Meimendro

Josciano, Hyoscyamus Linneo, Pentandria Monogynia, Família das solaneas de Jussieu

Meimendro

    História Natural. Flores monopétalas, folhas alternas e axilares de um verde pálido, cálice quinquepartido, corola com cinco lóbulos e cinco estaminhas inclinadas, cápsula operculata. Encontram-se as duas espécies de Meimendro, negro e branco, nas províncias do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, segundo Martius que diz haverem sido trazidas da Europa. No norte do Brasil, há o Meimendro negro  espinhoso, que é oriundo da América e que tem idênticas virtudes medicinais das duas espécies oriundas da Europa. Esta última cresce ao ponto de representar um arbusto de oito a dez pés de altura, quando as duas outras espécies de Meimendro são plantas herbáceas de menor tamanho. As estaminhas são roxas na parte dos filamentos, as anteras amarelas e sucedem as flores; as frutas apresentam óvulos que contêm grande porção de sementes pretas.

    Análise Química. Segundo a análise de Kirchof feita em 1816, a semente contém um óleo gordurento e um pouco de resina; uma matéria extrativa com açúcar, porção de goma e alguns sais, porção de lenha de albumina e um princípio narcótico. As cinzas dão fosfato de cal, de albumina, silícia e óxido de ferro. No ano de 1820, o químico inglês Brande fez uma análise muito mais completa, análise de 101 sementes. Óleo gordurento 24,2; cera 1,4; resina insolúvel em éter 3,0; malato de meimendro, malatos de cal e magnésia, sais de potassa e de amônia 6,3; algumas parcelas de açúcar incristalizável, goma 1,2, bassorina 2,4; amido 1,5-5,1; albumina 4,5; matéria vegetoanimal 3,4; malato, fosfato, sulfato e Muriato de potassa 0,4; malatos de cal e magnésia 0,6; fosfato de cal e magnésia 2,4; fibra lenhosa 26,0; água 24,1; as cinzas contêm carbonato, fosfato, sulfato e muriato de potassa. A hiosciamina  encontra-se nas folhas e sementes do Meimendro; extrai-se com maior facilidade das sementes; é muito mais solúvel dentro da água do que dentro de outro solúvel chamado atropina, com o qual partilha várias qualidades. A hiosciamina cristaliza em agulhas sedosas, o sabor é acre e desagradável, é volátil e precipita-se pelo cloreto de ouro em uma matéria de cor branca amarelada.    

    Propriedades. O Meimendro fornece um poderoso agente, cuja matéria médica constitui um ativo veneno, o qual determina logo a embriaguez, o delírio e as convulsões. A ação tóxica é a mesma que a do estramônio e da beladona. Como medicamento, cumpre receitar o Meimendro tanto internamente quanto externamente com cautela e em fracas doses. Stork, pelas suas repetidas experiências, demonstrou os seus proveitosos benefícios para curar as nevralgias. Nas flegmasias da membrana íris, sobrevindas depois da operação da catarata, os bons efeitos do uso do Meimendro são evidentes (ver Trousseau, Matéria Médica, t.2, p.109). O Meimendro acalma a dor, dilata a pupila e impede as aderências da íris e a oclusão da pupila que se seguem às flegmasias do globo ocular. Alguns facultativos gabam o  Meimendro nos casos de hemorragias, porém até agora os efeitos são duvidosos. O  Meimendro é muito útil em aplicações externas para acalmar as dores, e a sua reputação a tal respeito é bem assentada. Empregam-se as folhas, o haste, as cápsulas, as sementes e a raiz. Esta última é reputada a menos ativa da planta quando se concedem as mais enérgicas virtudes às sementes. O Meimendro entra em uma infinita classe de receitas (ver Pharmacopea Universal de Jourdan, p.687, t.1). Como regra geral, administram-se internamente os pós e o extrato de Meimendro de 4 a 40 grãos por dia; o chá ou o cozimento se toma fazendo ambos com uma oitava por cada libra de água; para uso externo, aplica-se a tintura regular de 32 a 72 gotas e as doses podem ser maiores sem receio. As folhas frescas são excelentes para cataplasmas; o óleo que se extrai das sementes serve para linimento e para um unguento hemorroidal que contém juntos alcânfora e açafrão. Faz-se o xarope de Meimendro com as folhas e administra-se, para acalmar a tosse, meia onça até uma onça por dia nos casos de bronquites crônicas. O extrato é vulgarmente receitado em pílulas: a fórmula mais conhecida é a de Meglin, que se reproduz a seguir: “Extrato de Meimendro negro 1 oitava; extrato de valeriana 1 oitava, óxido de zinco 1 oitava. Faça S.a. 36 pílulas. Principia-se por uma e aumenta-se até oito por dia. A receita de Meglin é muito usada no curativo do teio doloroso e das nevralgias. O extrato de Meimendro entra na composição do Elixir antiespasmódico sendo a dose de meia oitava em sei onças de infusão de valeriana. O professor Hufeland empregava o Meimendro em todas as espécies de pneumonites, acompanhadas de tosse seca. Mesmo no estado agudo, receitava o seguinte hausto: meia oitava de raiz  de salepo; dissolva em água morna duas onças; junte duas oitavas de água de flores de laranjeira; cinco grãos de extrato de Meimendro; uma onça de Xarope de altéia. Dá-se uma colher de sopa de duas em duas horas.” Receita-se internamente a tintura alcoólica e tintura etérea. Os pós são igualmente usados, porém geralmente o extrato é mais abonado pelos facultativos. O óleo de Meimendro, que acalma as dores de cólica, de ouvido, de dentes e qualquer nevralgia intensa, entra nas receitas de vários unguentos do ungto populoum, do bálsamo tranquilo. Fazem-se colírios, emplastos, cataplasmas e banhos locais com a mesma planta. Também receitam-se linimentos, pomadas e colírios, e usa-se das folhas frescas como tópicos. Do cozimento feito com elas, recebem-se os vapores para acalmar as otites e odontalgias intensas. Os formulários são cheios de receitas a tal respeito e podem-se consultar com proveito as obras de Jourdan Pereyra, Bouchardat.

 

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