Cajueiro

Acaju, Vacaju, Acajá-iba de Marcgrave, Acajaíba de Pison, Anacardium occidentale de Linneo, Acajuba occidentalis, Cassuvium pomiferum, Petandria Monogynia de Linneo, Família das terebenthinaceas de Jussieu, e das cassuvieas de Martius

Cajueiro

    História Natural. Folhas largas, arredondadas, de cor variada, um cálice com 5 divisões ovoides, corola de 5 pétalos reflexos, 5 estames, uma noz reniforme com invólucro carnudo. A. St´Hilaire descreve o cajueiro das costas do Brasil como uma árvore de tamanho mediano. Ele observou 3 espécies nos campos, sobre os quais diz que são reduzidos ao tamanho de arbustos. São estas espécies conhecidas em Minas e Goiás pelos nomes de Cajueiro dos campos e Cajueiro do mato. Emana do tronco dos cajueiros uma goma em lágrimas amarelas, compridas, semelhantes ao súcino. O fruto parece se com uma semente reniforme, contendo uma amêndoa fechada dentro de uma película celular. A noz de caju é sustentada por um pedículo carnudo, suculento, semelhante a uma pera de cor encarnada ou amarelo vivo, de sabor agradável e azedinho. Chama-se o pedúnculo “pomo de caju”.

    Análise Química. A goma do caju contém, segundo o Dr. Conselheiro Peixoto, princípios análogos aos da goma arábica. O professor Guibourt reconheceu que a goma de cajueiro dissolvia-se parte dentro da água, e outra parte parecia-se com a goma de Bassorá, quando a primeira assemelhava-se à do Senegal. Emprega-se no Brasil a Goma de Cajueiro para envernizar as madeiras. O fruto, segundo Mr. Richard, representa uma noz em forma de um rim, de cor cinzenta resplandescente; existe na película da amêndoa do caju um óleo acre cáustico, o qual oxida de repente a ferro; a goma de caju contém muito ácido gálico e porção deste encontra-se também no pericarpo. A amêndoa encerra em si óleo fixo, goma, açúcar, mucilagem e ela tem um gosto doce e agradável. O princípio cáustico provém do  pericarpo, envoltório formado por 2 membranas lisas, resistentes, juntas com tecido celular, cravado de aréolas cheias de um suco denegrido, viscoso, inflamável, de sabor estiptico. A análise do pomo de cajueiro fornece açúcar, tanino e porção grande de ácido málico. Do pericarpo, extrai-se não só o óleo cáustico, mas também uma matéria negra solúvel na água e outra matéria amarela que dá, reunida com álcool, um ácido particular. O óleo da amêndoa é mucilaginoso, quando o óleo que fornece diploe ou matéria esponjosa da noz é um vesicante poderoso.

    Propriedades. O Dr. José Agostinho Vieira de Mattos, na sua dissertação sobre o Anacardium occidentale, determina os usos do fruto de caju cujas propriedades igualam às do Anacardium orientale, conhecido dos antigos. O pomo de caju é refrigerante; faz-se com ele limonadas saborosas, um vinho gostoso e mesmo excelente vinagre (ver Simão de Vasconcellos, Notícias curiosas das cousas do Brasil, 1688). A amêndoa da noz de caju foi reputada afrodisíaca por Pison e Clusius. Ela foi objeto de particular estudo desde os tempos remotos e aceita como agente terapêutico nas receitas antigas de Parí, Hoffmann e Gratarola. O princípio cáustico do qual a matéria médica tira partido existe no óleo do pericarpo, o qual extraído com álcool e, mediante o calor pelo químico Chevallier, depois introduzido nos intestinos e sob a pele, segundo as experiências dos professores Breschet e Edwards, não causou dor nem sensação corrosiva. Porém, as indagações do Dr. Mattos patenteiam a virtude cáustica do óleo de pericarpo. É de experiência diária o abrir fontículos com o mesmo aplicado na pele por certo espaço de tempo. O óleo corrói a pele, levanta vesículas e causa ulcerações, do mesmo modo que os mais acreditados epispáticos.

Modos de administração: Prepara-se com o pomo limonada, vinho, licor; com a amêndoa, orxata; com a casca, cozimentos e, com o óleo, pomada vesicatória e linimento.

Cozimento. Casca da amêndoa, duas oitavas; Água, uma libra. Faça um cozimento para combater as aftas e as anginas mucosas, servindo de gargarejos adstringentes.

Linimento. Óleo de noz de caju, uma onça; Óleo de amêndoas doces, duas onças; Óleo essencial de terebentina, uma oitava. Faça para estimular as articulações e a espinha dorsal.

Pomada. Óleo de noz de caju, oito partes; Cera ou banha fresca, quatro partes. Possui as virtudes do Laureola para ativar a supressão dos vesicatorios, ela serve para destruir os calos e verrugas.

Soro de leite. Murray tirava partido da amêndoa em soros de leite contra a asma e para debelar os vermes (ver Murray, app.11. 227). A raiz do caju é purgativa e administra-se em cozimentos para clisteres. A goma soprada nas ventas suspende as hemorragias nasais, e sabe-se vulgarmente que a limonada de cajú é não só refrigerante, como também adstringente nas diarreias crônicas. Tem-se reconhecido, diz o Dr. Vicente Gomes da Silva, as grandes vantagens do sumo do caju na cura do gálico. Costuma-se dar o suco espremido de manhã e de tarde aos que se acham no tratamento mercurial. Quando se quer aplicar a resina de caju como vesicatório, esfrega-se sobre a parte uma porção e aplica-se um emplasto de pés de Burgogna, um décimo com a mesma substância. Este emplasto deve ficar aplicado durante 24 horas. Cura-se a ferida do vesicatório com a pomada de basilicum. Pode-se prolongar a aplicação deste vesicante conforme o efeito que se quer obter. Os Srs. Bally e Andral administram internamente a mesma resina de caju, na dose da sexta parte de um grão, até dois grãos, e observam que na última dose ele obra como os drásticos. Em algumas províncias do Brasil, chama-se o pedúnculo do caju “salsaparrilha dos pobres”, por ser o remédio vulgar que se receita contra o mal venéreo. É muito provável que os benefícios que nele procuram sejam devido à presença do tanino que o  pedúnculo contém. Muitos práticos servem-se do óleo recém-tirado da amêndoa para o dar internamente nos casos de reumatismos agudos ou bem o aplicam sobre partes contusas ou estiradas. Martius concede ao Anacardium occidentale de Linneo as mesmas virtudes e qualidades que A. St´Hilaire encontra no Anacardium officinarum Gaertner. O nome que as duas espécies conservam tem feito com que se abonassem iguais virtudes terapêuticas a cada uma delas.

 

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