História Natural. A pátria da mamoeira ou do mamão, segundo Wildenow, é a Índia; porém Rumphius, R. Brown e o maior número de botânicos asseveraram que tem sua origem no sul América, de onde os portugueses o levaram para a Índia. A árvore apresenta um tronco em forma de coluna, que chega sem ramos até a altura de quinze pés e mais, cilíndrico, um pouco engrossado na base, coberto de uma casca pardacenta, assaz lisa, crivada em intervalos de cicatrizes causadas pela queda das folhas. Estas são providas de um longo pecíolo, espalmadas com sete lobos oblongos, geralmente sinuadas ou com lacínias, glabras nas suas faces, pontudas marcadas de veias proeminentes. As flores masculinas formam cachos compostos e axilares. Corola longa, amarelada branca, de tecido espesso e quase coriáceo; as flores femininas, sustentadas sobre pés diversos, formam pequenos cachos axilares, singelos, de poucas flores, corola cor amarelada, dividida em cinco lacínias oblongas e com cinco pétalas distintas. À medida que o ovário se desenvolve, as flores e as folhas tornam-se secas e sai a fruta, de baga ovoida, que se vê em uma parte do tronco inteiramente nua, apresentado suas cinco faces curvas ou gomos salientes. A fruta tem uma cor de laranja suja, cuja polpa é espessa de cor amarela pálida, com cavidade interna cheia de sementes numerosas e pretas.
Análise Química. O suco leitoso contém muita fibrina. Quando se queima, exala um cheiro amoniacal. Segundo o Dr. Holder, o suco leitoso separa as fibras musculares das carnes que são expostas ao seu contato imediato. O suco fornece pela destilação óleo concreto que parece o do *, carbonato de amoníaco, água, ácido carbonáceo, porção de hidrogênio carbonizado. Reduzido em pós, o suco dissolve-se em água; exposto ao sol ou ao calor, converte-se em geleia; precipita-se pela noz de galha em infusão e pelos ácidos minerais. O carvão é composto de alumina, magnésia, fosfato de cal. Segundo Mr. Cadet, o suco dá uma matéria cascosa muito copiosa, albumina e malato de cal (Annales de Chimie, t.49, p.251).
Propriedades. Come-se a fruta crua, assada, ou cozida. Alguns a comparam ao melão. O sabor é um tanto doce, porém bastante enjoativo, mesmo quando se tempera a polpa com açúcar. Em cataplamas, a fruta cozida cura feridas e chagas ulcerosas. Muitos professores reputam o suco da árvore e da fruta ainda verde um excelente anti-helmíntico. Descourlitiz, na sua flora das Antilhas, assevera que o mesmo suco é um poderoso cosmético para tirar as manchas da pele. A crença popular de se tornar a carne melhor de cozer e mais tenra com o contato das folhas do Mamoeiro é fundada sobre a observação e explica o hábito de certas províncias do Brasil e de outras regiões da América de embrulhar nelas periquitos, aves, pássaros. A água misturada com o suco amolece em bem pouco tempo a carne de vaca que se deita de molho. As exalações da árvore operam do mesmo modo. A carne amolecida pela imersão dentro de uma porção de água e de suco altera-se rapidamente, a tal ponto de se observar que a carne dos porcos alimentados unicamente com mamão fica impossibilitada de se salgar. As frutas maduras são suculentas e lubrificantes. Todas as partes do mamão são estimadas excelentes contra as lombrigas, sobretudo o suco. Todavia, as experiências de Corvisart para expelir a solitária tornaram-se baldadas. As sementes possuem um ligeiro sabor de pimenta. Receita-se o cozimento de sementes para facilitar a digestão e curar afecções histéricas. As lavadeiras fazem grande caso das folhas que dão muita espuma. As folhas são de uso diário para banhos emolientes. O melhor modo de administrar o suco nos casos de vermes consiste em deitar duas oitavas em meia xícara de chá quente da Índia ou de folhas de laranjas da terra. É preciso cautela com o leite da fruta verde que tem qualidades cáusticas e queima os beiços. No Brasil, existem duas qualidades de mamão, o da Ásia e o da terra. Muitos reputam o primeiro de melhor qualidade. O Carica proposa de Wildenow é uma variedade do Mamoeiro. Segundo Vellozo, o Carica papaya, o Carica mamaya são dois indivíduos de outra espécie, masculino e feminino. Pertencem ao mesmo gênero do Carica dodecaphylla ou Jaracatiá e o Carica digitata ou Allasia jobini.