História Natural. A planta, diz Martius, oriunda da Ásia foi introduzida no Brasil. Ela tem duas espécies, uma com folhas brancas chamada vulgarmente Trombeta e a outra com flores roxas. A planta é herbácea com raiz cilíndrica, os raminhos são torcidos, guarnecidos de largas folhas e flores solitárias em forma de funil. O caule é direito, ovado coberto de espinhos agudos, as sementes são reniformes. A planta deita um cheiro narcótico e nauseabundo. Tem cálice tubuloso com cinco ângulos, cinco dentes profundos, corola grande infundibuliforme, cinco estamenhas, estigmato bilolado, cápsula com quatro repartições, flores grandes, pericárpio espinhoso, folhas ovadas e lisas.

   Análise Química. Segundo Virey , a planta fresca fornece fibra lenhosa 3,15; goma 0,58; extrato 0,6; fécula verde 0,64; albumina 0,15; resina 0,12; fosfato de cal e de magnésia 0,23; água 91,25; nitrato de potassa porção pequena; perda 1,28 (Chimie organique, Virey). A análise de Brandes, publicada em 1820, é muito mais completa. Malato de datura com açúcar cristalino 1,80; malato fixo com porção de clorofila 16,05; cera 1,40; resina insolúvel dentro de éter 9,90; extrato 0,60; matéria gomosa 6,00; goma com alguns sais 11,30; albumina e fitocola 6,45; glúten 5,50; malato de daturia, potassa e acetato de potassa 0,60; lenhoso 23,35; água 15,10; perda 1,95 = 100%. Extrai-se da planta um alcaloide chamado Daturina, cujas propriedades ativas, segundo o Vauquelin que o descobriu, são muito venenosas e igualam as da hiosciamina tiradas das sementes do meimendro. Também alcança um óleo empireumático da parte lenhosa da planta (ver Pharmacie de Soubeiran, t.2).

   Propriedades. A virtude do Estramônio consiste em entorpecer a sensibilidade e acalmar a dor. Ela tem sido gabada com especial recomendação no tratamento do * doloroso, do reumatismo e da nevralgia. Seu maior crédito é devido à asma esporádica, enfermidade cujos acessos violentos ela faz cessar como que por encanto, pois bastam dois goles de fumaça para fazer parar os incômodos e suspenderem-se os movimentos convulsos dos órgãos respiratórios. Stork assinalou as vantagens do extrato de Estramônio na cura das doenças as mais desesperadas da epilepsia. O seu uso desperta primeiro o apetite, depois determina ligeira cólica e diarreia. Continuando-se o uso do extrato, seguem-se comichão cutâneo, tremores, dores vagas e sonolência intensa. O Estramônio opera como um veneno narcótico acre (ver Orfila toxicologie, p.96). Os envenenamentos podem ocorrer por engano ao se pôr na comida as Figueiras do inferno, em vez de Maxixe, casos já observados no Rio de Janeiro e nos quais notam-se uma hilaridade e movimentos que depois tornam-se convulsos com demência. O uso das folhas de trombeta é vulgar no Brasil para cobrir as articulações atacadas de reumatismos, ou para servirem em banhos e cataplasmas. O emprego tópico do Estramônio é dos mais eficazes ao se usar as mesmas folhas cozidas e pisadas nas hemorroidas, úlceras cancerosas, na necrose ciática e nas queimaduras superficiais. Administram-se os pós, o extrato, a tintura de Estramônio. Os pós, em pílulas e extrato, se prescrevem para uso interno de um grão até doze. Usa-se da tintura meia oitava a duas oitavas em uma libra de líquido; porém, quando é para o uso externo, pode a tintura misturar-se com um linimento de óleo de amêndoas doces e assim tornar-se comum. Usam-se as folhas em cataplasmas ou simplesmente aplicadas quentes sobre as partes sofredoras. No caso de asma, dois goles ou três de fumaça tirada do cachimbo cheio de folhas bem secas, são suficientes para cortar qualquer de sufocação eminente ou asma convulsa.