Guayaco

Guajacum officinalis Linneo, Decandria Monogynia, Família das rutaceas

Guayaco

   História Natural. Árvore muito alta, não indígena do Brasil, que provém das Antilhas. Seu tronco tem quase um metro de diâmentro, o crescimento é vagaroso a ponto de precisar de séculos para alcançar tamanho e grossura. As divisões dos ramos são muitas vezes dicótomas. As folhas são opostas, pinadas, com dois, três e mesmo quatro filas de folíolos sessilos, ovados, lisos e de verde claro. Todos eles possuem uma nervura que os repartem em duas partes iguais. As flores são de cor azul, pedunculadas, quase dispostas em umbelas no fim dos ramos. O cálice é de cinco lóbulos obtusos, a corola de cinco pétalas, os estames são dez e o fruto representa uma cápsula carnuda com dois septos; cada um dos septos encerra uma amêndoa suspensa no ângulo interno (Guibourt). O Guayaco tem uma uma boa madeira que se vende nos mercados onde pode ser visto em grandes tabuados, em cossueiras, ou em toras cilíndricas cobertos de casca. Esta última e as resinas que se extraem da casca e do lenho chegam igualmente da América para o comércio com a Europa. O lenho não deita cheiro sensível ao frio, porém quando raspado exala um aroma balsâmico e seus pós provocam espirros. A sua raspadura tem um sabor acre, cor amarela que se torma verde em contato com o ar ou a luz, ou bem quando fica exposta aos vapores do nitro. O lenho fornece um extrato gomoresinoso de cheiro balsâmico. Existem no mercado várias espécies de madeiras ou toras de Guayaco, as quais são provenientes das várias espécies de Guayaco:  Guayaco ou Pão santo, Guayacum arboreum de Candolle, o Guayaco do Chile etc. Encontra-se uma variedade com cheiro de Baunilha, outra que se conserva quase sempre amarela.

     Análise Química. A casca apresenta-se em pedaços achatados, muito duros, cobertos de uma crosta celular amarela e fungosa. O líber é amarelo, amargo e muito unido no interior. A casca fornece, pelo álcool, uma tinta amarela que não muda de cor pela ação do ácido nítrico, o que indica que a sua natureza resinosa é diferente da do lenho. Eis a análise feita pelo Trommsdorff, da composição do lenho e da casca do Guayaco:

                                                                              Lenho                  Casca

    Resina                                                                   26                      2,3     

    Extrato amargo                                                       0,8                   4,8

    Matéria colorante amarela                                      1                      4,1

    Extrato mucoso com sulfato de cal                        2,8                 12, 8

    Matéria lenhosa                                                    69,4                 96

                                                                                 100%                100%

A análise do Guayaco foi feita igualmente por Brande, renovada em 1805 por Buchotz e em 1828, por Buchner. A última é a do Dr. Ure.

   Análise de Brande                        Análise de Buchner                         Análise do Dr. Ure

Substância sui generis 91                Resina pura   79,8                           Carbono   67,88

Extrato de Guayaco        9               Fibra lenhosa 16,5                          Hidrogênio  7,05

                                  100                 Goma              1,5                         Oxigênio   25,07

                                                         Extrato            2,1                                         100%

                                                                               99,9%

A resina de Guayaco dá com álcool uma solução escura que pela mistura de água, esbranquece rápido. O ácido clorídrico determina um precipitado cinzento; o ácido sulfúrico um precipitado verde claro; o cloro um precipitado azul pálido. Segundo Mr. Unverdoben, a resina de Guayaco contém  dois princípios resinosos: um que é muito solúvel dentro da amônia aquosa, e outro constitui com este álcali um composto alcatroado que se dissolve só dentro de 6000 partes de água. Segundo o farmacêutico Thierry, o Guayaco contém um ácido volátil, solúvel dentro do éter, do álcool e da água, o qual difere dos ácidos benzóicos e cinâmicos.

    Propriedades. Na econômia e na indústria, a madeira do Guayaco tem grande extração para construir os moinhos de engenho de açúcar, visto a solidez da madeira. Outros destinos lhe dão para diversos usos nas tipografias, na construção de navios etc. O lenho, a casca e as resinas são objeto de grande comércio em todas as partes do globo. Hoje mesmo vende-se um óleo de Guayaco obtido pelo químico Deville com a destilação da resina. A resina que o químico Brande tem obtido com o ácido oxálico ele chama guayacina, vende-se em barris pequenos ou enrolados como se faz com o fumo. Antes da aplicação do mercúrio para curar a sífilis, costumava-se usar o Guayaco. Foi em 1508 que os espanhóis levaram o Guayaco para a Europa e o tornaram conhecido. Os índios haviam ensinado os bons efeitos contra o gálico, pelo uso que eles costumam fazer do Pau santo ou Pau divino, como então se chamava o Guayaco. Mais tarde, os negros tomaram o hábito de purgarem-se com o cozimento das folhas e de empregar o óleo contra a cárie dos ossos. O lenho foi reputado sudorífico e  entrou na lista dos quatro lenhos, cuja reputação é hoje vulgarizada. A resina foi reservada para curar o reumatismo, porém a tintura, diz o médico inglês Jowler, convém melhor para curar a gota, quer externa, quer interiormente. Segundo o Emerigon, duas onças de resina de Guayaco disolvidas em uma libra de aguardente de cana cura gota, tomando cada manhã em jejum duas colheres de sopa, e bebendo por cima uma cheia de chá da Índia ou bem um copo de água durante alguns anos seguidos. Desvees, médico de Filadélfia, prescreve a tintura de Guayaco para provocar a menstruação. Eis sua receita: resina oito onças, carbonato de soda três oitavas, pimenta duas onças, álcool uma libra, espirito de sal amoniacal três oitavas. Dá-se uma colher de sopa com cálice de vinho de madeira antes de jantar. Hunter gaba muito o uso da resina de Guayaco para a cura das úlceras sifilíticas. A tintura alcoólica de Guayaco serve para limpar a boca, consolidar as gengivas e acalmar as dores de dentes. O Guayaco é um poderoso agente para a cura da sífilis. Inúmeros fatos demonstram o mesmo nos casos de oftalmia rebelde por causa venérea, opera com rapidez e eficiência. Faz-se a tisana de Guayaco fervendo-o raspado doze onças, água três libras, até a redução da metade. Coa-se o decoto e tomar-se-á em seis doses, três por dia, uma de manhã, outra ao meio-dia e a última, à noite. Faz-se com a resina de Guayaco uma emulsão, tomando-se resina de Guayaco dezoito grãos, goma arábica uma oitava, água cinco onças. Depois da trituração, toma-se uma colher de sopa ou duas por dia. A tintura de Hatfield faz-se com Guayaco duas oitavas e meia, sabão branco duas oitavas e meia, álcool quatro onças. Dá-se uma colher de café em uma tisana nas afecções de gota e reumatismo. O elixir anti-gota da Ilha da França é composto de mirra, ulões e resina de Guayaco. As gotas dos jesuítas fazem-se segundo a seguinte receita: resina de Guayaco seis onças, sassafrás quatro onças, bálsamo do Peru duas oitavas e meia, álcool reclificado dois leires. Depois  de feita a composição, segundo Artem, administra-se cada dia uma colher de café em um copo de água com açúcar nos casos de gota ou sífilis.

 

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