Caneleira do Rio de Janeiro

Canella, Canelleira da Índia Linneo, Canelleira de Ceylão, Laurus cinnamomum, Família das laurineas

Caneleira do Rio de Janeiro

    História Natural. O Loureiro cinamomo é árvore que foi transplantada da Ásia ao Brasil e cultivou-se com algum cuidado no princípio da colonização; mas, pouco tempo depois, por ordem do governo, foram todas destruídas para não prejudicar o comércio da Índia. Não se deve confundir com a Canelleira do Malabar, cuja casca é menos aromática e que alguns curiosos procuraram também introduzir na cultura do país. Existem duas memórias sobre o loureiro cinamomo: uma do Dr. Bernardino Antônio Gomes, escrita a rogo do senador da Câmara do Rio de Janeiro, em 8 de maio de 1798, e outra do Sr. Manoel Jacinto Nogueira da Gama (Marquês de Baependi), publicada em 1797. Ambas hão de fornecer os dados que seguem acerca das caneleiras do Brasil. A introdução das caneleiras data do tempo dos Jesuítas. Além das doze espécies que Linneo marcou no gênero Loureiro, Frei Vellozo encontrou no Brasil treze espécies deste gênero, às quais faz menção na sua Flora. Todas elas nas suas flores, nos frutos, na casca e nas folhas são mais ou menos odoríferas; são conhecidas no Brasil pelo nome geral de canelas, como v.g. Canela branca, Canela parda, Canela preta, Canela amarela, Canela cheirosa, Canela fétida, etc. As canelas eram conhecidas pelos naturais do Brasil com o nome genérico Anhuiba. Balthazar da Silva Lisboa menciona a Canela aromática, a Canela de bosque silvestre, Canela de velha, a Canela capitão, a Canela jacuí, a Canela limão e a  de brejo. Van Lede, na sua obra, aponta treze espécies de madeiras da província de Santa Catarina, com o nome de Canela, que são a Canela almacega, Canela capitão mor, Canela cedro, Canela de cosme preto, Canela jacuí, Canela jacaranda, Canela mirim, Canela óleo vermelho, Canela pimenta, Canela preta da serra, preta do brejo, Canela lapa-bassu preta, e Canela verde; todas elas madeiras de lei. O Dr. Freire Alemão limita-se a enumerar as espécies da província do Rio de Janeiro: Canela preta, Canela tapinhoam, Canela batalha, Canela limão, Canela sassafrás etc. O Sr. Almeida Coelho, na sua Memória, faz menção a oito espécies. Todas essas várias espécies pertencem a diferentes gêneros da família das lauríneas. O Dr. Bernardino Antônio Gomes descreve o Loureiro cinamomo do seguinte modo: “Esta árvore é de mediana altura. As raízes são lenhosas, ramosas, maciças e desvairadamente tortuosas; a casca escabrosa, de cor vermelha escura, tem cheiro de alcanfor, que se conservam na raiz ainda depois de seca, e um sabor aromático particular ativo, que se percebe imediatamente quando se mastiga e que termina por uma sensação particular de frio. A parte lenhosa é insípida e inodora. O tronco, que nas mais excelsas e nutridas terá quase três pés de diâmetro, não se conserva indiviso até grande altura; comumente na de seis ou oito pés começa a lançar grossos ramos, vagos e pendentes, que se subdividem em outros e outros desvairadamente, menos nas últimas divisões, que são opostos. A casca desta árvore é externamente cinzenta, deslavada, áspera e gretada, principalmente para a base do tronco, onde terá de grossura meia polegada ou mais. Nos ramos, é mais tênue na razão inversa da idade e nos renovos e extremidades dos ramos é de cor verde. Quando recentemente extraído e antes de preparado, tem pouco cheiro e um sabor adocicado e adstringente, misto com o aromático da canela. Preparada e seca, é de uma cor vermelha desmaiada, ou mais clara que a da Índia; tem o cheiro e o sabor da Canela daquele país, mas em grau muito inferior e alguma chega a fazer-se inodora e depois insípida. O lenho é * de cor amarelada, insípida e inodora. As folhas são pendentes, coriáceas, ovado-oblongas, agudas, inteiríssimas, lisas em ambas as faces, lustrosas e de um verde mais escuro na face superior, venosas e com três e, às vezes, cinco nervos longitudinais, dos quais os longitudinais se apagam antes de chegarem ao topo, sortidas por um curto pecíolo e quase opostas; são copiosas, particularmente nos terrenos arenoso e úmidos; nestes mesmos adquirem elas maior amplitude, chegando algumas a ter quatro polegadas de comprimento sobre duas e mais de  largura junto à base; quando sazonadas e colhidas em tempo seco, exalam murchadas na mão o agradável cheiro de canela e, mastigadas, têm o sabor de Canella da Índia; a princípio adocicadas, instantaneamente mudam para um grato aromático muito vivo, próprio da Canella, com alguma mistura de amargo; quando um pouco secas, é menos agradável porém mais curtido o sabor; muito secas apenas retêm suas qualidades sensíveis. A inflorescência é quase umbelada. Das axilas e mais comumente do topo dos novos ramos, nasce um pedúnculo (às vezes dois a três), que a uma ou duas linhas de comprimento lança dois pedúnculos quase opostos, e a outra, igual distância mais acima, lança outros dois que cruzam os precedentes. Todos os quatro e o pedúnculo comum alongam-se, depois seis, oito, até doze linhas, sem lançar pedúnculo ou flor, depois lançam dois ou três pares de pedúnculos quase opostos, longos e birrenquios, que terminam em uma flor solitária interposta a dois pedúnculos opostos trifloros; os pedúnculos imediatos às flores não são maiores que as mesmas flores. Todos os pedúnculos são munidos de brácteas da mesma feição das folhas; diferem somente em serem de cor verde muito alva e caducas. As flores são todas hermafroditas e têm um cheiro um pouco enjoativo. Cálice nulo, corola pálida, monopétala, inerte e externamente cotanilhosa, campanulada de seis pétalas ovadas, agudas e alternadamente mais interiores e um pouco menos amplas. Estames, nove filetes espatulados, mais curtos que a corola; seis mais interiores são encurvados e apegados à base das pétalas; três mais interiores, levantados e apegados ao receptáculo, sobressaem aos outros, e estão ao nível do pistilo e contíguos a ele. Anteras com dois lóculos poliníferos, lineares e oblíquos em uma e em outra margem das extremidades do filete. Duas glândulas pequenas, amarelas, afrechadas, obtusas, levantadas e caniculadas interiormente, quase rentes e apegadas um pouco exteriormente aos lados de cada um dos filetes mais interiores. Três nectários pouco mais compridos que as glândulas, amarelos, afrechados, agudos, peciolados, sem sedas, alternos com os três estames interiores e imediatamente circundantes ao germe. Pistilo germe quase ovado. Estilete fitiforme tortuoso, averdengado. Estigma oblíquo, compresso e alvo. Pericarpo, drupa mole de cor azul escura, de grandeza e feição de uma azeitona, encerrada pela base na corola, de cheiro e sabor balsâmico tirante ao do louro. Sementes: noz ou caroço da drupa, tênue, frágil e unilocular. Núcleo cor de rosa arroxeado, dicotilédone. A árvore floresce em fevereiro e março e novamente de junho a setembro (Auxiliador, t.9, p.7).

    Análise Química. Segundo análise do professor Vauquelin, a Canela tem óleo volátil, tanino, goma, sais de potassa e de cal. No Manual dos químicos, o Sr. Henry fez uma análise mais completa da qual resulta que a canella contém óleo acre volátil, resina aromática, matéria extrativa colorante, matéria que se extrai pela pressão, goma amido, fibra lenhosa, albumina, acetato e hidroclorato de potassa, oxalato, acetato e hidroclorato de cal.

    Propriedades. A canelleira é uma das mais precoces árvores do Reino vegetal porquanto casca, raiz, tronco, ramos, folhas, flores e frutos são objetos de comércio, de uso doméstico, de emprego medicinal, por darem águas cheirosas, cânfora, cera e óleos de grande estimação. A segunda casca da árvore vende-se nos mercados com o nome de Canella, constitui uma das mais ricas especiarias por ter sabor quente, aroma agradável, paladar picante que provoca a salivação. Vende-se em pequenos rolos ou cilindros compridos de seis a oito polegadas, delgados, fibro-lenhosos de cor amarela encarnada, dando um cheiro penetrante, suave e muito agradável. A Canelleira do comércio provém de árvores de três anos: extrai-se na primavera e no outono, quando se observa uma abundante seiva entre a casca e a madeira, o que facilita a extração; separa-se a epiderme cinzenta depois da extração feita, corta-se em lamíneas as quais, secando ao sol, enrolam-se em canudos. Todas as partes da canelleira se utilizam para a composição de xaropes, licores, essências e vinhos aromáticos. Os cozinheiros empregam os pós para numerosas iguarias, e os confeiteiros dão lhe o maior efeito possível com os pudins, cremes, pastéis e doces de ovos. Uma libra de Canella recente produz mais de três oitavas de óleo essencial, o qual foi tanto tempo o lucro privilegiado da Companhia Holandesa de Batávia. Além do óleo essencial obtido da casca da raiz, alcança-se uma espécie de cânfora em gotas oleosas que se coagulam em forma de grãos brancos. O óleo é transparente amarelado, volátil, deita um cheiro agradável de cânfora e de canella, tem um sabor vivo e receita-se como tônico e antiespasmódico em muitos casos de histeria e de atonia. A cânfora é muito branca e volátil, muito usada em medicina por ser mais pura, pois não deixa nenhum resíduo depois da combustão. As folhas dão pela destilação um óleo que vai ao fundo da água e que, bem preparado, torna-se transparente e amarelado, com cheiro de cravo – seu sabor assim como as propriedades são as do óleo da casca. Muitos práticos receitam o cozimento das folhas em banhos aromáticos. Obtém-se pela destilação das flores uma água odorífera das mais agradáveis, que serve para as iguarias e para algumas preparações medicinais. Dos frutos se extraem duas qualidades de substância: um óleo essencial semelhante ao óleo da baga do zimbro, misturado com cravo e canella; pela decocção, se obtém uma gordura espessa de cheiro penetrante, semelhante na cor e consistência ao sebo, da qual se formam paens como do sabão. Vende-se nos mercados com o nome de “cera de canella”, fazem-se com ela tochas e velas que dão uma luz sofrível e um cheiro agradável. Emprega-se a mesma gordura para fomentar as contusões e os lugares machucados depois da queda. Os perfumistas extraem da cera o que pode servir para a composição de vários cosméticos. Em medicina, a virtude aromática da canella é proverbial, um excelente remédio para emendar a dispepsia, a soltura de ventre, a clorose, comum nos vários casos de amenorreia, de catarro uterino, de anasarca, segundo a sua mistura com ferro ou com a salsaparrilha. O óleo da casca é, sobretudo, emenagogo. A água destilada convém para os convalescentes, auxiliando as forças da digestão de um modo gradual. O óleo das folhas é remédio para curar as cefaléias e para as purgações ativas da vagina ou da uretra. Trata-se de poderoso tópico para fomentar as partes atacadas de gota ou reumatismo. A madeira é muito procurada pelos marceneiros. Alguns curandeiros servem-se dos cavacos das tábuas cozidas para desvanecer a inchação das pernas, consequência de repetidas erisipelas. Prescreve-se o pó de canella com açúcar para provocar o suor, a urina, para tonisar o estômago, e impedir a acumulação dos gases intestinais. O vinho de canella é remédio muito acreditado para curar a hidropisia, administrando-se três cálices por dia. A tintura, o xarope, a água destilada, os pós, o cozimento dos frutos são outras tantas formas de receitar a canella como remédio tônico e antiespasmódico. Há poucos anos, fez-se uma acusação à canella vinda do Brasil de ser esponjosa e de ter pouco cheiro, porem do modo de sua cultura bastante desprezada porém os lavradores podem igualar a canella de Cayena, esta última provém da Ásia Cinnamomum ceylanicum,como a do Brasil. Basta cuidar melhor na cultura. “A canelleira dá em qualquer terreno e nasce igualmente de sementes ou de estacas. Os pés devem se pôr a meia braça de distância um do outro. Ao cabo de dois ou três anos, eles dão um só galho de dez ou doze pés de altura do qual se poderá tirar a canela, cortando-se na altura de três palmos do chão. Do tronco, brotam brevemente novos galhos bons. No fim de um ano, ao se deceparem, as canelleiras tomam pouco a pouco a figura dos salgueiros da Europa, sendo necessário aclarar a plantação à proporção que os galhos vão engrossando. A canella se divide em três sortes relativamente à figura e à qualidade. A melhor deve ser miúda, um tanto elástica, da espessura de uma carta de jogo, de cor amarelada e sabor suave, aromático e picante. Depois de seca, guarda-se a canela em lugares secos e arejados para a distribuir ao comércio. Cortam-se em varas de três a quatro pés que se juntam em fardos de duas ou três arrobas. Cada *** em bractas; os tais fardos se carregam nos lugares **.

 

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