História Natural. As espécies cultivadas nas províncias do norte do Império são as Dioscorea alata e Dioscorea bulbifera. No Rio de Janeiro, em São Paulo e Santa Catarina a Dioscorea sativa é a preferida. A primeira tem tubérculos grossos, oblongos, escuros por fora, brancos por dentro, caule herbáceo subtetrágono; angulosos, alados, alas membranosas e onduladas; folhas pecioladas, bilobadas na base; flores masculinas em espigas, as fêmeas em espigas singelas; perianto pequeno, esverdeado. Pouca diferença oferecem as outras. Unicamente a Dioscorea sativa ou Inhame branco não fornece tão copiosa fécula por cada libra de tubérculos como o Inhame vermelho ou Dioscorea alata. As variedades que nascem são infinitas e explicam os vários apelidos vulgares e científicos. O Cará de Pison é a Dioscorea sativa Linneo ou a Dioscorea dodecaneura Vellozo. O Cará barbado de Santa Catarina é a Dioscorea piperifolia de Wildenow, o Cará-biju é o Dioscorea conferta de Vellozo. Ainda ficaram sem nomes científicos o Cará do mato, o Cará-duro, o Cará-rabo de guariba, os Carás-assu e Cará-cuchi, nomes vulgares muitas vezes empregados para designar a mesma variedade, segundo a província onde se cultivam. A raiz dos Carás é grossa, tuberosa, comprida de um pé e mais, a cor interna varia, é viscosa, um pouco acre quando se prova crua. O peso de uma raiz varia de quinze e até mesmo trinta libras. Não se sabe ainda bem se os carás foram transplantados da Índia e África, como alguns botânicos asseveram ou se são também indígenas do Brasil. É mais provável é que nasçam espontaneamente nos três continentes. Gabriel Soares de Souza faz menção aos Carás, assim chamados pelos índios que os plantam na Bahia, em março e os colhem em agosto. A maior parte deles é branca, outros roxos, outros brancos por dentro e roxos por fora junto à casca, que são os melhores e de maior sabor; outros são negros. (Roteiros do Brasil, cap. 44).
Análise Química. Mr. Payer analisou a Dioscorea alata a qual contém:
Água 73,20
Fécula 18,45
Lenhoso 4,15
Sais, ácido, malato, azoto, Matéria grossa 1,80
Substância viscosa alguns vestígios (Annaes de Horicultura, t.17).
Segundo a análise da Dioscorea sativa feita por Suersen, a raiz fresca contém:
Resina 0,05
Açúcar 0,26
Mucilagem 2,94
Amido 22,66
Fibra lenhosa 6,57
Água 67,58 ( * de Schew.)
Propriedades. Quando o Cará amadurece, as folhas murcham. Então, tira-se a raiz, corta-se em pedaços, come-se cozido ou assado e faz-se angu e pão amarelo com a farinha que dá em abundância. Os africanos gostam muito do sabor do Cará que não é tão adocicado e balsâmico como a batata. O Cará aumenta a fartura de uma fazenda, varia a comida da escravatura e cresce em todos os terrenos. Fazem-se com a farinha de Cará ótimos bolos e sonhos e um pão excelente que se torna muito barato misturado com farinha de trigo. As folhas frescas contusas se aplicam sobre as mordeduras de cobra e picadas de insetos; são emolientes e curam a inflamação. A farinha é excelente resolutivo. Alguns práticos a receitam em cataplasmas sobre os tumores hemorroidais, recomendando as flores em cozimento para banhos locais. A cultura dos Carás é coisa fácil pois todos os terrenos são convenientes. “Fazem-se covas altas, de três a quatro palmos de circunferência, cortam-se as plantas em bocados, ficando cada uma delas com parte de fora para ali fazer a brotação. Se as plantas são demasiadamente miúdas, enterram-se assim as mesmas. Em cada cova, metem-se três plantas”. (Auxiliador, junho, 1847).