Maririçó

Bareriço, Capim-Rey, Sisyrinchium fluminensis Vellozo, Sisyrinchium galaxioides Bernardino Antônio Gomes, Sisyrinchium palmifolium Vicente Gomes da Silva,  Sisyrinchium bermudiana Riedel, Família das irideas

Maririçó

    História Natural. O Doutor Fancisco Freire Allemão referiu, segundo o exemplo do Dr. Martius no gênero Poarchon, o Maririçó, que Vellozo, Riedel e os dois Gomes haviam atribuído ao gênero Sisyrinchium. Eis a descrição da planta que nosso distinto lente de botânica publicou no Archivo Médico Brasileiro de dezembro de 1846: “Rhizoma tuberiforme, cilíndrico, vertical, tendo até duas polegadas de comprimento, e uma de grossura, pouco mais ou menos obtuso embaixo, subcarnoso e marcado de linhas transversais, aproximadas, que são as cicatrizes das folhas caídas, de cor açafroada, todo coberto de raízes fibrosas, roliças e longas. Este rizoma a que vulgarmente se dá o nome de Cabeça de Maririçó contém fécula e um suco amarelo e tem uma ação purgativa. Folhas ensiformes, reunidas no alto do rizoma, bifarias, alternadamente invaginantes; são levantadas chegando a mais de dois palmos de comprimento e a seis e oito linhas de largura, planas, com a nervura mediana proeminente nos dois lados e acabando em uma ponta longa e aguda, de um verde claro; caule ou antes pedúnculo axilar único para cada  florescência, elevando-se além da altura das folhas, comprimido, fistuloso, pouco ramoso, munido nas divisões de espatas ensiformes, invaginantes e persistentes, as últimas divisões terminam por uma espiga floral, cujo eixo é curto, cônico, revestido de brácteas, alternas e em número de vinte e mais, aproximadas e abarcando-se de modo que as de fora vão sempre cobrindo as que se seguem em oposição; são todas foliáceas, mais ou menos membranosas, agudas e persistentes. Flores solitárias na axila de cada bráctea, que se vão abrindo sucessivamente, de modo que raras vezes se verá mais de uma flor aberta em cada espiga; ordinariamente só 6 até 8 se desenvolvem abortando todas as mais. Cada flor tem um pedicelo de 10 a 12 linhas de comprimento, um pouco mais longo que a bráctea correspondente. O perianto é simples, supero, e profundamente partido em seis lacínias amarelas; três exteriores obovais, arredondadas, côncavas, levantadas, convenientes, formando como um globo e cobrindo os órgãos genitais; três interiores, alternas, menores, estreitas, quase pruduriformes  acuminadas; planas, eretas, e encostadas aos órgãos sexuais no botão, na flor aberta, são inflexas ou dobradas para  dentro primeiro e depois para cima, entre as duas curvaturas é uma depressão saciforme, e pela parte interna uma pinta purpúrea em cada uma. Estames três, alternos, eretos; filetes na base alargados e confluentes entre si e com o perigônio no resto livre; anteras lineares, basifixas, eretas, extrosas, biloculares; no ápice obtusas; na base emarginadas; no dorso, sulcadas. Células paralelas, abrindo-se por fendas. Ovário todo posto, subtrigono, subtoruloso, um pouco mais grosso superiormente e como truncado, trilocular; lojas pluriovuladas; óvulos biseriados, alternos, anatropos, axilares. Estilete do comprimento dos estames, tripartidos; as lacínias opostas aos estames, são sulcadas por dentro e por fora, tem uma quilha ou linha proeminente que é recebida no sulco dorsal das anteras, ficando com elas aglutinadas na flor aberta. Cada lacínia termina por dois pequenos estigmas plumosos, ou antes papilosos que se curvam sobre o cume das anteras. Todas estas partes são de cor amarela. A Fruta é uma cápsula oblonga, obtusa, trisulcada, torulosa, trilocular; abrindo-se pelo cume em três válvulas que se separam trazendo o septo no meio. As sementes são numerosas, biseriadas, horizontais; convexas no dorso, e na face angulosa; episperma rugoso, de cor trigueira; raphe lateral e proeminente, endosperma subcórneo; embrião reto, claviformes, basilar, radícula próxima ao hilo.

    Análise Química. O Maririçó contém uma matéria fibrocelulosa, fécula amilácea, e uma resina acre ou suco amarelo que precisa ser analisado para avaliar o princípio que determina a ação catártica.

    Propriedades. A fécula que se obtém, sendo bem lavada, se chama Tapioca de maririçó. É administrada internamente para curar as moléstias de pele quer venéreas, quer escorbúticas. Emprega-se a resina ou suco em clisteres como catártico nos casos de ataques hemorroidais. De ordinário, faz-se uso da tapioca de maririçó em orxatá e pode-se dar para comer duas ou três batatinhas assadas por dia. Para clister, misturam-se a fécula e o suco obtidos das batatinhas raladas e pisadas frescas com suficiente porção de água: um clister requer o emprego de seis a oito batatinhas. O cozimento das raízes frescas bem contusas e feroidas é um bom laxante. Na roça, costuma-se fazer um conivente de fedegoso e de Maririçó para curar as febres. As raízes de Maririçó, segundo Bernardino Antônio Gomes, não têm cheiro, mas possuem um sabor adocicado não desagradável e são brandamente purgantes. Da mesma extrai-se amido que passa por antiescorbútico. Os pós de maririçó ou orxatá purgativa gozam de grande crédito como purgantes domésticos, e as boticas do Rio de Janeiro as preparam com muita arte e as vendem diariamente a bom preço em razão da carestia  da goma de maririçó. Algumas irideas diz Martius, como a Vareta e a Botainha ou Maririçó do Campo, espécie de cypura, são de menor eficácia do que a acima referida.

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