Marmeleiro

Mala aurea, Cydonia vulgaris, Pyrus cydonia Linneo, Marmelo, Família das pomaceas

Marmeleiro

     História Natural. Nas províncias austrais do Brasil, a cultura do Marmeleiro é vulgarizada, todavia encontram-se Marmeleiros em abundância nas chácaras do Rio de Janeiro, da Bahia e outras províncias do norte, o que justifica o que diz o P. Cazal (Corographia, t.1, p.76): que os marmeleiros também frutificam na zona tórrida. Oriundo de Cydono, na Ilha de Creta, hoje Cândia, o Marmeleiro foi objeto de grande estimação nos tempos antigos. Virgílio o elogia, “Aurea mala decem misi”. Os romanos empregavam sempre para perfumar as salas e quartos o aroma das frutas do Marmeleiro. Os modernos tratam o culto dos gregos e dos romanos sob o ponto de vista do bom gosto e da indústria. Plantam-se os marmeleiros nos quintais, nas chácaras, nos jardins e sítios para comer ou vender as frutas, ou na indústria, o que constitui hoje um grande ramo de lucro entre muitas famílias das principais cidades do Império. A árvore é um pouco tortuosa, de altura mediana; seus ramos são frondosos, horizontais, inclinados, cobertos de um coton fino, as folhas são pecioladas, ovadas, moles, de um verde escuro em cima, esbranquecidas e felpudas por baixo. As flores são belas, grandes, de cor branca misturada com rosa, sustentadas por um curto pedicelo, solitárias nas axilas das folhas superiores. Elas têm um cálice muito peludo, cinco pétalos redondos, vinte estames cujos filetes de cor rosa lilás, trazem anteras de ouro. As frutas são volumosas, quase redondas, cobertas de uma casca cítrica, lisa e pubescente, de forma mista entre a pera e a maçã. A cultura tem produzido variedades de marmeleiros e no Japão dá uma fruta maior e ovoida.

    Análise Química. Mucilagem de marmelo:

Carbono      45,43        45,93

Hydrogênio   5,12          5,23

Oxigênio     49,15        48,84

                  100,00      100,00

Cinzas do marmeleiro:

Potassa                    27,09

Soda                          3,01

Cal                            7,69

Magnésia                13,01

Óxido de ferro          1,19

Ácido fosfórico       12, 02

Ácido sulfúrico         2, 67

Clorueto de soda      2,57

Sìlica                         0,75       

                             100,00       (Souchong, Rep. Sc. t.24)        

    Propriedades. Os usos do Marmeleiro são comestíveis e medicinais. Para a medicina, servem os frutos, as sementes, as folhas e o lenho. Costuma-se partir em talhadas para secar a fruta que é pelugenta, amarelada, muito cheirosa, piriforme, de polpa coriácea, ácida, acre e aromática. Primeiro, tiram-se as sementes e a película. As sementes são angulosas, obtusas de um lado, pontudas do outro, achatadas de um lado, arqueadas do outro, luzentes e escuras por fora, brancas por dentro, muito mucosas, inodoras, de sabor doce e mucilaginoso; fornecem as sementes pela sua superfície abundante porção de mucilagem. Fazem-se conservas, bolos, geleias aromatizadas, xarope, água destilada, cozimento, looch, emulsão simples, segundo as receitas da Pharmacopea Universal de Jourdan para usos medicinais. Receita-se o xarope nos casos de escarras de sangue, nas diarreias crônicas, e quando há vômito tenaz; aconselha-se na dose de uma a duas onças por dia para adoçar as bebidas emolientes ou poções peitorais. Faz-se com marmelos um vinho adstringente para o curativo de hemorragias atônicas. Entra nos ingredientes que constituem a tintura de marte cydonisada; corrige-se com o suco do marmelo a força de certas resinas, da escamonea. As sementes dão uma mucilagem análoga à da goma arábica e assim servem para tisanas, emulsões e clisteres calmantes. Para colírios, a mucilagem das sementes é ótimo remédio. O lenho antigamente era empregado em cozimento para banhos locais nos casos de frouxos hemorroidais. O uso comestível dos marmelos é mais vulgarizado do que o medicinal. Antes de estarem maduras, condição que é tardia, as frutas deitam um aroma aproveitado para perfumar os armários de roupa branca. Os confeiteiros, os mercadores de perfumarias e cosméticos preparam os marmelos de tantos modos úteis e agradáveis que extensa é a lista de seus preparos artísticos. A geleia, o ratafiat, o doce chamado marmelada branca e roxa são de uso vulgar nas nossas mesas; os marmelos assados no forno com açúcar, cravo e canela lembram o comer dos antigos romanos que os serviam para sobremesa, cozidos unicamente com mel “Si tibi Cecropio saturata Cydonia melle.” “Ponentur” (Martial, t.13). Cozidos, os marmelos perdem o sabor áspero e picante que revela uma propriedade adstringente e tônica. Usa-se, nas mesas brasileiras, servir uma sopa de marmelos que é sadia e muito substancial. A cocção priva as frutas do princípio acerbo e desenvolve o princípio açucarado. O suco convertido em xarope torna-se assim tônico. Com ele se adoçam os chás de Erva cidreira e de Hortelã para animar as forças digestivas. Sendo preparado convenientemente por gente prática, não recorda substâncias carregadas de tanino e de ácido gálico. Para os convalescentes, a geléia de marmelo é o alimento mais usual e proveitoso e convém igualmente para os estômagos enfraquecidos das senhoras debilitadas pelas flores brancas ou qualquer outra enfermidade.

 

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