Mapoan

Hippomane mancinella Linneo, Mancinella venenata, Família das euphorbiaceas

Mapoan

    História Natural. Árvore nem por isso rara na praia das províncias setentrionais, diz Martius no seu Tratado de Matéria Médica. Apresenta tronco de vinte a trinta pés de altura, casca lisa, cinzenta, espessa e leitosa, folhas guarnecidas de longos pecíolos ovais, pontudas, crenadas nas margens, alternas, de cor verde lustrosa por cima e mais pálida por baixo. As flores são dispostas em espigas encimadas; as flores masculinas acham-se aglomeradas em pacotes redondos; uma escama envolve cada raminho de flores e cada uma delas é composta de um perianto singelo muito pequeno e bífido por cima. O filete acha-se superado por quatro anteras didimas. As flores femininas encontram-se por baixo da espiga, perianto trifilo; ovário supero, estilete curto que se reparte em sete estigmas. Tem fruta ou drupa carnuda; caroço grosso, sulcado, guarnecido de pontos, com várias células contendo uma semente.

   Análise Química. O aroma da fruta assemelha-se ao do pêssego, porém dura pouco, evapora-se progressivamente e é substituído por um cheiro fétido. O suco contém uma matéria de cor amarela, óleo essencial, parte de estearina, tanino, ácido gálico, substância saponácea, goma, resina, porção de borracha, soda, gás hidrogênio carbonizado. A resina confunde-se com a de Guayaco (Análise de Ricord-Madiana).

   Propriedades. A resina, segundo Barham, é poderoso diurético. Ela tem sido igualmente empregada como remédio antivenéreo, porém sem resultados vantajosos (Ricord, Mémoire sur le mancénillier vénéneux, 1826). O farmacêutico L´Herminier  procurou curar a elefantíase com o extrato da planta e depois foi recomendada em pílulas para debelar os casos de hemiplegia, graduando as doses desde  doze grãos até duas oitavas. No Semanário de Saúde publicado em 1832 pela Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, lê-se um artigo do naturalista Germon que assevera haver curado úlceras cancerosas com o suco do Mapoan. O mesmo senhor, na sessão de 3 de fevereiro de 1837, comunicou à Sociedade de Medicina de Paris os mesmos fatos clínicos, dizendo que o suco produziu profunda escara, a qual caindo era substituída por uma verdadeira cicatrização. “Somos, diz o Dr. Merat, incrédulos a respeito de tudo que se conta acerca das virtudes da Mancenilia” (Merat, Dict. de Mat. Méd., t.7, p.358, 1846). Com efeito, possuímos documentos contraditórios sobre os terríveis receios que se deve ter a respeito do Mapoan, e suas virtudes terapêuticas são igualmete suspeitas. Tussac assinalou a irritação que provoca o suco tomado internamente (Jl. de botanique, 1813). O grau de energia que lhe atribuem fica mais que duvidoso depois das pesquisas de Ricord, de Cavenne e Rufz. O suco mata os animais na dose de uma onça, onça e meia para burros e cachorros. Ele conserva suas propriedades tóxicas durante seis meses, causa em fricção sobre a pele uma espécie de erisipela, faz cair os pelos. Porém, sendo absorvido não causa envenenamento, nem mesmo quando é introduzido com instrumentos picantes. As folhas que caem dentro dos rios não envenenam as águas como o povo acredita, pois as resinas não se dissolvem dentro das água correntes e o gado pode impunemente as beber. Barham, que em 1774 praticava a medicina na ilha da Martinica, empregava constantemente a resina em lugar da de Guayaco e asseverava tirar proveito dela por ser muito diaforética e diurética. O efeito do Mapoam parece igualar-se ao do acoerito, do rhus toxicodendron, administrado em doses pequenas internamente. Em maior dose o Mapoan provoca o envenenamento, segundo Orfila, a modo de obrar dos venenos narcóticos e acres, causando inflamação e depois perturbações profundas do sistema nervoso. Os vegetais mais usados para debelar a intoxicação causada pela ingestão do suco de Mapoan são, segundo Chisolm, o suco da Bignonia leucoxylon ou Quairaba de Pison, ou bem a emulsão de sementes do Nhandiroba scandens de Marcgrave, vegetal rico de albumina e que o Dr. Ricord recomenda como o mais eficaz.

 

 

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