Ocunbeira

Ucúuba, Ocubeira, Ocuuba, Myristica sebifera Swartz, Myrica cerifera Schott, Virola sebifera d’Aublet, Família das myristaceas

Ocunbeira

    História Natural. A árvore chamada vulgarmente de Ocunbeira é frondosa, ocupa um diâmetro de 30 palmos com a sua ramagem. Segundo Aublet, o tronco da árvore se eleva de 30 até 60 pés de altura, tendo 2 pés e mais de diâmetro. Folhas oblongas, lanceoladas, embaixo de cor arroxeada e verde em cima; nervura longitudinal, ramos sem estípulas, flores dioicas, cálice de 1 só peça repartido em 3, bago monosperma, coberto de 1 membrana laciniada. A casca é espessa, dura, de cor arroxeada e rugosa. A madeira é branca e pouco compacta. A Ocunbeira abunda nas vargens e lugares úmidos da província do Pará, floresce em dezembro, janeiro e fevereiro, e dá-se melhor em lugares alagados do que em terra firme e seca. Existem 3 variedades de ocunbeira que diferem unicamente pelo tamanho dos frutos, sendo uns oblongos, outros mais grossos e os terceiros com lados obtusos e com semente muito pequena. Quando se corta a casca da árvore, corre um suco leitoso avermelhado bastante copioso, acre. O fruto é do tamanho de uma bola de mosquetaria, depois de aberto descobre um caroço coberto com uma pele grossa carmesim. A árvore deita na parte superior numerosos ramos tortuosos, os quais se dirigem em vários sentidos, uns horizontais, outros direitos, alguns dobrados. Os ramos são guarnecidos de folhas alternas agudas e pontudas, verdes de um lado, roxas de outro. As flores são de 2 espécies: machos e fêmeas, nascem sobre indivíduos separados e distintos. As flores macho juntam-se em grandes cachos que partem das axilas das folhas, o pedúnculo, os ramos e as flores são cobertos de um coton arruivado. O cálice formado de uma peça única não tem corola, os estames são 6, mantidos no fundo da flor por um disco; o filete é curto, a antena é pequena com 2 bolsas. A árvore que traz a flor fêmea, tem flores menores, de 3 dentes, cujo centro contém 1 ovário esférico, superado de um estigma carnudo e obtuso. O ovário torna-se uma cápsula esférica, pontuda, verde, marcada da base até a ponta de cada lado de uma aresta saliente. Ela se abre em 2 válvulas e deixa ver uma noz coberta de fibras avermelhadas, a coca é delgada e denegrida, contém uma semente coberta de uma membrana parda, a qual é atravessada por veias esbranquiçadas e de cor ruiva.

    Análise Química. O caroço lavado tinge a água e dá excelente cor de tinta purpúra. A semente, depois de lavada, fica de cor negra. Pisada de maneira que fique em massa, deixa-se ferver em água, e com esta fervura desliga-se de si totalmente a cera que sobe toda à superfície da água. Esta cera não difere da de abelha em bruto, depois de apurada lhe é superior em brancura e no bom brilho que dá. O suco que derrama a casca cortada é acre, viscoso e muito adstringente, contém muito tanino e parte oleosa. O ariolo e a semente encerram um óleo aromático, o qual embranquece e torna-se uma cera. Extrai-se dos mesmos um álcool o qual é mais enérgico que o extrato aquoso. A análise da baga do Myrica cerifera feita por Dana (Journal de Pharmacie, T. 89) fornece o seguinte:

                 Cera                                                                                        32

                 Resina ruiva solúvel dentro do ácido acético                          05

                 Pós negros                                                                              15

                 Matéria amilácea                                                                     47

                                                                                                                99

A cera de ocunbeira, segundo a indagação do Sr. Lewy, é de cor branca amarelada,  solúvel em álcool fervente e sua fusão opera-se a 3605’. Ela fornece carbono 73,90; hidrogênio 11,40; oxigênio 14,70. A análise feita pelo mesmo químico demonstra a existência da cerinas, da myricina, da ceroleina, de ácido myricinico e de ácido cerinico.

    Propriedades. O Ex. Sr. João Antônio de Miranda enviou, quando presidente da província do Pará, uma grande porção de bagos ou frutos da ocunbeira para a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Parte da mesma remessa foi levada pelo Sr. Sigaud a Paris no ano de 1843 e fez-se menção dela no Compte rendus da Academia de Sciencias em 18 de dezembro de 1843. Na participação do Exmo. Sr. Presidente Miranda, ponderam-se as vantagens que a indústria pode conseguir do emprego da cera de ocuba. Em Belém, tiram-se de um alqueire de sementes 6 libras de cera. A colheita que se faz no Pará excede algumas centenas de alqueires. Pouco cuidado se tem das árvores que produzem a cera pois seria muito útil impedir que se corte e faça lenha de árvores que podem dar grandes benefícios. A medicina utiliza-se assim como a indústria paraense que já deita no mercado velas do ocuba que dão uma luz viva e que se vendem baratas. Segundo o correspondente do Auxiliador (ver a carta p. 149 do número de maio de 1849), o leite avermelhado de ocunbeira é ótimo para curar antigas gonorreias e para toda casta de moléstias de urinas. As sementes, segundo o mesmo, ardem como archotes quando se lhes ateia fogo. O suco concreto da ocunbeira serve para curar as aftas e para acalmar a dor da cárie dos dentes, cobrindo a parte dolorosa com algodão molhado no mesmo leite ou suco. O óleo essencial que provém da noz ou baga acalma igualmente as dores da cárie; convém em fricções nos casos de reumatismo e das nevralgias. Faz-se com o mesmo uma tintura que se emprega no Pará para a cura da paralisia, aplicando externamente fricções da mesma sobre as partes sofredoras.

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