Louro cerejeira

Prunus lauro-cerasus Linneo, Cerasus lauro-cerasus, Família das rosaceas, seção das drupaceas

Louro cerejeira

    História Natural. Os caracteres botânicos são: cálice campanulado de cinco divisões curtas e obtusas, caducas; flores em espigas axilares, frutas em drupas ovoidas prolongadas marcadas de um rego longitudinal de cor negra com verniz glauco. O Louro cerejeira, oriundo das margens do Mar Negro, dos lugares imediatos de Trebisonda, tem se naturalizado na Europa e nas várias regiões da América, servindo para ornatos de jardins com a sua folhagem constantemente verde, espessa e luzente. O arbusto tem folhas pecioladas pontudas, guarnecidas de alguns dentes separados nas suas margens espessas, coriáceas e luzentes em cima, perfeitamente glabras de ambos os lados, oferecendo duas até quatro glândulas sobre o dorso. As flores são brancas, dispostas em grandes cachos axilares, deitando aroma agradável, que se assemelha ao cheiro das amêndoas amargas. As drupas das frutas são ovoides, contêm um caroço liso, acabando com uma ponta aguda, pouco carnosa que se torna denegrida quando amadurece.

    Análise Química. Encontram-se nas folhas do Louro cerejeira óleo volátil, ácido cianídrico, tanino, clorofila, parte extrativa, princípio amargo particular. Pela destilação, as folhas fornecem um óleo volátil venenoso que contém grande porção de ácido cianídrico; este óleo, depois de purificado, se torna incolor e deita um aroma forte do mesmo ácido, dando um sabor amargo, acre e abrasivo. A porção de óleo fornecida pelas folhas varia segundo a estação nas quais são colhidas e, quando secas, perdem quase todas as propriedades. A água destilada de Louro cerejeira obtida pela destilação das folhas frescas contém, segundo a análise de Geiger, seis grãos de ácido cianídrico medicinal sobre uma onça de água. Conserva-se a virtude da dita água em vasos cheios e fechados com rolhas de cristal.

    Propriedades. Emprega-se em medicina a água destilada de Louro cerejeira. Certos autores asseveram que ela representa um veneno ativo, que basta uma oitava para matar um quadrúpede; outros asseveram o contrário, e reputam-na tão inocente que dizem poder receitá-la na dose de duas onças para qualquer enfermo sem provocar incômodo algum. Uma semelhante oposição de pareceres provém também do modo de preparação da água destilada, pois em um caso existe grande porção de óleo volátil, enquanto no caso oposto ela contém poucas parcelas. A água destilada assim como o óleo volátil, dados internamente, causam o envenenamento segundo a dose que se administra. O óleo essencial, segundo as experiências de Micholss (Dissertatio de Lauro cerasi) e as de Fontana (Traté du poison de la Viperè), é funesto e provoca os sintomas do envenenamento que se notam quando um indivíduo toma qualquer porção de ácido cianídrico puro para suicidar-se. A água destilada de Louro cerejeira hoje goza de grande crédito para debelar as congestões cerebrais desde a maior aceitação das idéias da escola italiana. Muito antes, Linneo havia aconselhado o Louro cerejeira para curar a tísica pulmonar. Krimer a receitava para livrar-se das afecções espasmódicas do peito e dos músculos do toráx, fazendo evaporar a água destilada na dose de uma oitava até uma onça, sobre um vaso quente e recebendo pela boca o vapor. Segundo Giacomini (Traité de Matière Médicale, trad. Por Mojon et Rognetta, p.130), fez-se uso por muito tempo em várias enfermidades do chá das folhas do Louro cerejeira sem preencher verdadeira indicação. O professor Borda receitou o curativo de uma pneumonia ativa com grande benefício administrando em lugar da sangria doses de água destilada de Louro cerejeira. Desde então, conseguiu curar numerosos casos de inflamações pulmonares, de reumatismo agudo e de angina, e o seu exemplo foi logo imitado pelos ilustres mestres Brera e Tomasini. Contra estimulante ativo, a água destilada de Louro cerejeira, administrada com cautela, diminui a ação vascular do coração e do sistema vascular desvanece as flegmasias. Fodéré publicou muitas observações notáveis em abono da virtude especial da mesma água destilada de Louro cerejeira para acalmar as palpitações violentas do coração. Depois, grande número de clínicos vieram gabar o seu emprego em várias flegamsias da uretra, dos olhos, em casos de enfarte de fígado e de vísceras abdominais, de tétanos e de hidrofobia. Hoje, a experiência clínica tem firmado os benefícios da sua administração nos casos de inflamações no cérebro, de cardites e nevralgias, como um verdadeiro remédio hipostenizante cardíaco. Não se corre o risco de receitar o remédio quando se regula a dose segundo a força de composição de água destilada de Louro cerejeira. O melhor modo para a sua preparação é de seguir a receita do Codex Farmacêutico de Paris. A dose varia de meia oitava a uma, administrada no decurso do dia. Eis a receita de Giacomini: duas oitavas de água destilada de Louro cerejeira e oito onças de emulsão de amêndoas doces para se tomar uma colher de sopa de hora em hora. Não se costuma receitar o óleo essencial por ser um medicamento infiel e dotado de uma energia violenta, não podendo se  administrar a não ser  com cautela na dose de três ou quatro gotas em vinte quatro horas, misturando-as com  qualquer líquido. Não se usa mais do chá nem do cozimento das folhas. Para acalmar as tosses nervosas, basta empregar a água destilada de Louro cerejeira em lugar da infusão das folhas. Faz-se a tintura de Cheston com quatro onças de folhas frescas, duas libras de água fervente e quatro onças de mel branco. Os formulários dão a receita do ceroto e da pomada do Louro cerejeira, a qual é uma mistura de óleo essencial com cera ou banha, uma parte de óleo sobre oito das outras substâncias.

Carregando...