Girofleiro

Caryophyllus aromaticus Linneo, Girofleiro aromático, Cravo da Índia, Eugenia caryophyllata, Polyandria Monogynia, Família das myrtaceas

Girofleiro

    História Natural. Eis o resumo de seus caracteres botânicos: cálice de cinco divisões, corola de quatro pétalos redondos, um pouco maiores do que o cálice, grande número de estames cujos filamentos capilares brancos, um pouco mais compridos que os pétalos e ligados exteriormente por uma orla quadrangular levantada, no disco da flor, trazem pequenas anteras amareladas, ovário inferior oblongo, colorido, coroado pela flor e carregado de um estilo singelo que surge do meio do disco quadrangular e côncavo, e acaba por um estigmate simples. O fruto é uma baga ovóida de cor vermelha denegrida; a semente é grossa, amarelada, composta de dois lobos sinuosos, postos um em cima do outro, de tal modo que as linhas que os separam têm a forma de um S (Encycl.).  O Girofleiro é árvore que se parece muito com o Cafeeiro, sua altura é de quinze a dezoito pés, tem a forma piramidal. Oriundo das Ilhas Molluccas, foi transplantado primeiro para a Ilha de Bourbon, depois veio em 1770 para Cayena de onde se propagou para o Brasil. No ano de 1786, encontravam-se 286 pés no Horto Público de São José de Belém. Em 1813, Luiz de Abreu trouxe uma coleção para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Os Craveiros, diz Sr. Riedel, são árvores delicadas que se ressentem do vento, do sol, da chuva. Elas gostam de terreno fundo, forte, úmido, e dão-se bem com a sombra de algumas árvores de maior porte e folhagem rara, qual a dos coqueiros, palmeiras etc. O Girofleiro tem as folhas opostas, pontudas; as flores são dispostas em corimbos que partem da axila dos ramos. O cálice é tubuloso e dividido superiormente em quatro lóbulos. Os estames são fixos sobre um anel carnudo e tetrágono. O ovário tem dois séptos, cada um contém vinte óvulos. O fruto é baga de única semente ovóida ou semi-ovóida segunda que se acha só ou dobrada. Os cotilédones são espessos e carnudos. “A cultura do Girofleiro efetua-se por sementeira ou estacas. Sua colheita principia ao cabo do terceiro, quarto ou quinto ano. Poucas pessoas ignoram que o produto resulta dos botões das flores, colhidos no momento em que os pétalos já avermelhados ainda não abriram, formando uma espécie de carapaça ou de cabeça de prego. Sacodem-se os ramos com varinhas ou canas, e os ditos botões caem sobre panos, esteiras ou sobre o chão limpo. Esses  botões vão depois secar ao sol, à fumaça ou dentro de estufas. É preferencial aos outros por ser aquele que melhor conserva o óleo essencial do Cravo. São precisos cinco mil cravos secos para inteirar uma libra, produto razoável que se deve esperar de uma cultura em ponto grande por cada pé; os botões que escapam dão uma fruta do tamanho de uma amêndoa, cheia de uma goma dura e escura, de sabor muito aromático; eles servem para a reprodução ou para se sasonar com açúcar sendo muito estomacais e antiescobúticos” (Riedel). Conhecem-se no comércio três principais espécies de Girofleiro 1° o das Molucas cujo comércio pertence hoje à Companhia Inglesa das Índias Orientais. Quase acinzentado na superfície, grosso, bem cheio, obtuso de sabor acre e ardente; 2° o Girofleiro de Bourbon é de tamanho menor, 3° o Girofleiro de Caiena, agudo, denegrido e menos aromático. Frei José Mariano Vellozo traduziu a Memória de Fourcroy sobre a cultura do Girofleiro. Nela se lê o paralelo do Girofe exótico e do crioulo.

     Análise Química. O Girofleiro fornece pela destilação um óleo volátil que pesa mais que a água, consistente, de sabor cáustico e torna-se corado pela ação do ar e da luz. O óleo torna-se vermelho repentinamente pelo ácido nítrico e cristaliza com os álcalis.  A análise do Girofe feita por Trommsdorff sobre cem partes fornece óleo volátil 18, matéria adstringente 17, goma 13, resina 6, fibra vegetal 28, água 18 (Journal de Pharmacie, 1815). Mr. Lodibert encontrou no Girofleiro das Molucas um princípio pouco solúvel ao frio dentro do álcool e fácil em cristalizar. Deu-lhe o nome de caryophyllina. O mesmo princípio observa-se no Girofe de Bourbon, em porção menor, porém não se acha no de Caiena. (Journal de Pharmacie, t. XI ). A essência do cravo, segundo as indagações de Mr. Ettling, é uma mistura de dois óleos, um igual ao das essências de terebintina, outro ácido que se chama ácido eugênico. Ambos se acham analisados pelo Dumas (ver Traté de Chimie).

      Propriedades. Os Girofleiros, quando empregados com moderação para os preparos das comidas, dão um agradável paladar e favorecem as forças digestivas. Constituem a melhor especiaria e sua reputação, desde o médico grego Paulo de Egina, é bem estabelecida. Extraem-se duas onças e duas oitavas de óleo volátil por cada libra de Girofleiro. Esse óleo essencial é epipástico quando se aplica sobre a pele. Internamente pode-se receitar na dose de dois ou quatro gotas em uma cheia de chá qualquer aromático como o de folhas de laranja da terra. Então estimula o estômago e cura as digestões laboriosas. Hildebrandt o prescrevia no caso de paralisias da língua e servia-se de um pedaço de açúcar refinado para fazer aceitar o óleo. A tintura alcoólica é receitada muitas vezes contra a debilidade de estômago, impotência, afecções histéricas, supressão das mênstruas. A opinião favorável sobre as virtudes do óleo essencial de cravo se manifestam nos casos de dores agudas de dentes sobrevindo depois de se apanhar ar úmido. Segundo o Dr. Vaidy, o óleo  convém para fomentar as partes paralíticas, para desvanecer as cólicas e acalmar a gastrodinia. Para combater a impotência, receita-se o Girofleiro do seguinte modo: Gengivre duas oitavas, açafrão oriental uma oitava, Girofe e almíscar até meia oitava. Mastigue três oitavas, ambas doze grãos, açúcar meia libra. Faça pastilhas s. a. e tome duas até quatro por dia. O Girofleiro entra na composição do alkermes de Florença, do elixir de gurus, do elixir odontológico e em muitos pós, pomadas cheirosas e licores aromáticos.

 

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