Arachis hypogea Linneo, Amendoim, Manobi, Mundubi, Mandobi de Pison, Manobi de Lery, Família das leguminosas
História Natural. A raiz é fibrosa, cabeluda e com muitos tubérculos, cresce perpendicular ou bem deita-se em forma de S e penetra, então, horizontalmente na terra, de sete até oito polegadas. O talo chega à altura de dois pés; principia direita e singela, diz o Sonnini, e depois ramifica-se e engrossa, sendo a metade inferior redonda e de cor escura e a superior quadrada e de uma cor esverdeada. As folhas são alternas, compostas de dois folíolos ovoidos, dispostas sobre um pecíolo comum de duas polegadas. As flores são solitárias e desaparecem as flores machas depois da fecundação, e também as flores hermafroditas; porém, na base do pedúnculo que corresponde ao ovário, surge uma ponta aguda, a qual inclina-se sobre a terra, em cinco dias cresce e dá lugar a um bago de uma polegada de comprimento quase cilíndrico, que encerra duas ou três sementes encarnadas, da grossura de uma pequena avelã. Segundo Sonnini, a Arachides ou Amendoim, é oriunda da África, todavia os senhores Richard e Delannay sustentam que ela é indígena da América de onde foi tirada para as outras partes e, sobretudo, para o sul da Europa. O Amendoim existe abundante em muitas províncias do Brasil, vem por terrenos arenosos e ligeiros, por onde os bagos penetram e amadurecem com facilidade. O fruto não é tão saboroso ou agradável como o da amêndoa, o das avelãs ou os do pistache; dá um óleo precioso, límpido, inodoro, com sabor agradável e que fica melhor envelhecido. Hoje, o consumo do óleo do amendoim, do azeite de mundoby é vulgarizado no Brasil e no sul da Europa.
Análise Química. A análise química tem sido feita pelos senhores Payen e Henry (ver Journal de Chimie Médicale, t.1). O fruto contém 1° óleo gordurento, 2° casuim, 3° parte linhosa, 4° açúcar cristalizável, 5° fosfato de cal, 6° goma, 7° matéria colorante, 8° enxofre, 9° amido, 10° malato de cal, 11° óleo essencial, 12° hidroclorato de potassa, 13° ácido málico livre. A quantidade de óleo que contém o Mendubi existe na proporção de 47 por 100.
Propriedades. Lamarck e outros falam da virtude afrodisíaca do amendoim, e dizem que aquece ligeiramente e toniza os estômagos enfraquecidos. Guilherme Pison asseverava que o leite e a emulsão do amendoim torrado convinham muito bem aos pleuríticos e tísicos. Mr. Frèmont diz que a raiz da planta pode substituir utilmente a do alcaçuz. Sabe-se que as folhas são bom alimento para o gado, e que a parte amilácea que provém do óleo extraído é sustento para os porcos. O óleo de amendoim tem hoje uma grande extração em Marselha e Londres para a fabricação de sabão. O uso alimentar do amendoim é vulgar nas várias partes do Brasil, da África, da Espanha. Come-se com farinha de mandioca, fazem-se doces de várias formas e entre eles o pé de moleque, muito comum no Brasil. O emprego do óleo para a iluminação é igualmente vulgarizado em todo o Império. Os espanhóis juntam o amendoim com o cacau para tornar o chocolate mais seco e saboroso, porém os químicos Payen e Henry asseveram que a tal mistura é uma falsificação, pois o amendoim não contém nenhum dos princípios que se procuram na composição do chocolate. O Mendubi torrado é uma comida diária dos negros, que dele gostam muito. Em várias províncias do Império, preparam-se orxatás, licores com o amendoim. Sabe-se que a torrefação tira a parte acre que o fruto tem e o torna mais saboroso. Segundo o Sonnini, o amendoim equivale à batata, só que a sua cultura é mais trabalhosa por reclamar um clima quente e temperado e terrenos arenosos. Existem numerosas memórias acerca da cultura do amendoim: o Tratado de Sonnini, a Memória de Tessier são os opúsculos que merecem maior crédito. Dá-se o leite ou emulsão em colheres, e aromatiza-se com canela, água de flor de laranja, nos casos de dispepsia ou fraqueza dos órgãos gástricos. O óleo de amendoim serve para fricções em casos idênticos, nos quais se emprega o de amêndoas doces ou de oliveira. As sementes conservam por muito tempo a sua faculdade germinativa, pois se assevera que, por trinta ou quarenta anos, ainda se reproduzem. Os mouros costumam sustentar os cavalos e o gado com as sementes de mendubi. A sua cultura hoje nas costas da África é coisa grande que o Brasil, sem dúvida, poderia imitar. O Senegal exportou no ano de 1849 para a França cerca de dois milhões de Menduby e, nos quinze anos desde então decorridos, a exportação tem triplicado.