História Natural. O Lichens escolhido pelo Acharius para constituir o gênero Roccella é o Lichens roccella de Linneo, ou Orzella das Canárias. Planta criptogâmica, imperfeita, sobre a qual o Dr. Felix de Avelar Brotero escreveu uma Memória em Lisboa, no ano de 1824. Temos no Brasil a espécie Montagnei, que cresce sobre o tronco das mangueiras, porém esta espécie não fornece tanta porção de matéria colorante como a espécie das Canárias que se encontra à beira-mar, sobre os rochedos. As Rocellas pertencem à tribo das Usneas. A verdadeira Orzella ou Ervinha, diz o Dr. Felix Brotero, em lugar da raiz tem um apoio nodoso, orbicular, aplanado, e raramente mais uns fios mínimos, com os quais sua base se agarra às pedras; não tem frondes, algumas radicais nem sobreradicais. Do seu ápice ou base nodosa, costumam sobressair muitas hastes aproximadas como em feixe, roliças, levantadas ou um pouco comprimidas, não ocas, pouco ramosas, de uma polegada até três de altura e,tanto ela como os seus ramos são de cor cinzenta alvadia, terminam em agudas pontas, às vezes denegridas; não se lhes divide as flores em estames, nem pistilos regulares, e só tem nos lados umas verrugas ou tubérculos alternos quase rentes, um pouco chatos por cima, farinhentos e alvadios. Essa planta é inodora, de sabor salgado e, por fim, levemente acre. Os gomos ou sementes são tão leves que os ventos os levam pelos ares e os disseminam por toda parte.
Análise Química. A planta contém soda, terra calcárea, alguma siliciosa, mucilagem, óleo e resina. A química tem extraído dela a Orsina, princípio colorante empregado com muita vantagem para a tinturaria. As outras espécies são menos ricas em Orsina, o que as faz menos procuradas, sendo a Rocella tinctoria objeto de grande exportação das Ilhas Canárias e do Cabo Verde para a Europa.
Propriedades. A Orzella é um Lichens fruticoloso, conhecido dos antigos. As mulheres romanas serviram-se da tinta dela para pintura do rosto.Os florentinos, no declínio do quarto século, acharam que ela dava mais viva cor purpúra para tingir. Eles maceravam a planta durante um mês em urinas, juntando-lhe no fim uma pequena porção de soda. Os tintureiros franceses metem a planta bem limpa em um barril, umedecem-na com urina velha, lançam-lhe salitres, sal marinho, sal amoníaco em pós, duas onças de cada um; deixam malhar quatorze dias, mexendo de quando em quando, exceto nos dois últimos dias. Depois lhe juntam quase meia * de urina velha, dois anatéis e meio de potassa em pós, e deixam em repouso esse misto durante oito dias. Passado esse tempo, de novo lançam-lhe igual porção de urinas, duas oitavas de arsênico em pós, e pouco depois usam tal mistura para as tinturarias. A Orzella serve para tingir lã, seda, algodão, várias castas de fios. Serve para os pintores darem cor aos mármores brancos, aos vinhos e licores, papéis, pastilhas, aríetes, sebos, ceras. O seus extensos préstimos faz com que ela jamais caia em desuso (Memória do Dr. Felix Brotero).