Mamona

Carrapateiro, Bafureira nas possessões portuguesas da África, Ricino commum, Ricino Verde, Ricinus inermis, Ricinus vulgaris Miller, Ricinus viridis Wildenow,  Família das euphorbiaceas

Mamona

    História Natural. As espécies ou variedades naturais da África e da Índia Oriental são cultivadas no Brasil. Foram há séculos introduzidas pelos jesuítas que tanto promoveram a cultura das plantas úteis. A cultura é muito fácil: uma vez semeada, a Mammona cresce espontaneamente, em terra fresca e fofa e prefere, sobretudo, as imediações das casas ou das habitações, quer nas fazendas, quer nas mais humildes roças, mesmo ao redor das choupanas dos índios. O gênero Ricinus conta poucas espécies que, mesmo duvidosas, parecem mais variedades obtidas pela cultura e que se modificam segundo a natureza do solo e as condições do clima. Todavia, os botânicos descrevem 12 espécies: 1a Ricinus communis Linneo, o mais espalhado, de talos glaucos e vermelhos; 2a Ricinus inermis Jacquin, oriundo da Índia que se difere do primeiro por ter cápsulas lisas, condição ou caráter que perde muitas vezes pela cultura; os frutos guarnecem-se também de pontas assoveladas; 3a Ricinus viridis Wildenow, das Índias Orientais que tem as cápsulas de cor verde e lustrosas; 4a Ricinus lividus Jacquin, do Cabo de Boa Esperança, planta glabra, lustrosa, de cor verde púrpura; 5a Ricinus integrifolius Wildenow, árvore da Ilha Maurícia que se apresenta com vários talos; 6a Ricinus speciosus Wildenow, da ilha de Java, talos e frutos de cor púrpura clara. 7a Ricinus apelta, que Loureiro trouxe da China, arbusto pequeno. 8a Ricinus mappa Linneo, das Índias Orientais, folhas inteiras e abroqueladas. 9a Ricinus tanarius Linneo, folhas ovais, sinuosas. 10a Ricinus armatus Andruzi, que se cultiva na ilha de Malta, espécie hirsuta. 11a Ricinus dioicus Fontes, das ilhas do mar do sul, flores dioicas e cordiformes. 12a Ricinus tunisensis Desfontaines, espécie indígena do norte da África, muito alta, glauca e branca em todas as suas partes. O Ricino commum é árvore nos países tropicais que se eleva de um metro a dez de altura, planta, arbusto, árvore grande, segundo as localidades. O diâmetro do tronco varia igualmente de grossura. As folhas são alternas, largas, espalmadas, pecioladas, modeladas, lisas nas duas faces, porém mais pálidas por baixo, compostas de sete ou nove lóbulos desiguais, serridenteadas pelas margens. O pecíolo é cilíndrico, estriado, glanduloso, do comprimento das folhas, guarnecido na base de uma estípula caduca, glabra, membranosa, côncava, abarcante, aguda, deixando uma espécie de anel sobre o talo. As flores masculinas ocupam a parte inferior dos talos e dos ramos, são dispostas em uma espiga longa, ramosa e compostas de pequenas panículas quase em umbelas, guarnecidas de brácteas membranosas, muito pequenas. Os estames são levados por filamentos que se ramificam na base e formam uma massa grossa, globulosa. As flores femininas são numerosas, colocadas na parte inferior da espiga. O cálice é pequeno, de cor verde glauca, misturadas de purpúra. As frutas consistem em três casulos coniventes, ovais, guarnecidos de pontas assoveladas e compridas; cada casulo contém uma semente ou amêndoa; umbilicada por cima, lustrosa, malhada de estrias arruivadas na superfície.

   Análise Química. A semente contém uma resina amarga, goma, lenha, óleo gordurento, goma, amido, albumina e água (Jl. de Trommsdorff). A substância branca que contém a semente produz uma grande porção de óleo gordurento e doce que pertence ao perisperma, e as qualidades irritantes existem dentro do embrião. São duas propriedades medicinais muito diferentes que cumpre estudar por não serem confundidas: uma fornece o óleo purgativo excelente, outro é um bom vermífugo (Mémoire de Mr. Pepin, 1854). Segundo os químicos Bussy e Lecanu, o óleo de rícino bem puro contém óleo cheiroso volátil entre 100° a 150°; uma matéria sólida particular, 3 ácidos ricínicos, e laiodico e margárico, substâncias  devidas ao calor (Jl. de Pharmacie, t.13). A propriedade de dissolver-se o óleo dentro do álcool como os óleos essenciais, faz acreditar que ele representa um óleo volátil gordurento que reclama uma alta temperatura para se volatilizar.

   Propriedades. O óleo de rícino é suscetível de vários empregos nas artes, porém o uso mais importante é o que faz a medicina. As folhas são o melhor alimento do Bombyx cynthia. O verme se atraca ao parênquima e deixa os talos e as frutas da planta. No Brasil, Pison conta que se costuma untar os umbigos das crianças com óleo de rícino para provocar a expulsão das lombrigas (Bras., p.92). O Martius acrescenta que os frutos são aproveitados em toda a parte. O óleo espesso é purgativo doméstico e vermífugo de primeira ordem (Matéria Médica Brasileira). As folhas de mamona aplicadas nos tumores e inflamações cutâneas são refrigerantes; a casca da raiz é um laxativo, as sementes e o óleo destas são usados no exterior e interiormente como catártico. A fabricação deste óleo é muito conhecida e muito usada, porém ainda muito imperfeita; principalmente o que serve para iluminar pois é impuríssimo e deita uma fumaça muito prejudicial para o peito. O óleo mais puro e clarificado, usado nas farmácias, vem da Europa (Manual do Agricultor de Riedel, p.78). Provém, com efeito, da Inglaterra, a maior porção de óleo (castor oil) que se consome na capital do Império e nas principais cidades marítimas do Brasil. Houve já fábricas nacionais montadas com todas as melhores condições porém que não puderam continuar, por faltarem os meios e, sobretudo, as remessas regulares de produtos, coisa incrível em terra onde abunda o carrapateiro ou Rícino vermelho, o mais enérgico de todas as espécies. Nas roças e nos campos, emprega-se o óleo de rícino obtido por espremeção ou decocção, e costuma-se dar banhos emolientes, com o cozimento das folhas e frutas do Mamono ou Carrapato branco. O Carrapateiro Nhambu-guacu dos índios, figueira do inferno, nome que aliás se dá ao estramônio e outras plantas, o Rícino comum, diz o  Dr. Bernardo Francisco Justiniano na sua tese (Dissertação sobre algumas plantas indígenas, Rio de Janeiro, 1835), p.25,  que é muito conhecido entre nós pelo nome de Mamonas. Seu uso tanto em medicina, como na economia doméstica é muito antigo. Servem-se para iluminar as casas de seu óleo extraído por decocção em água das sementes previamente torradas; podem servir tanto as sementes como o óleo: as sementes podem ser comidas cruas em pequeno número,  sendo na maior parte das vezes seguidas de hipercartarso; ou dadas em uma emulsão convenientemente adoçada. O óleo de rícino pode ser empregado em fricções exteriormente sobre certos tumores para os resolver, ou sobre o umbigo dos meninos para produzir a expulsão dos vermes. Internamente dá-se na dose de uma a duas onças, podendo a dose ser elevada a mais, porém com prudência. Os poderosos efeitos são obtidos no emprego do óleo de rícino durante as epidemias de febre amarela e de cholera morbus, que desde 1849 assolam o Brasil administrando-o no primeiro período da enfermidade na dose de 2 até 4 onças para indivíduos adultos e fortes. Fazem parte de uma vez todas as questões suscitadas nas obras de matéria médica francesa, inglesa e italiana acerca das virtudes do óleo de rícino. Igualmente torna-se inútil relatar os vários modos de cultura controversas em Europa, os infinitos processos para obter óleos claros e purificados, pois no Brasil a planta cresce espontaneamente, e o produto indígena não se acha falsificado com a mistura de qualquer outro vegetal por ser barato o preço. Longe de nos declarar como o faz o Dr. Merat (Matéria Médica, t.7, p.628, 1846), que o emprego do óleo de rícino caiu com a medicina phisiológica de Broussais. Bem pelo contrário, declaramos em abono do óleo de rícino que é o mais poderoso remédio. Nos países tropicais, o médico receita-o para debelar as febres gástricas perniciosas, os casos de erisipelas, de febre amarela e de cólera. O melhor modo de administração, o mais singelo e que imediatamente causa dejeções alvinas copiosas é o de dar pela boca uma ou duas onças do óleo de rícino puro, lavando a boca primeiro com aguardente de cana ou da França, engolindo depressa o óleo e logo tornando a lavar a boca com outra porção de aguardente, que depois se lança fora. A ardência do álcool impede se sentir o sabor do óleo de rícino e de rejeitar pelo vômito. As misturas acostumadas que se praticam com café quente, chá da Índia, gema de ovo, caldos de galinha etc são suscetíveis de modificar o efeito do óleo pela natureza e porção de líquido provocam náuseas e vômitos. A emulsão de Mr. Miathe, feita com uma oitava de sementes secas, tirando previamente as cascas, provoca vômitos e dejeções copiosas Para modificar tão enérgico efeito, basta preparar a emulsão com duas outras sementes frescas em seis onças de líquido. O Dr. Parola diz que de todas as preparações do rícino como purgante, a tintura alcoólica é a mais igual e a mais segura, e a que conserva mais tempo suas propriedades.

 

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