História Natural. Bem dizia o Sr. Riedel, que o feijão é vegetal que não carece nem de descrição nem de elogios. O Phaseolus vulgaris é o ponto de partida das variedades infinitas que constituem mais de sessenta espécies, todas indígenas da zona equatorial. Os talos do Phaseolus vulgaris são volúveis, glabros, trepadeiros, os folíolos são ovais e arruivados; pedicelos emparelhados, bagas pendentes, retilíneas, *olgadas bicudos; sementes ovoidas, ligeiramente compridas de cores muito variadas. Assim cultivamos no Brasil, principalmente as espécies seguintes: Feijão mulatinho, fidalgo, roxo, branco, corado, encarnado etc. Em muitas províncias, cultivam-se o Feijão preto, o Phaseolus derasus de Schrank; o Feijão carrapato, Phaseolus tumidus ou Sphericus de Savi; o Feijão de frade ou Feijoeiro fradinho, Dolichos monachalis de Brotero; o Feijão do Ceará ou Dolichos sesquipedalia Linneo. Encontra-se nas matas da Bahia e do Espírito Santo, um arbusto pequeno que os índios chamam Onaal, e os brasileiros, “Feijão do mato”. A Siliqua é grande, contém feijões muito saborosos, os índios botocudos costumam prepará-los torrados.
Análise Química. O Phaseolus vulgaris contém amido, água, legumina, ácido putico, matéria gordurenta, matéria animalizada insolúvel dentro do álcool, polpa, açúcar, fosfato de cal, de potassa, carbonato de cal, ácido orgânico. As cinzas fornecem potassa, soda, cal, magnésia, óxido férrico, ácido sulfúrico, ácido fosfórico, cloro e sílica. (Braconnot, An. de Chimie, t.24 ).
Propriedades. Sendo as espécies de feijões quase inumeráveis, as mais usuais entre os brasileiros são os feijões pretos, por serem mais sadios e saborosos, depois vem o Feijão manteiga, o Feijão fradinho e o Feijão espada, como os melhores para se comerem usualmente. O feijão, diz o Manual do Agricultor, p.52, acompanhado do toucinho e da carne seca, é alimento de que todos gostam e que faz a fartura da casa e da senzala. Os lavradores dão o mesmo nome vulgar de Pai da casa, por ser o prato quotidiano. Cultivam-se os feijões no Brasil desde os tempos da descoberta. Gabriel Soares os acha na Bahia em variedades infinitas: brancos, pretos, vermelhos, pintados, os quais se plantam com a mão, e nascem pondo-se-lhes a cada pé um pau por onde trepam. Cozem-se estes feijões quando secos e são saborosos. Enquanto são verdes, cozem-se com a casca como as ervilhas, e são muito estimados as bagens. A fecundidade do feijão é incrível nas terras do Brasil que são de boa qualidade; não é raro obter duzentos a trezentos por um. No distrito ou Comarca de Ilhéus, os feijões plantados nascem em cinco dias, e colhem-se maduros de trinta a quarenta dias. No Pará, os feijões e as favinhas precisam ainda de menor tempo. A sementeira tem lugar duas vezes por ano; a uma se chama da seca, e a outra das águas. A primeira se realiza em fevereiro, a segunda em setembro ou outubro. Conhece-se que o feijão está maduro quando as folhas se tornam amarelas e a síliqua quase seca. Antes de ser levado para o terreiro, cumpre deixá-lo bem seco. Uma vez posto ao sol e ao ar livre, deve-se bater e separar a palha a qual, queimada separadamente, fornece excelente decoada para o sabão caseiro. Os feijões são o alimento dos lavradores e operários, portanto os estômagos delicados devem acautelar-se contra o abuso de semelhante farináceo para não sofrer indigestão e flatulências intestinais. O Dr. Foy, no seu tratado de higiene, os recomenda para sustento dos que se dedicam a trabalhos duros e ativos e não para estômagos débeis ou gente indolente que se priva de ar e exercícios. Os feijões encerram uma fécula cujos grãozinhos não se assemelham aos da batata inglesa e do trigo; prepara-se com a farinha do feijão um pó que pode entrar na composição do pão. Com os pós, preparam-se saborosos mingaus e boas sopas. As sementes do Feijão da Espanha tingem ao serem misturadas com porção de bismuth e dão cor de carne e cor rosa quando se lhes junta o sal de estanho. Em certos lugares, administra-se o Dolichos trilobus Linneo como antifebril.