Lacca

Croton lacciferum Linneo, Família das euphorbiaceas

Lacca

  História Natural. Arruda recomenda no seu discurso sobre a instituição de jardins a transplantação da Lacca, árvore da Ásia. Consta-nos que alguns ensaios já foram feitos nas províncias do Rio de Janeiro e da Bahia. A Lacca ou Croton lacciferum, chamado Arbor Ricinoides aromatica, na Flora de Ceylão, é árvore de ramos angulosos e ásperos. As folhas são ovadas, dentadas, pecioladas, aveludadas e felpudas. As flores nascem em espigas que acabam em grandes e pequenos ramos. As masculinas têm cálice de cinco divisões, cinco pétalas e quase vinte estames. Os frutos são pequenos, redondos, felpudos por fora e repartidos em três septos interiormente, cada um contendo uma semente igual à do cânhamo. A árvore destila das axilas dos ramos de onde se abrem as folhas pérolas resinosas, que se chamam goma lacca. Outras árvores fornecem a mesma goma tais como o Ficus indicusFicus religiosa e outros vegetais nos quais o inseto chamado Coccus lacca costuma depositar seus ovos, por serem os jovens ramos daquela árvore lactescentes. A goma que sai em resina liquidamente vermelha se converte logo em uma crista irregular e dura.

   Análise Química. Conhece-se no comércio três tipos de lacca: a primeira em pau, a segunda em grãos e a terceira em placas achatadas. A primeira é celulosa, irregular, de forma vermelha, de sabor adstringente, de cheiro agradável quando se queima. Ela se constitui, segundo a análise de Hatchett, de resina 68; matéria colorante 10; cera 6; glúten 5,5; corpos estranhos 6,5; perda 4,0. A segunda é goma tirada tal qual dos ramos em pequenos fragmentos.  Análise de resina 88,5; matéria colorante 2,5; cera 4,5; glúten 2; perda 2,5. A terceira espécie, a goma em escamas que é fundida com água fervente e depois preparada quando esfria sobre pedras lisas, contém segundo Hatchett, resina 90,9; matéria colorante 0,5; cera 4; glúten 2,8; perda 1,8. Esta espécie varia segundo a porção de princípio colorante que ela contém e conhecem-se três variedades no comércio de goma: loura, vermelha e escura. Mr. John diz que na terceira espécie se encontram 16,7 de um princípio particular que ele chama Laccina e alguns vestígios de ácido láctico.

   Propriedades. A goma laca foi outrora recomendada em medicina como tônica e adstringente. Hoje ela entra unicamante na composição dos pós para limpar dentes e na formação de lacre. Ela fornece uma rica matéria colorante, cor vermelho carmesim, que pode ser útil nas artes. Assim o entendia Arruda quando no seu discurso, p.26, disse: "do suco desta planta se nutrem certos insetos, assim como da Opuntia (Palmatória) se sustenta a Cochonila, mas aqueles, fazendo a digestão do suco da planta nos seus estômagos, o vomitam sob a aparência de uma substância gomosa, com que formam casulos nos galhos da mesma árvore e dentro deles depõem seus ovos. Esta é a tinta de que se servem os índios para tingirem seda e algodão tingindo-os com a cor encarnada. No tomo 7 da obra de Merat et Delens (Dictionnaire de Matière Médicale, t.7, p.190, 1846), refere-se que a Lacca  serve nas Índias Orientais para tingir as chitas e os tecidos de lã, a seda, o algodão, para o verniz e a composição de lacre. Costumam-se colher os galhos e raminhos da árvore Croton lacciferum. Deixam-se ao ar e ao sol e, quando estão bem secos, então extrai-se a goma que logo se limpa com cuidado. Este trabalho é nocivo, pois assevera-se que causa úlceras e feridas nas mãos. No Tonquim a Lacca é branca quando é fresca e colora-se e endurece quando está mais velha. É difícil acreditar que a Lacca que parece variar de cor e de qualidade sendo constantemente resinosa, seja assim devido às picadas e à secreção do Coccus lacca. Talvez outras e muitas espécies de insetos concorram para a sua produção. Em algumas regiões da Índia, acreditava-se que a goma lacca fosse produto natural de certas formigas, as quais pelo contrário parecem vir em cima só com o intento de chupar a goma. Precisa-se estudar a produção de tal goma e saber de cada variedade existente. A Lacca do Japão provém do Stigmaria verniciflua. Em Guatemala, a Lacca que se colhe corre em lágrimas piriformes, aglomeradas por vezes, menos vermelhas do que a goma indiana, e contendo o fragmento da larva. 

 
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