se éter fraco.
Propriedades. As flores do Algodoeiro são emolientes e peitorais; o cozimento das raízes é muito útil para a cura das vias urinárias. Com as sementes, obtêm-se emulsões mucilaginosas e empregam-se as mesmas em fumigações. A casca serve para fazer papel na China. “As sementes do Algodoeiro”, diz Manuel Arruda da Câmara na sua Memória, “são compostas de uma fécula mucilaginosa e de óleo. Extrai-se dos caroços um óleo excelente para comer, e que dá uma luz bem clara”. A casca do arbusto é bem filamentosa, contém linho bem como todas as plantas malváceas, o qual serve para corda e para estopa. O uso medicinal do Algodoeiro é comum no Brasil. A necessidade tem ensinado nossos rústicos a virtude vulnerária que possui o cálice e as folhas desta planta. Eles pisam qualquer destas partes e espremem o suco sobre as suas feridas, obtendo um pronto efeito deste medicamento. “Eu não tenho visto esta prática, mas tenho me visto na precisão de usar dela em muitas ocasiões e em feridas muito consideráveis e estou tão persuadido desta virtude do algodoeiro que ainda na concorrência de outros vulnerários prefiro sempre este. Eu atribuo esta virtude a um bálsamo que contém tanto as cápsulas como o cálice e as folhas em pequenos folículos espalhados na superfície destas partes, o que dá a vista de pequenos pontos denegridos; bem como o óleo essencial da laranja e do limão que é igualmente contido em pequenos folículos na superfície da casca. Tenho obtido algumas porções desta substância, raspando e espremendo com a lâmina de uma faca a superfície de uma cápsula. O cheiro e a propriedade de se dissolver no espírito de vinho me dizem que se pode arranjar um número das resinas cheirosas ou bálsamos”. O emprego da parte fina do algodão que Thompson designa pelo nome de Gossypina é antigo para fazer moxas. O Dr. Bourdin gaba a estopa do algodão como um excelente hemostático e sabe-se desde muitos anos que a sua aplicação sobre os tumores glandulares é bom resolutivo, como também nas queimaduras recentes. O algodão pólvora usa-se hoje para a aplicação das ventosas: o collodium é um dos melhores adesivos para as feridas e partes dilaceradas. Ultimamente, o Dr. Triedanelli tem recomendado o algodão nos curativos das otites (Abeille médicale, 1847, p.343). O algodão posto sobre o testículo acalma a dor e favorece a resolução em uma semana. As qualidades do algodão do Brasil são as seguintes:
Algodão de Pernambuco- forte, cor branca amarelada
Algodão da Bahia- fino, menos regular.
Algodão do Pará- seda fina e forte, cor de manteiga
Algodão do Maranhão- seda dura, grossa e forte, cor pardenta
Algodão de Minas- seda fina, longa, cor amarelo suja.
A exportação do algodão Brasil para a Inglaterra foi de 1836 a 1855 de 2,352,441 balas
Para França de 1850 a 1855 de 798,841 balas.