História Natural. Árvore alta e garbosa. Quando ainda nova, tem a altura de dez palmos e chega progressivamente a trinta e mais pés de elevação. Encontra-se nos terrenos áridos do Ceará, nas várzeas dos rios e riachos de Pernambuco, do Piauí, da Paraíba do Norte. O tronco carnoso é próximo à raiz, a que se dá o nome olho. Diz Arruda (Cem Plantas Pernambucanas), que os frutos são primeiramente como pequenas azeitonas e, depois de verdes, tornam-se, quando maduros, negros, luzentes, do tamanho de ovos de pombos domésticos. Seu caroço é coberto de uma carne doce que o gado come. O tronco da Carnaúba é lenhoso, de fibras duras entrelaçadas; as folhas são alequeadas, verdes e glabras; os pecíolos são corticosos, cobertos de espinhos e chatos, nascem em volta do óleo da palmeira. A raiz é fibrosa e emaranhada como a do coqueiro, tem as fibras fortes e rijas. Daí provém que ela, em tempo de seca, dura até seis meses no Ocará, conserva bastante umidade. As folhas são do comprimento de dois pés, dobradas à maneira de um leque enquanto novas, depois abrem-se e desenvolvem-se, ficando com pouco menos de dois pés de largura. Seca à sombra, desapega-se de sua superfície, apresenta quantidade de pequenas escamas alvas em abundância. Estas, ao calor do fogo, derretem-se em cera branca. As folhas secas servem de cobertura para as casas, e a madeira desta árvore é excelente para cercados e várias construções. O fruto da Carnaúba, diz o autor do artigo Os Ensaios Literários (Annais de Medicina Brasileira, junho, 1849, p.296), é pequeno, negro como uma ameixa e tem a forma de uma cabacinha; dá em longas grinaldas de cacho que contém ordinariamente mais de cem frutas ligadas a uma haste que nasce do olho da palmeira. O pericarpo (drupa) é negro, polposo e adocicado, coberto de uma casca áspera e granítica contida em uma pelúcia fina e glabra. Dentro do pericarpo, está a semente, que é um caroço (noz). Este caroço contém três tegmentos próprios bem distintos. A medula da semente é alva, adstringente, amarga e compacta.
Análise Química. Os frutos verdes são muito adstringentes; porém, cozidos por várias águas, ficam brandos e com gosto de milho cozido; são sustento sadio quando comidos com leite, em razão de conter grande porção de substância amilácea. Extrai-se do miolo do tronco da palmeira uma fécula alva muito nutriente. A cera, que provém das folhas, foi analisada por Brande (ver Philosophical Transaction, 1811). Ela tem cheiro de feno, cor parda, torna-se de cor mais alva pela ação contínua da luz, ou com a lavagem em uma solução aquosa de gás oximuriático. Seu ponto de fusão é 83º. Ela contém, segundo a análise de Mr. Lessi:
80,36 Carbono
13,07 Hidrogênio
6,64 Oxigênio
Propriedades. Além do alimento que se consegue com as frutas, do miolo do tronco e das amêndoas, a Carnaúba dá dois produtos medicinais: a goma e a raiz. A goma tem um gosto aromático mucilaginoso. É usada nas debilidades do peito e do estômago. A raiz é diurética e antivenérea. No Ceará, costuma-se fazer uso dela em lugar da Salsaparrilha, e seu cozimento cura as dores sifilíticas. A Carnaúba que cobre as várzeas imersas nos sertões de Pernambuco e do Ceará tem uma força de vegetação robusta e poderosa. No tempo de seca, quando entra a calma por planícies áridas, faltando o orvalho, a Carnaúba torna-se o sustento dos homens rústicos. Eles cortam as palmeiras pequenas que ainda rastejam pelo chão, tiram-lhe o miolo verde que contém uma polpa amarelada. Este miolo ralado com mandioca dá uma goma muito alva. Faz-se farinha da polpa. Dessa árvore ainda, os pobres aproveitam o fruto para alimento; comem a massa exterior, que é uma polpa negra semelhante à das tâmaras, e quanto ao caroço, que é oleoso, costumam torrá-lo para tomá-lo à guisa de café; é aromático, saboroso e mais medicinal que o de Moka (Ensaios Literários). A Carnaúba serve para construções e dura séculos. Existem hoje no Aracati casas de sobrado construídas de Carnaúba, que datam da primeira povoação desse lugar. O tronco da Carnaúba é rigíssimo e serve para tirantes e ripas; sua copa é pequena, tem as folhas em forma de leque fechado que servem para cobri-las. A indústria hoje tira grande proveito da cera de Carnaúba para a composição de velas. Na cidade de Pernambuco, se sustentam várias fábricas com tal indústria. A Carnaúba entra hoje em várias fábricas do Brasil, da Europa, na composição de velas. A sua resina sebosa dura mais e é mais compacta e enxuta que o sebo animal. Exportam-se copiosas remessas de Carnaúba para os portos da Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos. É mister distinguir a cera de Carnaúba da que fornece o Ceroxylon andicola de Humboldt, palmeira de folhas aladas que dá uma cera amarela. Fazem-se com as folhas esteiras, chapéus, açafates, e elas são ainda o sustento do gado vacum no tempo de maior seca; Confeccionam-se lindos bastões da sua madeira que fica toda salpicada depois de brunida, parecendo marchetaria. Come-se o saco carpo do fruto puro ou com leite; é massudo e adocicado. Torra-se a amêndoa para fazer um café agradável. Basta uma onça da raiz para cozimento sobre uma libra de água, tomando três doses por dia. Na Paraíba do Norte, a goma e a raiz são produtos medicinais. Usa-se a sua goma nas moléstias do peito, e o cozimento dela dá-se nos casos de moléstias venéreas, parecendo a raiz menos áspera do que a Salsaparrilha. (Relação dos produtos da Paraíba do Norte, Auxiliador, t.12).