Muscadeira

Myristica officinalis Linneo, Myristica aromatica Lamarck, Família das myristaceas.

Muscadeira

    História Natural. A Muscadeira aromática ou Myristica moschata aclimatou-se no Brasil, porém não se propagou. Foi transplantada de Caiena para o Horto Botânico de Belém em 1798, e o chefe de divisão Luiz de Abreu a levou da Ilha de França para o Real Jardim da Lagoa de Freitas em 1812. Foi Pison o primeiro que falou da Muscadeira e que lhe achou alguma semelhança nas flores com as da Pereira e da Cerejeira. A mais exata descrição da planta é obra do botânico Lamarck na Encyclopedia Methodica, composta sobre os documentos de Mr. Céré. A árvore chega até a altura de trinta pés, é notável pela bela cor verde de suas folhas, por ser muito copada e formar uma copa frondosa e redonda. O tronco é direito, guarnecido circularmente de ramos colocados em verticilos separados uns dos outros. A casca é de cor vermelha escura, espessa, branca e cheia de suco interiormente; a dos ramos jovens é de uma cor verde luzente. As folhas são alternas, pecioladas, lanceoladas, ovais, muito inteiras, muito lisas, de uma bela cor verde por cima, de cor verde esbranquiçada por baixo, com nervuras laterais, oblíquas, singelas e quase paralelas. As folhas variam sobre a mesma árvore de forma e de tamanho. O pecíolo é comprido e cilíndrico. As flores são pequenas, amareladas, pedunculadas, inclinadas ou pendentes, dispostas nas axilas das folhas, no comprimento dos ramos pequenos, formando pequenos corimbos, muito pouco guarnecidos. O fruto é uma drupa quase esférica com a forma de uma pera, glabra, de cor verde branca quando se torna madura e tendo duas polegadas e meia de diâmetro. Seu pericarpo é composto de três partes distintas: 1ouma casca exterior chamada casca verde; 2o) a casca interior da noz com o apelido vulgar de macis; 3o) a noz ou invólucro imediato da semente. A semente ou amêndoa que se conhece pelo nome de moscada, é grossa, oval, redonda, coberta de uma película arruivada na parte inferior, esbranquiçada e malhada de pontos vermelhos na parte superior. A polpa da amêndoa é firme, oleosa, muito cheirosa, cheia de veias amarelas irregulares, mais oleaginosas que a substância branca, o que dá ao interior da amêndoa um aspecto de mármore. A Muscadeira é oriunda das ilhas Moluscas. É privilégio dos holandeses o ramo de comércio de transporte das moscadas para os mercados da Europa. É quase impossível distinguir a árvore fêmea da Muscadeira masculina, o que dificulta a sua cultura. Talvez a sua falta de propagação no Brasil seja devida a tal causa. O desenvolvimento da árvore é lento, pois a Muscadeira principia a dar frutos só depois de sete a oito anos.

   Análise Química. A Noz moscada dá fécula, goma, um óleo essencial muito cheiroso e ativo, um óleo fixo, de cor amarelo-avermelhado, que se chama manteiga de moscada. O invólucro da amêndoa encerra os dois óleos juntos, porém o óleo volátil domina. A análise do Sr. Bonastre dá a seguinte composição da noz moscada:

Stearina              120

Elaina                   38

Óleo volátil          30

Ácido                     4

Fécula                  12

Goma                     6

Fibra lenhosa     270

Perda                   20 

                          500

    Propriedades. Os árabes, aviscenos, serapion conheceram a noz moscada ou Jansiban, Noz de banda. É o Moschocarion dos gregos (Roques, t.3, Plantes Usuelles, p.350). Hoje, os médicos pouco uso fazem da Noz moscada. Acha-se conservada em alguns remédios magistrais de um efeito poderoso. A arte culinária tem se apoderado da Noz moscada. Ela é mais saborosa e mais suave que o Cravo da Índia, menos picante e ardente que a Pimenta do reino. A sua adição em doses moderadas nos espinafres, nos cogumelos e diversos molhos é um excelente digestivo. Misturada com os alimentos mais sápidos, os pudins, cremes, doces etc. a moscada desperta o apetite, estimula o estômago, reanima as forças vitais e estimula a maior atividade dos nervos.  Este agradável aromata exerce sobre o tubo digestivo uma ação viva que rapidamente se propaga ao cérebro e a todo o sistema orgânico. Para compor a infusão da Noz moscada, tome-se de vinte a trinta grãos de noz ralada, uma oitava folha de Erva cidreira, oito onças de água fervente; faz-se um chá que se adoça com açúcar. De manhã cedo, deve-se tomar uma xícara para reanimar as forças digestivas, para provocar o apetite quase desvanecido, para solicitar um agradável suor, quando se sofre de constipação. A infusão alcoólica é muito mais enérgica, administra-se por colheres para moderar as diarreias crônicas. O macis possui um aroma mais suave; com ele preparam-se os licores. E faz-se um doce na Índia com as nozes frescas. A Muscadeira figura hoje como a primeira na lista das quarenta e uma espécies de myristica que a botânica tem feito conhecer. Os mais interessantes documentos acerca da cultura da Muscadeira encontram-se na recente memória do Sr. Royer de Caiena, que muito se recomendou aos zeladores da agricultura brasileira. Segundo Mr. Hombron, as Muscadas tomadas em grande porção são venenosas, pois produzem “entorpecimento do sistema nervoso, causam a embriaguez e mesmo a letargia” (Dumont d´Urville, Voyage au Pole, t.VI).

 

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