Mangueira

Mangifera indica Linneo, Manga, Família das anacardiaceas

Mangueira

    História Natural. Manga indica, fructo magno reniforme, peroica simili, Putamine  Vellozo de Marcgrave, é árvore de cinquenta e mais palmos de comprimento, de quatro e mais de grossura, coroada de grande copa. O fruto é semelhante ao pêssego na formosura, de um gosto agradável. Há diversas variedades de cor e gosto; os que não sabem a resina e não são cheios de filamentos são buscados com preferência (Balthazar da Silva Lisboa). Os ramos são ornados de três ramalhetes. Tem grandíssima copa, por todos os ramos há flores miudíssimas, amarelas, esbranquiçadas (Jd. p.255, t.1). A mangueira foi introduzida no Brasil pelos portugueses que eram então senhores de Goa, de Malabar e outros lugares da Índia Oriental, de onde ela é originária. O capitão inglês Marshall foi que a levou em 1782 para as Antilhas. Muito antes, ela já prosperava nas províncias centrais e do norte, porém Gabriel Soares de Souza não lhe faz menção no seu Roteiro. Em 1798, existiam cinquenta e seis pés no Horto Público de São José de Belém, e foi em 1812 que o chefe de divisão Luiz de Abreu refere que no Real Jardim Botânico da Lagoa de Freitas existiam dois pequenos troncos. Segundo as informações que temos colhido, a Mangueira existe desde mais de dois séculos nos distritos litorais do Brasil. A cultura da Mangueira tem chegado ao ponto de criar infinitas variedades de mangas. As condições de sabor, de cor, de forma, de tamanho são modificadas segundo o modo de cultura. Contam hoje oitenta variedades de manga, segundo o que assevera D´Orbigny (Dict. d´Hist. Nat., t.7, p.754). Blume, na sua obra botânica, cap.193, t.1, descreve as vinte e quatro espécies que se encontram nas Índias, as quais contam muitas variedades, uma delas tendo quatorze. Jussieu reduz as conhecidas em São Domingo a quatro: a Manga verde, espécie de maior tamanho; a manga pequena, com gosto de ameixa, o caroço pequeno e pouco filamentoso; a Manga pêssego; a Manga abricó. No Brasil, observam-se as mesmas variedades e as mangas de maior estimação são as da Bahia e de Pernambuco. Nessa última cidade, conhecemos um horticultor que trata as Mangueiras como os Pessegueiros da Europa, mantendo as árvores em latadas, para conseguir frutas do mais saboroso paladar. Todas as multiplicadas variedades de manga referem-se ao tipo Manga da Índia, Mangifera indica Linneo. Esta árvore majestosa apresenta-se alta de quarenta a cinquenta pés, corpulenta, de copa muito frondosa, casca espessa, rugosa e cinzenta; folhas grandes, alternas, pecioladas, oblongas, inteiras, com nervuras horizontais, quase opostas, lisas, coriáceas, de cor vermelha clara quando se desenvolvem e depois de cor verde escuro de ambos os lados quando se acham desenvolvidas. As flores fixam-se sobre panículas terminais, de cor esbranquiçada;  pedúnculos com brácteas; cálice de cinco divisões que caem depois da florescência, com cinco pétalos lanceolados. Tem cinco estames oferecendo quatro filamentos estéreis; o quinto só tem uma antera que fecunda os gérmens do ovário superior, redondo, superado de um estilete fitiforme com estigma singelo. A fruta é do tamanho de um grande pêssego, ou maçã, ou laranja segundo a variedade da mangueira. A drupa é coberta das mais belas cores misturando o encarnado com o verde e o amarelo dourado e outras tintas mais escuras. A polpa é suculenta, saborosíssima, cheia de fibras presas a uma grande caroço. A noz ou caroço é monosperma e de tecido filamentoso, contendo uma amêndoa amarga.

     Análise Química. A fruta analisada pelo Sr. Avequin contém albumina vegetal, ácido gálico, tanino, amido, goma, ácido esteárico, resina verde, extrato composto de açúcar incristalizável, matéria extrativa, princípio colorante amarelo, manteiga, fibra lenhosa, água (Annales de Chimie, t.47).

     Propriedades. A incisão da fruta verde e o corte dos jovens ramos fornece uma resina líquida, de cheiro aromático e terebentináceo, e cáustica antes de amadurecer a fruta. Além de ser alimento saboroso das sobremesas, a fruta madura é remédio excelente para curar o escorbuto. Muitas pessoas acreditam que comer mangas é nocivo à saúde, mas podemos asseverar o contrário: é fruta de fácil digestão. O prático João Alves Carneiro, do Rio de Janeiro, come mangas na estação quando próprias em tamanho e porção. Afirma que seu exemplo bastaria para desvanecer os receios e as suspeitas de qualquer indigestão. O povo diz que, nos anos que abundam as mangas, as febres graçam, sobretudo as sezões. Cumpre declarar que a ocorrência das febres nos anos de grande colheita de mangas é devida unicamente à maior intensidade e duração dos calores, sendo essas as condições da temperatura necessárias para amadurecem as mangas que se acham em menor número nos anos de permanentes chuvas e de grandes ventanias de S. O. A ingestão das frutas recomendada aos escorbúticos procura a saída de uma erupção cutânea, uma vertoega impertinente que se desvanece logo. As folhas da Mangueira são boas para acalmar as dores de dentes. O suco da casca é adstringente. A casca, as flores, as raízes da mangueira se dão internamente em pós ou em cozimento nos acessos de tosse e de asma. A amêndoa da fruta torrada é bom remédio contra os vermes, e administra-se igualmente como adstringente nos casos de diarreias ou de gonorreias. A dose dos pós da amêndoa é de uma oitava. A resina em substância é de um escrópulo, e a tintura da resina obtida com álcool dá-se de vinte e cinco a trinta gotas.  Prepara-se com o caroço uma tinta que vale a de noz de galha, ajuntando-lhe qualquer óleo essencial para se manter boa. Come-se a fruta de variados modos segundo os países. No Brasil fazem-se doces, confeitos, com açúcar e cravo da índia. Em outras partes da América ou da Índia, come-se a fruta cozida ou salgada ou em conserva com vinagre. Deve-se dizer que a fruta é saudável, fresca, nutritiva e temperante. O aroma de terebentina que domina em muitas variedades de mangas faz com que ela obre como um excelente depurativo. A madeira, apesar de ser mole e branca, é de muita estimação na Índia para o serviço de queimar os cadáveres. Duas espécies merecem ser cultivadas no Brasil: a Mangifera foetida de Loureiro, árvore frondosa da Cochinchina, cuja fruta tem a forma de um coração, e a Mangifera laxiflora da ilha Maurícia, cuja drupa é globulosa. Ambas dão frutas saborosas.

 

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