Mandioca

Manihot utilissima Pohl, Juca amarga, Mandiiba, Maniba, Janipha manihot Kunth, Jatropha manihot de Linneo, Xylophillum arborescens de L’Herminier, Família das euphorbiaceas

Mandioca

   Caracteres botânicos. Linneo havia compreendido na familia da jatropha, a Mandioca, porém ela difere pela corola e pelos estames que são livres, em número de dez, dos quais são breves. Os botânicos Pohl e Endlicher deram-lhe o nome de Manihot. O arbusto que dá a Mandioca é notável pela grossura da raiz, branca, carnuda e guarnecida de tuberosidades, variando de peso e chegando mesmo a até trinta libras, cheio de um suco branco lácteo. Da raiz parte um talo reto, alto de seis ou oito pés, cilíndrico, nodoso, guarnecido na sua parte superior de folhas alternas, profundamente digitadas em três, cinco ou sete lóbulos, ovados, muito agudos, em forma de lança, um pouco ondeados nas margens, de uma cor verde escura na parte superior, inferiormente embranquecidas. As flores constituem espécie de cachos nas axilas das folhas superiores. Os cachos compõem-se de flores machas e fêmeas, as primeiras apresentam um cálice com cinco divisões, de um amarelo avermelhado, velosas no interior, com dez estames. Nas flores fêmeas as incisões do cálice são mais profundas, o ovário é com três linhagens muda-se em uma cápsula trilobar (ver Richard, Botânica Médica, t.1, p.24).

  História Natural. Esta planta, diz o Sr. Riedel, é bem conhecida de todos os lavradores e o modo de tratar vulgarizado. O singular capricho da natureza que reuniu um violento veneno com uma substância nutritiva tem dado uma grande fama a este vegetal nos países onde nasce. Procurando saber de onde a mandioca é originária, achamos que o Brasil reivindica a origem desta planta alimentar como a da Batata. Apesar de haver os viajantes Drake e Newport, encontrado a mandioca silvestre nas Antilhas, de ter o Américo Vespúcio visto servir do alimento nas Guianas, e de ter o Pedro Martin sustentado que ela era natural de São Domingos (Haiti), todavia, o sábio Moreau de Jonnés havendo comparado as denominações debaixo das quais se designa a mandioca e tendo analisado os vários modos de preparação que se seguem em diversas partes das Américas, diz que a mandioca é oriunda do Brasil, onde se encontra o maior número de variedades da planta. No tempo de Marcgrave contavam-se oitenta e três espécies, enquanto os índios galibis das Guianas só tinham conhecimento de seis ou sete espécies, os índios caraíbas de quatro espécies, e os indígenas de São Domingos unicamente de duas, no tempo da descoberta da ilha. Segundo Moreau de Jonnés as Cordilheiras dos Andes e sa limitadas comunicações que existiam entre os indígenas do sul América com os do norte e das Antilhas impediram por longo tempo a livre propagação da planta, ao ponto que quando se descobriu a América ela era conhecida só nas regiões colocadas entre o Rio da Prata, no sul, os Andes, na parte do oeste, e o Canal de Bahama, no norte (ver Archives des Découvertes).

    Análise química. A mandioca contém na sua raiz um suco que é um veneno violento. Segundo as experiências dos Srs. Boutron e Henry, parece ser o ácido cianídrico, este princípio venenoso sutil, volatiza-se com grande facilidade e destrói-se pela fermentação.

   Propriedades medicinais.  A mandioca fresca se aplica com utilidades sobre as úlceras. A raiz composta quase toda de amido, contém um suco lácteo de uma extrema aspereza, o que Firmin reputava o mais terrível dos venenos (Academi Berlin – 1764). O suco do Urucum é antídoto do suco venenoso da mandioca, e também a água de hortelã, o sal de absinto combate os seus perigosos efeitos. As raízes pisadas do suco, que é muito volátil, tornam-se um alimento salictifero. “Ninguém ignora”, diz o Sr. Riedel, “que as raízes são raspadas para se lhes tirarem a casca e depois raladas por um raspadouro circular, cujo eixo é posto em movimento por braços, por animais ou por água. A massa obtida pela operação de ralar sujeita-se a uma pressão forte para espremer o sumo ou leite em que reside o veneno. A massa tirada da imprensa vai então para a platina de barro ou de cobre encaixada em cima de uma fornalha, onde o calor a seca e lhe dá aquele aspecto de farinha grande e branca, com que aparece nos comércios e nas mesas. Para que esses grãos não possam aglutinar-se, remexe-se continuamente com uma pá de pau. Nas colônias européias o ponto de torrefação da mandioca é mais alto, de forma que toma uma cor dourada. No Maranhão e nas províncias do norte sujeitam a uma espécie de fermentação que lhe dá um sabor azedo e uma cor amarelada, então lhe chamam de farinha d’água. Parece-nos menos favorável ao estômago do que a preparada pelo modo usual, a qual é de fácil digestão, muito substancial, anti-escorbútica, ao ponto, ao nosso ver, de neutralizar os maus efeitos que o uso diário da carne seca e peixe salgado deveriam produzir.” O suco ou o leite da mandioca deposita uma substância ou fécula finíssima de grande alvura, muito parecida com o polvilho, se lhe tira do trigo. Esta fécula que toma o nome de tapioca é em sumo estomacal e peitoral, e faz-se dela um grande consumo por toda Bahia, e do Rio de Janeiro exportam-se a cada ano grandes porções para a Europa, e chama-se na França sagu branco. A tapioca apresenta grãos duros e pouco drásticos, misturada com água dá uma solução fortemente azul pelo jodio; não é inteiramente solúvel dentro da água fria como alguns dizem. Ela forma com a água fervente uma goma viscosa, muito transparente. Quando se deixa ferver a tapioca por muito tempo em uma grande porção de água, ela deposita um resíduo insolúvel que se precipita com facilidade. Este resíduo colora-se pelo jodio e examinada com microscópio manifesta uma matéria mucosa que não tem relação com os tecidos primitivos.

  Modo de administração. Fácil é reduzir-se a tapioca em geléias, em mingaus aromatizados; o seu uso nas mesas é para as sopas; e dá-se em caldos aos convalescentes. Com a farinha de mandioca faz-se pães e biscoitos, mais ou menos cozidos, de sabor gostoso. Os naturais das Guianas tiram dos mesmos pães de mandioca, quatro sortes de licor, fermentado e de agradável sabor. Em algumas províncias do Brasil já se tem ensaiado o mesmo. Os bijus são conhecidos desde o tempo dos padres da Companhia de Jesus e de uso geral sobretudo na Bahia. Os cataplasmas de farinha de pão, como se diz vulgarmente, são de uso diário em vários casos como tópicos emolientes. A mandioca curtida é boa para curar apóstemas postas como emplastro em cima das partes que sofrem até o abcesso abrir-se. É desta raiz, diz o autor da descrição da América Portuguesa em 1587, que se faz o carimá, que é proveitoso; curtida bem em água, posta a enxugar ao fogo sobre varas, três ou quatro palmos levantados sobre o chão, logo que estão bem secas. [falta uma página] duras tem grandes virtudes. Serve deste modo de contra veneno para curar as mordeduras de cobras. O carimá mata as lombrigas tomando-se desfeito em água. Esta mesma farinha feita em massa e posta sobre ferida velha a cura em pouco tempo. Os índios logo que se sentem doentes utlizam-se desta em caldos de farinha cozida e sem outro remédio convalescem. Os viajantes usam da mesma pelas picadas do sertão. A farinha do carimá mais grosseira misturada com a de pão mais grossa faz um misto que se chama de ‘guerra’ por ser o mantimento que nela se come e que serve de sustento aos soldados da terra e do mar.”

 

Carregando...