Cabacinho

Momordica bucha, Bucha dos caçadores, Buxa de paulista, Purga de João Paes, Momordica operculata Linneo, Família das cucurbitaceas de Jussieu

Cabacinho

    História Natural. A planta cresce espontaneamente e encontra-se em Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. De flores de cor amarela, um fruto ovado seco, envolvido em uma carpela única, formado pelo tubo peduncular que, quando maduro, passa da cor verde à escura amarelada, guarnecida de espinhos grossos; o fruto não se divide em válvulas. O mesocarpo constitui-se de um tecido fibroso e forma no interior três cavidades contendo as sementes. O Sr. Joaquim Teixeira Duarte Sampaio deixou uma interessante memória sobre a cabacinha (ver Archivo Médico Brasileiro, p.223, T. 3): “a parte fibrosa do fruto, depois de seca, apresenta uma trama reticular, o que faz com que os paulistas dela se sirvam para bucha de espingarda, donde lhe veio o nome.” Esta planta é dicotilédona, anual, do gênero das momórdicas. Ela tem raiz ramosa fibrosa, caule herbáceao, prostrado e fistuloso, comprimento variável, grossura de uma perna de forma pentagonal; folhas singelas de pecíolos alongados, com nervuras inferiores volumosas; cálice monossépalo, ovário inferior separado da flor; flores miúdas.

    Análise Química. Nas folhas, diz o autor da memória, na raiz e nas flores não reside princípio algum análogo àquele que se observa no fruto quando se aproxima do amadurecimento; predomina só nelas um princípio adstringente, acre e alcalino. O fruto macerado em água dá um líquido de cor escura, de sabor amaríssimo e muito espumoso. Forma o dito líquido, com o subnitrato de chumbo, um precipitado branco que, exposto ao ar, torna-se amarelo. Obtém-se pelo sulfato de ferro, um precipitado gelatinoso. O álcool determina igual precipitado que se torna exposto ao ar em uma massa preta, brilhante, insolúvel nos álcalis. A infusão dá os mesmos princípios. A decocção dá uma substância particular; o álcool a frio extrai uma substância cristalina e a quente uma substância glutinosa. Esta análise do Sr. Joaquim Teixeira nos faz pensar que se encontra na dita planta a momordicina ou claterina, a qual, segundo as análises dos ingleses Hennell e Paris, encontra-se em vários indivíduos do gênero das momordicas e notavelmente no Elaterium. Braconnot encontrou igualmente na mesma uma matéria preta, uma extrativa, fécula e uma substância cristalizável. Porém, a análise química da Momordica bucha deu o seguinte:

                  1° Buchanina (substância cristalizável) livre e combinada

                  2° Resina amarela

                  3°. Tanino combinado

                  4°. Glúten com albumina vegetal

                  5°. Sais de base de potassa

                  6°. Várias substâncias indeterminadas.

O Sr. Joaquim Teixeira Duarte Sampaio fez das várias combinações da bucharina um acetato, um nitrato, um sulfato de bucharina.

    Propriedades. Diz o Dr. Meirelles (Revista Médica, t.1, p.7) que o Sr. Manso trazia os frutos da dita planta que crescem nos matos da província do Mato Grosso em abundância e que ele os recomendava como purgante drástico muito forte e como emético violento. O Dr. Martius assevera que se emprega nos curativos das hidropisias anasarcas, na clorose e nas amenorreias. O extrato do fruto é que serve para purgante. As sementes são também empregadas por alguns em forma de emulsão temperante, enquanto os frutos desenvolvem um violento efeito drástico. As aplicações que o vulgo faz desta planta, diz o autor dessa memória, são em forma de clisteres, fazendo um macerado de um quarto de fruto em água por espaço de doze horas exposto ao ar, coando-o depois, batendo com um rodízio até formar espuma, separando esta e repetindo a mesma operação por mais duas vezes. Esta dose é para um adulto. O Dr. Carreira diz que tem observado na sua clínica terríveis efeitos desses clisteres em enterites e mesmo peritonites funestas. Este caso ocorre quando se dão os clisteres sem regra alguma e que deixam a preparação do medicamento à gente ignorante ou malvada. Para uso interno, prepara-se um licor com quatro frutos privados de sementes e lançados em uma garrafa de aguardente de 21º, posta em digestão por espaço de 24 a 48 horas. Depois, administra-se a dose de 3 a 4 onças. O clister obra como violento drástico, acompanhado de dores agudas; o licor ocasiona as mesmas e provoca vômitos antes de obrar como purgante. Fazem-se também pílulas com o extrato,. Diz o Dr. Martius que oito grãos bastam para determinar copiosas dejeções alvinas, soltar as urinas. As preparações farmacêuticas de bucharina já foram administradas em Pernambuco pelo Dr. L. A. Mavynier. Eis a fórmula para 16 pílulas.:

                                           Bucherina pura                      1 grão

                                           Sabão medicinal                    12 grãos

                                           Amido                                    q. b.

Dá-se na dose de uma até duas por dia. Combina-se a Bucherina com outros agentes como o ópio, o álcool e constituem-se várias preparações:

Para formar 12 pílulas:       Bucherina                              1 grão

                                           Extrato gomoso de ópio        3 grãos

                                          Amido                                      q. b.

                                         Extrato de chicórea                 24 grãos

Faz-se dela em porções, em clisteres. A porção a mais conhecida é a seguinte:

                                        Bucharina                                  1 grão

                                        Álcool 32°.                                 1 onça

Empregam-se 24 gotas do alcoolato com água destilada 2 onças.

    Xarope de goma arábica           2 oitavas

    Água de flor de laranjeira         ½ onça.

Esta porção provoca abundantes evacuações alvinas.

 

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