História Natural. A planta apresenta os seguintes caracteres botânicos: cálice composto de cinco partes desiguais, curvadas lateralmente e persistentes. Quatro pétalos. Entre a corola e os estames acham-se quatro glândulas desiguais. Oito estames rodeiam o ovário, que é súpero, oblíquo e excentral. Os três estilos são espessos e coniventes. O fruto é uma cápsula periforme, mais ou menos trigona com três septos monospermos, abrindo-se em três válvulas naviculares. As sementes são envolvidas na base em um aríolo fungoso. (De Candolle). O Guaraná é árvore peculiar da província do Pará, produz-se em vagens, em cujo interior há um fruto útil do mesmo nome. Trata-se de umas amêndoas maiores que grãos de milho. Esta árvore cipó é provida de elos, as folhas são alternas ternas ou decompostas . Seus pecíolos algumas vezes azados são acompanhados na sua base de duas estípulas. As flores são brancas, guarnecidas de brácteas e formando cachos axilares, ramosos, na base dos quais encontram-se dois elos. O aríolo das sementes é de cor vermelha; a do fruto é semelhante à cor do cacau. Esta árvore encontra-se no alto Amazonas, e também é planta indígena das matas do Rio Madeira. Cultivada e exposta ao sol, forma um arbusto com os ramos mais ou menos dilatados. A semente é amargosa e um pouco oleosa; o arilo é avermelhado e o perispermo preto.
Análise Química. Mr. Dechatelus analisou o Guaraná e encontrou nele : 1°. Goma; 2°. Amido; 3°. Uma matéria resinosa de cor escura avermelhada; 4°. Uma substância oleosa colorida de verde pela clorofila; 5°. O tamino que colora em verde as soluções de ferro; 6°.Uma substância cristalizável gozando das propriedades químicas da cafeína. Antes da análise do Mr. Dechatelus, Mr. Batha havia descoberto no Guaraná um alcaloide ao qual deu o nome de Guaranine. O químico T. Martius, irmão do célebre do botanista, em 1826 fez a mesma descoberta e parece que este princípio é igual ao da cafeína descoberta pelo Oudry em 1827 e à cafeína descoberta pelo Liebig, em 1837.
Propriedades. Os índios Maubis, diz Mr. Riedel, que se ocupam da fabricação do Guaraná, secam as sementes ao sol para tirar o aríolo e socam-nas em um pilão até formar um pó fino, o qual misturado com água resulta uma massa semelhante à do pão. A esta massa, eles juntam algumas sementes inteiras ou quebradas e muitas vezes falsificam com amêndoas de cacau e farinha de mandioca. Estando tudo bem socado e amassado, formam paus cilíndricos, que eles secam no fogo ou na fumaça de suas choupanas. O Guaraná é duro e pesado, de um gosto amargo adstringente. Reduzido em pó, usa-se como sorvete refrescante, nutritivo e saudável. Os índios usam quotidianamente e mastigam a semente que é reputada poderoso febrífugo, pricipalmente nas febres malignas e podres muito frequentes nessas paragens úmidas ou inundadas. O arilo encarnado serve para tingir os dentes (Ver Agricultor Brasileiro, p.322). Os selvagens que habitam os rios Abacaxi, Comuna e Maré são famosos pelo fabrico do Guaraná. Os paus ou rolos se ralam com a língua do peixe Pirarucu, até a dose de uma colher de mesa, a que se junte açúcar em quantidade que adoce e tudo em meia camada de água, fica preparada a bebida. É extremo o uso que desta bebida se faz em toda a província do Pará, tomando-a muitas pessoas a toda hora e sem açúcar como os índios, sendo bastante amargo (Ver Diário de Viagem da Capital do Rio Negro nos Anos de 1774 e 1775, p.5). Os brasileiros, diz o Martius (Repertorium Buchner, t.30), empregam os rolos de Guaraná em pós misturados com açúcar em múltiplos casos, como estomacal, antifebril e afrodisíaco, nas afecções nervosas do estômago, do tronco coliaco que excita ou modera. Diminui os fluxos mucosos confortando o estômago e os intestinos. Ele acalma o movimento do coração e das artérias e aumenta os suores. Este valioso remédio é igualmente indicado quando sobrevém uma extrema sensibilidade na ocasião do acesso febril, no período de frio, nas agitações do corpo, nos sofrimentos da alma, nas vigílias contínuas, assim como nos casos de cólica, de anorexia, de timpanites, de hemicrania, de aridez de pele. O Guaraná é contraindicado na pletora dos órgãos abdominais, no estado saburral, na congestão cerebral. Ele provoca os desejos venéreos, porém suspeita-se que ele diminuí a quantidade de licor espermático. Tantas virtudes merecem ser examinadas. O Dr. Gravelle, que praticou uma série de anos no Rio de Janeiro e no Rio Grande de São Pedro do Sul, na notícia sobre a Paullinia lida perante a Sociedade Médica de Paris, em 1840, procurou avaliar as verdadeiras virtudes medicinais do Guaraná. “As moléstias em que o Guaraná produz efeitos salutares podem ser referidas a dois princípios distintos. Umas emanam da Asthenia como a acsites ou hidropsia passiva sem lesão viseral; com a clorose, a leucorreia, a inércia do estômago, a debilidade dos velhos. Obra o Guaraná como um tônico poderoso análogo às preparações de ferro, à quina e ao café. As outras dependem de uma irritação nervosa. Neste número, compreendem-se enxaquecas pleurodinias, tosses nervosas, dispneias asmáticas.” A ação mais verificada pelos clínicos é a do Guaraná no primeiro período da disenteria. Numerosos casos abonam o seu uso vulgarizado e tenho tido ocasião frequente de tirar bons proveitos de seu emprego no mesmo período de irritação da disenteria e das febres paludas e do tipo intermitentes. Desde mais de oitenta anos, o Guaraná foi levado para a Europa em um tratado de farmácia publicado em Portugal em 1780. Segundo o qual, “faz-se uso dos paus de cor de chocolote, chamados guaranás, do peso de quatro a oito onças para algumas enfermidades como sejam cólicas e diarreias de sangue, e que também servem para afugentar o sono. Tira-se desta produção interesse comercial; é mais um gênero de exportação.